17 - Bolinhos de maconha

1.7K 245 106
                                    

"No jogo da vida, ela é famosa em driblar o destino"

(A Poesia dos Desafetos, página 30)

Abrir a porta da frente havia se mostrado uma verdadeira montanha russa de emoções. Era a quarta vez que alguém tocava a campainha. Téo já havia despachado um vendedor de pantufas de leão, uma testemunha de Jeová e Dona Lúcia, que, obviamente, veio confirmar o aparente fracasso de Rita na criação dos cupcakes para a feira. A ideia de espalhar uma mentira viral pelo bairro tinha vindo da mente mais brilhante e engenhosa da família Andrade: De Téo.

Mentira.

Claro que viera de Liv.

A história era que a mãe não estava acertando nem 1 + 1 com os ingredientes e, provavelmente, iria desistir da feira. Isso até foi verdade no início das experiências de Dona Maria Rita, só por isso Téo concordou em compactuar com a estratégia. Liv e a mãe esperavam surpreender a todos com o cupcake mais perfeito de todo o universo feito a base de comida de peixe. Se alguém descobrisse o ingrediente secreto, seriam linchados em praça pública, mas esse era apenas um detalhe.

Do outro lado da porta estava Vic.

- Minha mãe surtou - Téo disse.

- Você sempre me convida para os melhores eventos – Vic rebateu e foi entrando.

Levou Victória até a sala, onde Lívia estava fazendo anotações furiosamente. Rita surgiu no aposento, coberta de farinha e com algum ingrediente rosa agarrado ao cabelo.

- Você chegou, minha querida! Hoje vocês têm uma missão. Preciso infiltrar minhas criações no imaginário popular ao mesmo tempo em que vigio minha base de operação.

A mãe estava mesmo surtada e falava como se lá fora estivesse acontecendo a Terceira Guerra Mundial ou o tão esperado Apocalipse Zumbi.

- Ela quer que vocês fiquem na barraca e vendam os cupcakes na feira – Liv disse, sem tirar o olhar de suas anotações.

- Exatamente! E rápido. Ajam com cautela. Não encarem ninguém na rua. Vistam preto.

- Mãe, relaxa. São apenas cupcakes. E o sol brilha lá fora – Téo tentou tranquilizá-la.

- Não são apenas cupcakes! São o futuro! – Ela virou-se para Vic subitamente – Vic, querida, certifique-se de que Téo não estragará tudo. Esse é seu papel no plano.

- Pode deixar, general – Vic bateu continência.

- Você é uma fofa! – A mãe apertou a bochecha de Vic, deixando uma marca branca de farinha – Trocaria meus dois filhos por você – E voltou para a cozinha da mesma forma que veio, soterrada em farinha.

- Adoro a sua mãe.

- É fácil falar quando não se vive vinte e quatro horas por dia nessa casa.

Téo realmente amava a família. Sempre fora fácil para eles se manterem unidos. Ele ficava surpreso com tantas histórias de adolescentes problemáticos que odiavam os pais. Mas, ainda assim, a família dele não era perfeita. Ele nunca quis ligar para o Conselho Tutelar vir buscá-lo, mas, às vezes, Liv e a mãe o faziam tomar atitudes drásticas. Arrumar um namoro falso, por exemplo.

- Eu sei. É fácil admirar quem a gente não conhece bem – As palavras saíram livremente da boca de Vic, como se fosse uma espécie de filosofia de vida - O mesmo vale para criticar. Mas acho que já tive uma boa prévia da sua família.

- E eu da sua.

- Super trocaria com você.

- Está... tudo bem? - Téo teve que perguntar.

Não Somos UmWhere stories live. Discover now