Por que?

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Sophia... Era ela. Depois de séculos de dor, tormenta, redenção, ali estava ela... Tão parecida com a garotinha que sempre usava vestido preto nos piqueniques, que adorava roubar meus sapatos feios, que corria pro meu colo sempre que se sentia em perigo. Minha pequena e forte Sophia.

Antes mesmo de me recompor as duas garotas já haviam ido diretamente para suas poltronas, pareciam felizes, eu também ficaria se fosse jovem e estivesse viajando até Califórnia com alguma amiga, provavelmente pela primeira vez.

Me levantei e fui me sentar.
Cheguei na cabine dos comissárias que fica logo à frente de todos os passageiros, dividindo a classe econômica da demais.

— Você me parece um pouco... Aflita? — Alana me analisava muito bem, por sinal — Algo está te incomodando, Val.

Sento na poltrona ao seu lado e suspiro. Fico em silêncio por um momento, o dia mal havia começado e tantas coisas aconteceram, descobri que minha mãe está viva e quer me atingir da pior maneira possível e agora que minha irmã também está viva, seria loucura da minha parte dizer que não acredito em reencarnação sendo eu um corpo imortal. Almas podem voltar.

— Não dormi direito — respondo o mais desanimada possível e não precisei me esforçar muito.

Ficar em silêncio só faz minha mente ficar mais disparado.

— Descansa. — Alana fez sinal para que eu apoiasse minha cabeça em seu ombro, não recusei.
Deitei minha cabeça em seu ombro, conseguia sentir seu perfume doce, esses perfumes sempre combinaram com Alana, não pelo fato do cheiro ser muito gostoso, mas por Alana ser tão doce que até o perfume tem que ser como ela. Estar perto dela sempre será uma das melhores sensações para mim.

De onde eu estava conseguia ver Sophia e sua amiga "Sam", as duas estavam conversando sem parar, devem ter ficado um bom tempo sem se ver pra render tanto assunto assim. Ver Sophia sorrindo me deixava feliz e ao mesmo tempo triste... A sorte da reencarnação é se esquecer da vida passada, se ela se lembrasse certamente não veria um sorriso em seu rosto, seu coração seria tomado pela dor e seria petrificado, assim como o meu foi... Por um longo, longo tempo. 

Agora que estava em perfeita consciência, consegui analisa-la melhor, Sophia vestia um jeans preto rasgado nos joelhos, uma blusa caída nos ombros cor bege e um tênis cano alto preto. Seu cabelo estava solto, lindo como sempre foi.
Sophia estava em sua aparência perfeita por mais que digam que ao reencarnados voltamos em um corpo diferente. Parece que seu corpo foi conservado até sua alma retornar.

Alana começou a fazer carinho em meus cabelos, fechei os olhos sentindo o toco dos seus dedos, sentindo o seu perfume doce misturado com o cheiro do seu cabelo. Tudo que eu queria era tornar aquele momento eterno, abrir os olhos e ver que foi tudo um pesadelo mas agora estava ali, do lado de Alana, a única que consegue fazer eu me sentir segura e ela irá me proteger de todo mau.

— Eu preciso fugir do inferno que é minha vida — as palavras saem da minha boca sem que eu perceba, ainda estava de olhos fechados sentindo o carinho de Alana.

— Eu sabia que algo estava te incomodando — ela se vangloria — E te conhecendo tão bem, você não vai querer me dizer, garota cheio de segredos. — ela tinha razão, eu não iria contar, nunca conto. Ela suspira — Mas... Saiba, Val, seja lá o que está acontecendo, fugir nem sempre é a melhor solução, isso não vai fazer tudo se resolver.

Abro meus olhos e suspiro também
— Não se trata de fugir dos problemas e deixa-las assim... Se trata de precisar de Paz, Alana, não sinto isso à muito tempo. O mais perto que chego de sentir isso é quando você me faz cafuné — Digo e sorrio de lado mas logo volto a ficar seria. Alana me acompanhou.

