O nascer do sol

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Quando o despertador toca avisando que devo acordar, a principio não quero nem saber de levantar da cama. Meus olhos pesam e minha cabeça gira. Sinto-me como se tivesse lutado contra uma gangue inteira na noite passada e com certeza ter apanhado muito, mas na verdade, é só a ressaca da festa de ontem e apesar de não lembrar de muitas coisas, ou quase nada, tô com aquele sentimento de ter feito besteira, mas logo decido esquecer esse "feeling" porque se não lembro, não fiz.

Ouço um latido seguido de várias lambidas encharcadas em meu rosto. É Nick, meu cachorro que ganhei de presente de minha mãe quando fiz dez anos e até hoje ele está do meu lado.

- Tudo bem, eu já entendi Nick - digo resmungando e revirando os olhos para Nick - Dia de ir para a universidade! Que saco!

O cão sai de cima da cama ainda latindo e abocanha meu traseiro empurrando-me em direção ao banheiro e em seguida pega seu ursinho de pelúcia babado e sai do quarto rápido como uma bala. Isso me faz rir então assovio e ele volta na mesma velocidade que partiu.

- Vem cá seu bobo!

Ele pula em cima de mim e eu o beijo fazendo carinho em sua cabeça, e pela velocidade com que seu rabo balança, concluo o que já tinha quase certeza a muito tempo, ele ama isso.
Nick pode não ser o melhor cão do mundo, claro, ele arruína meus sapatos, já me fez cair de cabeça por causa de uma poça de baba no chão, solta tanto pelo quanto qualquer outro animal, faz certas coisinhas inapropriadas em lugares como a cozinha, mas ele é meu melhor amigo, desde que meu pai morreu no ano passado ele tem de me ouvir e me aturar falando de problemas amorosos e tudo mais. Depois de minha mãe é o ser que mais amo nesse mundo. É o melhor companheiro que eu poderia ter.
Pego a toalha, retiro minhas roupas e a pantufa pisando no azulejo frio do banheiro. Um arrepio corre pelo meu corpo e a cada vez que isso acontece eu penso em como eu amo o frio. Amo sentir meu corpo precisando ser aquecido.
Ligo o chuveiro elétrico e imediatamente a água quente começa a escorrer pelo meu corpo aquecendo-o. Sinto que poderia ficar ali até o final deste século, mas a única coisa que posso fazer é sair do banheiro e me preparar para mais um dia cheio de surpresas.

No caminho até Yale ligo para minha mãe, que apesar de morarmos na mesma cidade quase nunca nos vemos. Ela vai me acompanhar e, tenho quase certeza, para se certificar de que irei ficar bem e também irá pegar Nick para morar com ela enquanto eu fico na Universidade. Infelizmente eles não aceitam animais que de acordo com minhas palavras são "quase da família" nos alojamentos. Combinamos de nos encontrar na fonte do jardim central do campus e quando chego ela já está lá. Seus cabelos castanhos claros, como sempre, ficam em um tom lindo de dourado na luz do sol. Ela está linda vestindo seus típicos vestidos rodados e franzidos abaixo do joelho em cores frias.

- Estou atrasado ou você adiantada? - pergunto abraçando-a com tanta força que ela solta um grunhido.

- Claro que eu estou adianta. Afinal de contas, sou sua mãe menino malvado - ela diz com um sorriso alegre no rosto me beliscando no peito e então começo a sorrir junto com ela.

De repente o silêncio se faz presente entre nós e seu semblante fica misterioso e sério.

- Tenho certeza de que seu pai está olhando você agora mesmo e que ele está muito orgulhoso - suas lágrimas escorrem e ela mesma as limpa resmungando algo sobre não chorar enquanto deixa seu único filho na universidade.

- Mãe, ele tem que ficar orgulhoso, afinal, graças a ele eu estou aqui hoje, não é? E também, eu seguirei a tradição da família cursando arquitetura. Ele deve estar se gabando seja lá onde estiver. - falo tentando arrancar mais um sorriso de seu rosto, e funciona.
A quanto tempo não via minha mãe feliz assim? Desde que meu pai morrera era difícil ver ela desse jeito. Fico feliz por ela estar feliz.

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⏰ Last updated: Oct 20, 2016 ⏰

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