Tomei um banho bem mais demorado do que o normal, ordens de doutor Gustavo.
-Não. Eu não senti saudades ainda! -Digo para o Gustavo, que está do outro lado do país, falando comigo por telefone.
Ainda me ensaboo (Não repare. Somos assim mesmo).
-Que cruela! Você ao menos poderia ter ligado mais cedo. -Ouço sua voz sair do aparelho celular, que está alto o suficiente a uma distância.
-Eu sei, mas me ocupei e não tive tempo.
-E BH? É mesmo bonita? -Ele pergunta. E sei que espera um não.
-Incrível. Se pudesse, jamais sairia daqui. Jamais! -O provoco.
-Sei... -Ele murmura. -E quanto a família? Eles foram legais com você?
-Mais ou menos. O pai do senhor Velasco é bem rabugento, mas em compensação a mãe é uma fofa. Ela disse que sou maravilhosa. -Digo.
-Não duvido. Você é mesmo. -Ele diz. -Preciso desligar. Meu plantão começa em dois minutos.
Desligo o chuveiro.
-Beijos, Guto. Estou com saudades. Se cuida.
Desligo o telefone e me enrolo na toalha. Abro a porta do banheiro e encontro Henrique. Sentado na cama.
Arregalo os olhos e tenho de segurar a toalha mais firmemente.
-Quer voltar pra casa? -Ele pergunta sério.
Meu coração quase para.
-Saia daqui! -Grito, não tão alto para ser um escândalo. -Está maluco? Como você entra sem ser convidado?
Henrique se levanta.
-Eu moro aqui. E além do mais, você não faz meu tipo. -Ele esboça um sorriso irônico. -Pare de se achar demais, doutora.
-O que está fazendo no meu quarto? -Pergunto.
Ele anda pelo ambiente.
-Iria vir pedir desculpas, mas desisti. -Ele pega um dos livros.
-Que bom. -Digo e pego o livro da sua mão. -Agora saia.
-Vai me dizer se quer voltar pra casa? -Ele volta a perguntar.
-Olha, não sei qual é a sua, nem seu problema comigo, mas estou a serviço. Pode me tratar como quiser, não sou a sua empregada! Fui contratada pelo seu pai e você não vai atrapalhar meu emprego, seu mimado! -Digo ferozmente.
-Uau! -Ele dá um sorriso cínico. -Ouvi dizer que as amazonas eram mulheres valentes, mas não pensei que fossem assim.
-Vá se danar! Não me importo com o que você acha! -Digo, agora alto suficiente.
Ele me encara sério. Arfo, ainda mantendo a mandíbula trincada. Ele estreita os olhos mais ainda. Um arrepio percorre minha espinha.
-Vai me responder? -Ele dá um passo mais próximo. -Quer ir?
Dou um passo a frente, o encarando mais sério ainda.
-Não interessa! Estou aqui a trabalho! Você não vai se livrar de mim tão fácil assim! -Digo. -Se é essa a sua intenção...
-Você não me conhece, doutora!
Ele chega mais perto, sinto sua respiração quente me atingir. Henrique está a menos de um palmo de distância!
-Nem você me conhece, cowboy! -Provoco.
Ouço uma risada oculta do fundo da garganta dele, e seu sorriso, vagarosamente se mostra, mas os olhos ainda são de predadores! Ele se inclina. Meu coração pulsa. Chega mais perto. Permito. A eletricidade entre nós nos puxa. E mais... e mais... Sinto sua respiração se misturar a minha é já nem sei de quem é qual!
De repente, a porta se abre inesperadamente. Me afasto dele rapidamente e noto quem entra.
-Meu Deus, ouvimos os gritos! -Diz Cristina. -Não sabia se vocês já haviam partido para o tapa. Vim o mais rápido que pude.
Cíntia vem logo atrás dela, e Hector após.
-Henrique o que faz aqui? -Seu pai pergunta.
Vejo Henrique fica um tanto tenso e puxar bastante ar para os pulmões. Cristina vem até mim. Ainda estou enrolada na toalha e jamais imaginei que pudesse ficar tão constrangida através da carreira que segui.
-Você está bem? -Cristina pergunta baixinho.
-Sim. -Respondo no mesmo tom.
-Diga, Henrique! -Hector volta a perguntar. -O que faz no quarto da doutora Helena?
-Nada. Eu apenas vim me desculpar! -Ele diz, querendo apaziguar. E olha para mim, com um olhar feroz de quem diz "é tudo culpa sua!".
Hector continua avaliando o filho com um olhar severo, e Henrique mantém a compostura sem se deixar abalar pelo olhar do pai.
-É verdade, doutora? -Hector pergunta.
-Ahn... -Foco nele, deixando Henrique de lado. Sr. Velasco ainda espera minha resposta. Olho para Henrique. Ele abaixa o olhar, acha que vou desmenti-lo. Mas não farei! -É verdade. Henrique veio se desculpar.
Não é totalmente mentira, não é?
-E quanto aos gritos que ouvimos? -Cíntia pergunta. Vejo Henrique lhe lançar um olhar cortante.
-Eu me assustei! -Digo. -Não estava esperando. Mas achei uma ação nobre da parte dele.
Henrique me olha surpreso e ignoro, tentando manter a mentira séria.
-Isso é verdade? -Hector pergunta ao filho.
-Eu já disse que havia vindo para me desculpar, não disse? Ela só foi um pouco escandalosa. -Ele diz e revira os olhos.
É minha vez de olhar para ele com um olhar furioso, o qual ele nem se dá ao trabalho de notar.
-Bom, -Hector diz por fim. -Já que não há problemas, vamos descer, querida!
Cíntia se vira para o marido e assente.
-Vocês dois também! -Hector aponta para os filhos.
Henrique não pensa duas vezes e sai do quarto apressadamente.
-Ele está tentando! -Cristina diz, e solta um suspiro. -Bom, tenha uma boa noite e desculpe a confusão!
Ela sai, assim como todos. Fico olhando em volta.
A forma como aquele cowboy invocado me olhou. Com desejo talvez? Mas que diabos estou pensando? Não é óbvio que nos odiamos?!
Me arrumo com muita pressa em ir para debaixo das cobertas fechar os olhos e esquecer este incidente! Preciso trabalhar amanhã. Várias seções! Quanto mais rápido eu terminar, melhor! Parece que não vai ser muito fácil, mas eu adoro um desafio!
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Indomavelmente
RomanceHelena é uma fisioterapeuta de sucesso no Brasil; (in)felizmente ela nunca se amarrou a ninguém. Se apaixonar? Fora de questão! A prioridade é a profissão! Eis que seu amigo lhe traz a proposta de emprego mais fantástica de mundo: cuidar de um casal...