Plano mirabolante

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— Anna, você não pode me levar para a ala de hospitalar. Minha mãe disse que se ela soubesse que eu entrei nesse bosque mais uma vez, ela iria me proibir de cavalgar e vender o Eclipse.
— E para onde eu vo te levar, Lucas? Sua perna está sangrando muito e você pode ter uma hemorragia se não for tratado logo.
— Lá a gente pensa em algo, mas por favor, não me leva para a ala médica!— concordei e seguimos para o castelo. Deixamos os cavalos no estábulo e eu peguei o mapa do castelo.
— Se a gente entrar pela entrada sul, passar pelos corredores da cozinha e pegar a escada dos funcionários sem ninguém nos ver, podemos ir para o meu quarto e pedir ajuda à Lia.
— Tem certeza que isso vai dar certo!? Porquê vai ser meio estranho se nos virem entrando no seu quarto.— ele disse meu envergonhado.
— Por que?
— Ah, você entendeu...— ele corou
— Okay, okay, entendi. Mas essa é nossa única alternativa já que você se recusa a ir ao médico e se nos virem, que se dane.— falei rindo

Entramos pela entrada sul e por sorte todos os cozinheiros estavam ocupados fazendo o almoço real, ninguém estava nos corredores. Subimos a escada correndo, quer dizer, tendando correr, já que Lucas estava pulando os degraus da escada com um pé só. Chegamos a porta do meu quarto e bati:
— Amélia, abre logo essa porta, sou eu, Anna! Rápido Amélia...— ouvi passos de dentro do quarto e a porta foi aberta:
— Ah, Anna que susto, eu voltei pro quarto e você não estava aqui e nem lá embaixo e eu achei que...— ela finalmente enxergou Lucas ao meu lado, sem camisa— O que é isso Anna!?— entrei rápido no quarto e fechei a porta.
— Bom... Longa história, resumindo o Lucas se machucou feio e não pode ir a ala médica. Você conhece alguém de confiança que possa vir aqui e não falar disso para ninguém?
— Não, mas felismente eu entendo um pouco de primeiros socorros e essas coisas.
Amélia cortou um lado da calça de Lucas, acima do ferimento e retirou a camisa presa em sua perna. Foi no banheiro e voltou com uma caixa de primeiros socorros. Com cuidado, ela passou uma gase com álcool no ferimento. Ela pegou um comprimido e um copo d'água:
— Tome, vai fazer você dormir.—ela retirou uma agulha e umalinha da caixa de primeiros socorros— Isso vai deixar cicatriz, você tem certeza?
— Tenho, já passei por coisas piores. Uma vez eu fiquei preso numa caverna e demorou uma semana para eles me encontrarem...
— Agora entendi porque a sua mãe te proibiu de entrar no bosque, parece que você não aprende.
Ele tomou o remédio e em menos de 5 minutos já estava dormindo pesado. Amélia suturou o ferimento com cuidado e fez um curativo.
— Bom, senhorita, já são 10:30. Ainda vai querer conhecer o castelo?
— Acho melhor não. Vou ficar aqui com ele.— falei adimirando-o. Ele era realmente muito bonito. Alto, pele clara, cabelos negros como seu cavalo, olhos verdes e um corpo rígido e musculoso formado pelos anos de treinamento. Ele parecia um pouco comigo, embora sua gentileza e timidez o diferenciasse de mim. Tinha chegado aqui a pouco menos de um ano e havia feito 17 a alguns meses. Ele tem a marca da flecha na mão, é um jovem e belo nobre, assim como Alan... Com toda aquela confusão eu não tive tempo de pensar nele. O futuro rei do reino inimigo... Nós estávamos fadados a não ficar juntos, era um amor condenado. Ainda bem que acabou antes que eu me apegasse muito a ele. Não que eu não gostasse dele e ainda não goste, nós apenas estávamos destinados a ser inimigos e não amantes, cedo ou tarde iria acabar e quanto mais tempo durasse, mais difícil seria a separação.

Batidas na minha porta me tiram do meu devaneio. Levanto e vou abrir a porta. Era a Amélia:
— Senhorita, acho melhor você começar a se arrumar, já são 11 horas e você não deve se atrasar para o almoço.
— Sim, senhora, capitã!— falei rindo e me dirigi ao banheiro.

Tomei banho e escolhi uma saia rodada de cintura alta vermelha, com uma blusa mais curta com listras pretas e brancas e uma salto preto. Lia prendeu meu cabelo num rabo de cavalo e fez minha maquiagem. Olhei no relógio e já eram 11:50.
— E quanto a ele Amélia? Minha tia vai achar estranho ele não aparecer.
— A gente pode colocar ele deitado na cama dele e você diz a sua tia que ele estava com dor de cabeça e não pôde descer para o almoço.— Amélia sugeriu
— Okay, mas vamos logo, porque já está na hora do almoço.

Primeiro, Amélia foi ao quarto de Lucas e pegou uma calça e uma blusa para ele. Nós o vestimos e o arrastamos até o corredor. Chamei o primeiro guarda que eu vi:
— O senhor poderia nos ajudar, por favor? Ele desmaiou.
— Acho melhor levarmos ele para a ala médica.— disse o guarda
— Não, ele ultimamente está tendo esses desmaios. Ele já foi ao médico e ele disse que isso ocorre  quando ele fica muito tempo sem comer. É só colocá-lo na cama e esperar ele acordar, mas eu não sou muito forte como o senhor pode ver, então você poderia me ajudar a levá-lo ao quarto dele por favor?
— Se você está dizendo, tudo bem...— disse o guarda enquanto pegava o Lucas dos nossos braços.

Após deixar meu primo em sua cama, o guarda fez uma reverência e saiu. Nós o cobrimos com seus cobertores e eu deixei um bilhete em seu criado-mudo dizendo: "Você não acordou a tempo do almoço. Disse a sua mãe que você teve enchaqueca e pedirei que tragam o seu almoço aqui no seu quarto, beijos -A"

Cheguei ao almoço levemente atrazada. Pedi a uma empregada que levasse o almoço do Lucas em seu quarto e comuniquei a minha tia que meu primo havia me pedido para lhe dizer que ele estava com uma enchaqueca muito forte e por isso, não pudera dar a graça de sua presença.

Após o almoço, fui ao quarto de meu primo e o encontrei deitado com alguns papéis.
— E aí, você está bem?— perguntei sentando em sua cama
— Já estive melhor, mas tudo bem... Eu não vou morrer.
— Você sabe que vai ter que andar hoje, né? De tarde, na minha apresentação aos súditos e na chegada dos moradores de Warisland. Você acha que consegue?
— Foi só um cortesinho, Anna, eu vou ficar a maior parte do tempo sentado mesmo...
— Um cortesinho? Lucas, foi um corte profundo perto da artéria femoral. Você podia ter morrido...
— Mas não morri, não foi? Estou aqui. Graças à você.
Me levantei e sentei próximo a ele, que já havia acabado de comer.
— Eu não consigo parar de pensar no que aconteceria se eu tivesse chegado um pouco depois. Soa estranho para você? Quero dizer... eu me preocupar tanto com você, mesmo só tendo te conhecido hoje?
— Não, eu também me sinto próximo de você, é como se nos conhecêssemos a anos...

A herdeira do arcoOnde histórias criam vida. Descubra agora