Capítulo 19

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No susto, me joguei pra trás como se a boca dele queimasse em contato com a minha. Meu coração disparou e logo imaginei o rosto indignado de Mariana a nos encarar sentados juntos no sofá depois de um beijo, a briga entre ela e Christiano e a minha vergonha estampada no rosto.

Christiano passou a mão na testa e depois puxou o cabelo pra trás como se estivesse se recuperando do susto.

– Fala! – respondeu.
– Preciso de uma toalha, amor.

Christiano se levantou lentamente do sofá e foi em busca de uma toalha para a namorada. Me levantei e agora quem caminhava pela sala era eu. Naquele pequeno intervalo de tempo em que fiquei sozinho eu percebi a besteira que estávamos fazendo. Christiano estava traindo a confiança de sua namorada e eu estava no mesmo barco, traindo a confiança de uma amiga recente. Agora eu já estava tão envolvido quanto ele, minha culpa era quase tão grande quanto a dele. E o pior de tudo era que eu nunca sairia ganhando. Eu teria somente beijos as escondidas e isso um dia cansaria.
Christiano veio em minha direção com um sorriso no rosto. Aquele sorriso encantador pelo qual Mariana havia se encantado e agora eu também.

– A gente tem que parar com isso! – comecei a falar.
– Han? Do que você está falando? – disse Christiano parando a um passo de distancia.
– Do que acabou de acontecer aqui. A gente não pode mais continuar fazendo isso.
– Por quê?
– Você tem namorada e eu a conheço agora. Ela é legal comigo e eu gosto dela. Fica ruim pra mim, não me sinto bem fazendo isso com ela e você deveria ficar com a consciência pesada também. A namorada é sua e você precisa zelar por isso. Não foi ela que você escolheu pra namorar? Não é com ela que você quer passar o resto da vida?

Ele me olhou no fundo dos olhos e esperou um pouco até responder...

– Eu também fico com a consciência pesada. – disse ele finalmente.
– E...?
– E é isso. Você quer que eu fale mais o que?
– Que também acha que o que fazemos não é certo.
– Marcos, a gente conversa sobre isso depois. Agora não dá.

...

Não que fosse ruim sair com os dois, mas posso dizer que não era tão agradável sair com um casal de namorados. Era normal a troca de carinhos entre eles durante o passeio e tudo o que eu sentia ao ver aquilo era inveja. Não adiantava tentar afastar os sentimentos que tinha pelo Christiano, nada me fazia deixar de imaginar como eu seria feliz estando no lugar de Mariana, de como eu me sentiria estonteante de poder ter toda aquela intimidade com ele, de poder abraçar, beijar e dizer coisas bonitas.
Estávamos na sala do cinema, todos entretidos no filme. As vezes eu espiava Christiano pelo canto dos olhos só pra olhá-lo mesmo. Eu só conseguia vê-lo de perfil e isso era o bastante pra me fazer admirá-lo na escuridão do cinema. Alguns fogos de artifício foram queimados no filme e o rosto dele foi iluminado pelas cores vivas do filme. Suspirei. Voltei minha atenção para o filme.
Senti a mão de Christiano repousar sobre minha coxa num carinho gostoso que no primeiro segundo me fez esquecer todos aqueles probleminhas. Delicadamente toquei em sua mão, mas não para segurá-la – como eu gostaria - e sim para afastá-la.

– Para! – sussurrei.
– Que foi cara?

...

Depois daquilo Christiano ficou chateado e praticamente ignorou a minha presença, falando comigo só quando era necessário ou quando Mariana me incluía no diálogo deles. Saímos do shopping, pegamos um táxi todos juntos até o prédio do Christiano e até o momento Christiano mal olhava pra mim. Nos despedimos da Mariana e descemos do táxi juntos.
Nós não tínhamos escolha, eu estava sem a chave de casa e ele sabia muito bem disso, então não poderia simplesmente subir para seu apartamento e me deixar na rua sozinho. Dentro do elevador Christiano continuou me ignorando e quando a porta se abriu ele foi o primeiro a sair como se não estivesse com ninguém.

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