14. Home or Hell

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Fiquei um tempo conversando com Matt, ele perguntou o que tinha acontecido comigo aquele dia no cemitério, eu disse que eu estava meio mal mas que preferia não tocar no assunto e ele respeitou minha decisão:
-E você já está melhor?-perguntou ele, me fazendo sentir bem ao saber que ele se preocupava
-Eu vou ficar-respondo com um triste sorriso
Ele não parava de sorrir e mostrar aquelas covinhas ao mesmo tempo que olhava fixamente dentro dos meus olhos parecendo penetrar na minha alma, eu sei que não faz nem 1 hora que nos conhecemos, mas é como se seu olhar pudesse invadir minha mente e adivinhar meus pensamentos, isso me dava uma sensação de conforto e medo ao mesmo tempo, continuamos ali por um tempo até que alguém chega e nos interrompe:
-Ei, Matt-diz um garoto alto de cabelos pretos, com uma tatuagem no pescoço é um olhar extremamente frio que fuzilava a todos
-E aí cara-Matt responde dando uns tapinhas no ombro dele-essa é a Lola-diz Matt me apresentando ao garoto que balança a cabeça na minha direção como um sinal de cumprimento-Lola esse é o Victor, meu melhor amigo
-Oi-digo olhando em seus olhos azuis opacos
-A gente tá atrasado, vamos-diz Victor com uma voz séria arrastando Matt pelo braço
-Tudo bem. Lola, vou te ver de novo?
-Acho que sim, se você quiser
-Eu quero-diz ele abrindo um sorriso e exibindo suas covinhas novamente, o que me faz sorrir de volta, dessa vez um sorriso de verdade. Fico ali, olhando enquanto Victor arrastava Matt pelo corredor e espero que os dois sumam da minha vista para que eu me afaste.
O dia passou e na saída, eu saí rapidamente da escola e fui direto para casa. Quando entrei em casa vi Sam sentado no sofá enquanto gritos do meu pai ecoavam pela casa inteira:
-O que tá acontecendo Sam?-pergunto preocupada
-Olha, Lola, o papai tá muito bravo e eu não sei o que vai acontecer agora, mas você tem que me prometer que vai se manter calma
-Como assim? Quer que eu fique calma se não sei nem o que está acontecendo, o papai não para de gritar, e você não quer me contar o que houve?-falo em um tom de voz alto
-Só acho que é melhor que eles te expliquem
Não aguento ficar ali discutindo com meu irmão, então subo as escadas correndo e sigo o som da voz do meu pai até a porta do quarto deles que esta encostada, vou até o quarto e abro a porta, de repente me deparo com a cena mais nojenta do mundo: meu pai gritando e chorando e minha mãe deitada na cama com um cara que simplesmente tinha idade para ser meu irmão:
-O que está acontecendo aqui?-pergunto já com vontade de chorar e sinto Sam colocar a mão no meu ombro logo atrás de mim
-Lola..filha-diz minha mãe com lágrimas nos olhos
Não podia ser verdade, não, depois de anos juntos, depois de tudo o que passamos com a morte de Tessa, não podia estar acontecendo:
-Não..não acredito! Que nojo mãe, vo...você tá traindo o papai com ele!?-digo apontando para o cara ao lado dela que tinha uma expressão assustada
-Lola, vem vamos lá pra baixo-dizia meu irmão tentando acalmar a situação
-Não!-grito-não quero ir, preciso dizer na cara dela o quanto eu a odeio e que tenho vergonha de ser filha dela
-Por favor, filha não fale isso-implorava ela tentando se aproximar de mim, mas eu sempre recuava
-Não, não põe a mão em mim, você tá transando com um cara que poderia ser meu irmão. Você traiu o meu pai, como pode ter coragem de pedir pra que eu goste de você? Você não presta
-Lola, vem você está muito alterada-dizia meu irmão tentando não se descontrolar também, mas eu pude sentir em sua voz que ele também queria chorar
-Pai, e agora? O que vai acontecer?-perguntei me dirigindo ao meu pai e tentando parar de chorar
-Meu amor-dizia ele passando suas mãos trêmulas pelo meu cabelo rosa-eu vou sair de casa
-O..o que? Como assim? Para onde você vai?
-Ainda não sei, mas vou achar um lugar rápido
-Eu posso ir com você? Por favor eu não aguento mais essa casa, não quero viver aqui, esse lugar é um inferno!
-Lola, você pode me visitar quando quiser, mas por hora é melhor que você e Sam fiquem aqui?
-Eu não quero ficar aqui, não quero, essa casa me faz mal! Por que não posso morar com você?
-Eu não vou ter estrutura para te dar tudo o que quero dar, por favor me entenda
-Que saco! Não aguento mais isso!-resmungo
Saio correndo e me tranco no quarto, a dor e as lágrimas me corroíam, Sam batia na porta e perguntava se eu estava bem, mas eu não abri, não queria ver ninguém. Quando eu achei que tudo estava voltando ao normal, mais uma bomba vem para destruir minha vida, como eu me arrependo de um dia ter nascido. Me levantei, abri minha gaveta de shorts e peguei a lâmina, fui até o banheiro, foquei meus olhos em meu rosto coberto de lágrimas e passei a lâmina por meu pulso, o sangue que escorria me dava a sensação de que ele cobria minha dor emocional, pensar na dor física que aquilo me causava me fazia esquecer por um pequeno momento tudo o que estava acontecendo comigo, tudo o que fazia meu coração doer.

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