Forço-me a manter os olhos abertos. Tenho que fazer alguma coisa. Pense Lorena, pense. Não posso morrer hoje. Não quero. Saia de cima de mim, tento gritar.
Estou com frio. É como se o calor aos poucos estivesse me deixando. Tenho que fazer algo. Mas o que posso fazer?
Estou ficando sem tempo. Sinto meus dedos adormecendo aos poucos. Formo minhas mãos em garras e arranho seu rosto com tudo. Ele se afasta, não por dor acredito, mas por surpresa. Acerto um soco no seu nariz, arrancando sangue. Levanto em um salto. Em menos de um minuto estou correndo.
A areia pesa, enterrando meus pés. Meio corro, meio me arrasto. Tento abrir as comportas de toda a energia que ainda sobrou em meu corpo.
Não é o bastante. Estou fraca de mais. Lenta de mais. Mas ele por outro lado, está mais forte. Meu sangue agora enche suas veias. Esbarro em uma muralha de músculos à minha frente. E caio.
Ele abaixa os olhos em minha direção. Um sorriso perverso ainda pinta seu rosto. Suas presas expostas em busca de uma vítima. De mim. A procura de um corpo quente ao qual possa se aconchegar e roubar todo o calor existente. O sorriso faz com que a onda de frio alastre-se ainda mais ao meu corpo. Sinto meu sangue congelar nas veias. Meu coração erra uma batida. E não me lembro de como falar. Gritar. Cochichar. Até mesmo grunhir parece uma tarefa impossível._ Aonde pensa que vai, linda?_ Diz, pronunciando a última palavra com extremo desdém.
Tento me afastar dele. Rastejando o mais rápido que consigo.
Ele agarra meu pé direito e me puxa como se não pesasse nada. Tento chutar seu rosto. Arranhar. Mas são todas tentativas frustadas. Ele abre novamente um sorriso ardiloso. Vou lhe matar, é o que diz. TENHO QUE FAZER ALGUMA COISA! Como? Como? Como? Como?A maior situação de risco que já corri foi quando tinha sete anos e tive que correr três quarteirões pra evitar que um Yorkshire me mordesse. Não sei lidar com situações assim. Ok, ok. Inspire. Expire. Inspire. Expire. Inspire. Mire. Expire. Chute. Ele se ajoelha urrando de dor. É, eu acho que vampiros também sentem dor. Dou um pulo e fico de pé. Acerto um joelhada em seu rosto e corro.
Ele é rápido. De repente já está na minha frente, agarrando meu braço esquerdo com força.
_ Filha da mãe!_ Xinga.
Vamos Lorena! Como se mata um vampiro? Por que não consigo me lembrar de todos aqueles filmes que assisti?
Vamos Lorena, você é formada em onze temporadas de Supernatural. Mas como vou arranjar um facão aqui? Oh, céus! Tenho que me concentrar. Merda! Merda! Merda!Ele me fita, mas seus olhos estão sem foco. Ele franze a testa. Um grunhido se ergue de sua garganta, seguido de uma tosse.
_ Que merda é essa?_ Tenta falar em meio aos engasgos.
Tosse de novo, dessa vez mais forte. Sangue começa a jorrar-lhe da boca. A areia sob nossos pés se torna rubra. Minhas sapatilhas já vermelhas, agora então... Ele solta meu braço e leva as mãos a garganta. E tosse. Engasga. Regurgita.
Ele está se tornando cada vez mais pálido. Um grunhido gutural escapa-lhe da boca. Parece que algo está queimando sua garganta. Como se um atiçador de lareira o estivesse perfurando. Pisco. Tento formular uma ideia. Será que devo ajuda-lo?
Ele se ajoelha na minha frente. Sangue escapa-lhe dá boca em rios. Olho para meu vestido, agora escarlate. Nunca vi tanto sangue na minha vida. Sinto o gosto da bile na minha boca. Não posso vomitar. Ele vomitando já está ruim o bastante por si só. Tento focalizar em alguma ação. Inspiro profundamente em busca de clareza. O cheiro... Céus! Dou um passo para trás. É agora. Viro para a direita e coloco meu jantar para fora.
_ Lorena... _ Sua voz, um sussurro sôfrego.
Limpo os lábios com as costas da mão e ando em sua direção. Faço o possível para evitar o sangue que mancha a areia.
_ Sua vadia louca, o que diabos fez comigo?_ Arqueja.
Franzo a testa. Como assim o que fiz com ele? Que eu saiba, a pessoa que foi ATACADA AQUI FUI EU! Suspiro.
Ouço um chiado suave. Ele arqueja em busca de fôlego e cai de costas na areia. Tento me aproximar. Chiado.
Estou ao seu lado. Está extremamente pálido. Um cheiro de putrefação se espalhando pelo ar. Tem outro odor, o qual não estou identificando. Tapo o nariz com um tapa, que faz com que minha pele arda e meu nariz doa com o impacto. Tem cheiro de.... Cheiro... Cheiro de carne queimada. Ele solta o que parece ser uma falha tentativa de grito.
Chiado. Engasga um ultimo gargarejo de sangue.Tento focar minha visão. Não vejo nada além de um corpo frágil na minha frente. Pele grudada a ossos salientes. Sangue por toda parte. Vejo uma pequena nuvem de fumaça se erguendo de sua boca e garganta. Chiado. Então ele estava realmente queimando.
Fecho a boca ao perceber que formava um enorme O. Sua garganta estava queimando....Tropeço em meus próprios pés. Caio quase enfiando a cara em seu cadáver. Minhas mãos se espalmam em seu peito em busca de equilíbrio.
Não parece o Leandro que conheci. Seus olhos estão arregalados e sem vida. Tento afastar a vontade de vomitar em seu corpo.
Sua pele está extremamente seca. Sua boca está aberta, como se em um último grito silencioso. Expiro. Nem notei que estava prendendo a respiração.
Chiado. Levo meus olhos em direção ao som. Observo enquanto um pequeno buraco se ergue de sua garganta, onde a pele foi queimada de dentro para fora.Rastejo insanamente tentando colocar o máximo de distância que posso entre mim e essa coisa. Levanto-me, e, quando percebo já estou correndo.

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Descendência
General FictionA passagem do tempo é uma ilusão. O futuro existe agora mesmo, e é tão imutável quanto o passado. É isso que a ciência afirma sobre o destino. Será que há destino? Será que já foi escrito por Deus ou existe tal coisa como livre arbítrio? As religiõe...