Prosper

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     Dou um pulo da cama, alarmado. Estou suado e meus músculos estão tão tensos que parece que terei cãibras. Arquejo, sentindo minha garganta gelada a ponto de doer.

     Tive um pesadelo muito estranho, mas não consigo me lembrar de como foi. Só sei que começou com uma explosão e havia muito sangue. Estou mais inquieto do que nunca, porque nunca tive um sonho mais real e mais forte do que esse, e sinto que algo nele me marcou.

     Levanto-me da cama e vou ao banheiro. Lavo o rosto e apoio as mãos na pia fria, olhando para o espelho. Por uma fração de segundo, penso ter ouvido um ruído estranho parecido com vidro se quebrando e um zumbido ensurdecedor ataca meus ouvidos. Cubro as orelhas e cambaleio até cair de joelhos no chão do banheiro, sentindo uma dor lancinante e inexplicável. Meus dedos agarram meus cabelos e eu começo a bater a cabeça na parede incontáveis vezes, tentando fazer com que esse barulho maldito pare de uma vez.

     Prosper..., ouço Eco sussurrar, distante. Prosper!, ela grita.

     Eco! Isso dói!

     As luzes do meu quarto e em seguida do banheiro se acendem e eu vejo a figura baça de minha tia se aproximar, cheia de preocupação. Estendo uma das minhas mãos para ela e ela segura, cobrindo minha testa com sua outra mão. Tento dizer-lhe o que estou sentindo, mas assim que olho para seu rosto, fico ainda mais atormentado. Os olhos de minha tia Beth estão amarelos e brilham de forma sobrenatural. Seus lábios se mexem de modo muito rápido, mas eu não ouço sua voz.

     E então o barulho em meus ouvidos repentinamente cessa e meu corpo fica meio mole, como se eu tivesse acabado de ser atropelado.

     - Tia Beth... - balbucio.

     - Oh, meu querido - ela me beija na testa e me abraça. - Está tudo bem, está tudo bem...

     - O que foi... isso...?

     Ela se coloca de pé e me ajuda e levantar devagar. Minha visão melhora e agora posso ver seu rosto nitidamente. Nada de olhos brilhantes amarelos. Deve ter sido coisa da minha cabeça.

     - Prosper, escute... - tia Beth segura meu rosto com as duas mãos. Seus olhos são muito parecidos com os meus. - Don e eu precisaremos sair por um momento. Preciso que você fique dentro de casa, tudo bem?

     Franzo a testa.

     - Mas... aonde vocês vão a essa hora?

     - É importante, querido. Faça o que eu pedi, certo?

     Assinto, confuso. Às vezes meus tios saem repentinamente de casa para resolver assuntos urgentes, que são sempre relacionados ao trabalho deles, mas isso nunca aconteceu durante a madrugada.

     É estranho demais.

     Definitivamente, concorda Eco. Pergunte a ela o que vão fazer.

     - Tia Beth... - começo a dizer e ela olha para mim. Quero perguntar um monte de coisas, mas não sei por qual delas começar. O que foi aquele barulho horrível em meus ouvidos? Por que seus olhos brilharam daquele jeito quando sua mão tocou meu rosto? Que palavras sem som foram aquelas que saíram de sua boca? Aonde você e meu tio vão?

     Como se pudesse ler meus pensamentos, tia Beth segura uma das minhas mãos. Seus olhos verdes estão muito sérios e de repente ela parece ter centenas de anos. Por um segundo, sinto que não a conheço tão bem quanto sempre achei que conhecia.

     - Confie em mim - é tudo o que ela diz. Então bagunça meus cabelos e deixa meu quarto, fechando a porta atrás de si.

     Sinto dizer, mas... ela está escondendo alguma coisa, murmura Eco.

     Acha que eu não percebi?, resmungo em resposta.

     O que foi aquela coisa que ela fez com os olhos? Foi arrepiante.

     Você também viu?

     Se você viu, eu vi, Prosper. Mas o que me intriga é o motivo pelo qual aquilo aconteceu. Você estava alucinando?

     Como é que eu vou saber?, rosno e volto para debaixo dos cobertores.

     Que é isso? Vai dormir?

     Tenho aula daqui a três horas, caso você não se lembre, suspiro.

     Mas os seus tios...

     O que quer que eu faça? Siga os dois?

     Eco fica em silêncio, como se consentisse.

     Não vou segui-los, rosno. É infantil pra caramba, Eco.

     Subitamente, uma dor aguda me atinge na cabeça e eu cubro as têmporas com as mãos. Grito e engasgo. Parece que meu crânio está sendo perfurado por uma furadeira.

     Em meio à agonia, vejo infinitos flashes de imagens que passam por minha mente numa velocidade que simplesmente não consigo acompanhar. São rostos de inúmeras pessoas - algumas eu reconheço, outras nunca vi na vida -, com as mais diversificadas expressões faciais e os mais variados tipos de olhos, cabelos e cor de pele. Rolo na cama, contorcendo-me e novamente bato a cabeça numa parede para tentar me livrar dessa dor horrível. É quase enlouquecedor.

     Então os flashes com os rostos param, substituídos pelo que parece o vislumbre de um sonho distante que sei que tive. Uma explosão. Homens altos e fortes vestidos de preto. Gritos e choro de crianças. Effy.

     Fico tonto e caio da cama, ofegante e gemendo de dor. Não ouço Eco, não ouço mais nada, apenas me arrasto pelo carpete até conseguir alcançar o casaco que deixei no cabideiro. Apoio-me em minha escrivaninha e coloco-me de pé devagar.

     Prosper..., sussurra Eco, distante novamente. O que... está... acontecendo?

     Saio cambaleante do quarto, determinado a encontrar o lugar que acabei de vislumbrar em minha mente. Nunca estive lá, mas, surpreendentemente, sei muito bem como chegar. É o lugar atingido pela bomba.

     É o lugar onde Effy está.

     





A Consciência de Ricky Prosper (VOLUME 1)Where stories live. Discover now