Amante de "Si Mesmo"

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Prazer!
É tudo o que ele quer.
E é assim que ele a enxerga:
Um meio para o seu próprio prazer.

Um meio para os seus próprios prazeres:
É assim que ele nos enxerga.

Precisa estar cercado de amigos
Que lhe fazem bem.
Quer ser bajulado,
Amado.

Regalos.

Ele se deitou com ela
Gozou prazeres!
Dormiu.
Nem passou pela sua cabeça
Se algum prazer ela sentiu.

"Ela não é uma boneca, amigo!
Ela é gente!
Isso não passa pela tua cabeça, não é?"

Isso não passa pela sua cabeça.
Que o amor é a satisfação
é uma via de mão dupla:
Dar e receber.
Ele recebe muito,
Acha que é pouco,
Mas dá menos ainda.

"Numa relação, não é apenas ela quem dá.
A coisa é mútua! Não vê?"

E ele vai buscar lá fora
O que julga não ter em casa
Porque não lhe dão.

E ele vai buscar lá fora,
Nos braços frios de um sexo industrial,
Em pulgueiro qualquer
Em um beco qualquer da cidade,
Alguém que, por alguns trocados
Lhe faça tudo o que ele deseja.
Ou no meio da noite escura
Na escrivaninha, na sua própria casa,
Naquelas mulheres de pixel
Sem cheiro, sem toque, sem cor
Sem amor.
Uma mão no mouse,
Cliques desesperados.
Não mais desesperada que a outra das mãos,
Que numa relação solitária,
Entre si e si mesmo
Invés de ele estar dando prazer a quem deveria amar
Ele dá prazer a Si Mesmo.

(E rimei "si mesmo" com "Si Mesmo"
Poque realmente é assim.
Parece que, na vida,
A única coisa que rima com ele
É ele mesmo.
E nessa busca,
Perdido em sua própria idolatria
Ele, a todos coisifica
Inclusive a si mesmo...)

Pudera,
Para ele, os fins justificam os meios.
Todas as outras pessoas não passam de meios
Para o tão desejado fim:
O seu próprio louvor,
O seu próprio prazer.

#Onde está o teu Deus?, De BrunoAnastacio

M-83 PoesiasWhere stories live. Discover now