— Não vou tirar meus dedos de você. — Ela diz sem pensar muito, o que a fez ficar vermelha, consegui sentir sua pele quente

Eu apenas ri mas por pensar o que não deveria.

— Eu não vou reclamar. — Olho para ela e sorrio. Nossos lábios ficam próximos um do outro mas nada acontece.

Somos interrompidas com o aviso de que estamos prontos para decolar.

— Eu também não iria reclamar disso— digo ainda sem tirar meus lábios de perto dos dela.

— Devemos nos arrumar... Vamos... Decolar — Ela diz quase gaguejando, ve-la nesse estado me deixa mais afim dela.

Me ajeito na poltrona e ela também. Volto a olhar Sophia, vejo suas mãos apertarem o apoiador de braço quando decolamos, vejo Sam apertar sua mão num gesto acolhedor. Por um momento achei isso engraçado, quando Sophia era apenas uma menininha adorava olhar o céu, os pássaros e tentar adivinhar a sensação de estar nas alturas, bem... Parece que agora isso é assustador pra ela.

Me levanto para pegar uma água que estava logo ao lado de Alana, me estico e minha bochecha fica próxima de seus lábios, consegui sentir sua respiração. OK, minha vontade de beija-la era extrema, mas, Alana é só amiga, já deixeis isso claro - depois de amar seu corpo- foi um erro... Um ótimo erro.

Abri a garrafa e dei um gole

— Aceita? — Ofereci.

— Sim, Por favor — ela pegou a garrafa e bebeu.
Comecei a rir dela

— O que foi? — Ela olha para mim confusa

— Quem que fecha os olhos para beber água?— disse e continue à rir.

— Ué, Muita gente ! — Ele faz uma cara mais confusa ainda

— Você é toda engraçada

— E você toda idiota. — Agora ela parecia irritada.

Apoiei minha cabeça na poltrona e olhei pra ela, estava de bico.

— Own, ficou bravinha porque ri de você?

— Não

Ficamos em silêncio

— MUITA GENTE FECHA OS OLHOS PRA BEBER ÁGUA.

— CLARO QUE NÃO, ALANA, É ÁGUA  — comecei a rir de novo e mais do que antes, o que incomoda ela mais ainda.

— Dá pra você parar de rir, sua idiota ? — ela diz e bate a garrafa d'água no meu braço

— Pelo menos eu não como batata com sorvete.

— AAAAAAA ALANA, você curte que eu sei. — Digo e cutuco sua bochecha

— Só as batatas. E tira esse dedo de mim — ela bate na minha mão.
Ainda emburrada puxo ela pela nuca e beijo seu pescoço.

— Não adianta me negar. — Sussurro no seu ouvido e começo a sentir sua pele quente, mordo seu pescoço e escuto um quase gemido, o que me instiga ainda mais.
Volto para seu ouvido
— Você é perfeita, garota. — Me afasto, olho seu rosto cheio de vontade e sorrio para ela,beijo sua bochecha e me afasto.

Vejo Alana vermelha como pimentão, um pouco ofegante, o efeito que causo nela é muito bom.

Quando volto a olhar pra frente vejo Sophia me encarando, fico vermelha, espero que ela não tenha visto nada do que aconteceu aqui. Mas, pelo seu sorriso de canto, ela viu.

— Espero que ela não pense que somos lésbicas e que vamos dar em cima dela — diz Alana olhando pra Sophia também.

— Espero que sim, a amiga dela é bem gatinha. — Olho para ela tirando sarro, ela não parece ter levado na brincadeira. — Estou brincando. — ela ri de canto.

Ficamos quietas. Sophia ainda me encarava, isso ficou constrangedor, parece muito com aquelas crianças que estão na igreja e te olham como se soubesse todos seus pecados.
Ah sim, eu adoro crianças só que bem longe de mim.

Mais 3 horas de viagem, depois de tantas surpresas preciso descansar, Sophia está aqui, me sinto em paz.

Voltei a encostar minha cabeça no ombro de Alana, fechei os olhos e adormeci.

CaídosOnde histórias criam vida. Descubra agora