Capítulo 01 - Benjamin

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Droga! Não acredito que eles vão se matar outra vez... - pensou Benjamin ao pressionar o pingente em formato de cruz entre os dedos.

Já em mente que a mesa de jantar protagonizaria o embate entre seu tio, Daniel, e sua mãe, Norma, ignorou tanto prato limpo quanto barriga vazia e, com rapidez, arrastou sua cadeira na busca por uma fuga do recém-formado cenário de guerra.

A cozinha encolhia conforme a aura de Norma tomava o local, uma energia ruim que sufocava Benjamin de forma claustrofóbica e o impulsionava a fugir para não se afogar no vácuo de ódio gerado por sua mãe. Daria tudo para também estar preso no engarrafamento que, por conta da forte chuva, pegou seu pai e irmão mais novo no meio da estrada, impedindo-os de chegar a tempo do jantar.

- Sinta-se à vontade pra arrumar o telhado, Dan – o grito de Norma se expandiu pela casa, correu pelos cômodos e subiu as escadas para alcançar os ouvidos de Daniel, dentro do quarto de Benjamin. – se não estiver disposto a cobrar por isso, é claro. – completou, irônica.

Os talheres gastos na mesa de jantar refletiam um conjunto formado por olhos azuis, sobrancelhas arqueadas e uma faceta pálida que, juntas, compunham o rosto de Benjamin. Esses mesmos talheres retratavam o bater contínuo de dentes do garoto, que lutava para não fazer barulho enquanto arrastava o próprio assento, algo tão difícil quanto  abrir um cofre nos filmes de Hollywood. Ele sabia que a concentração da mãe na pia de serviço não camuflaria o ruído de madeira contra o piso, ainda mais com a pouca distância de quatro metros separando filho e mãe. Um erro a faria dar meia volta. Um erro acabaria com o plano. Um erro premiaria Benjamin com a visão de seu tio, salivando de raiva ao passar pela cozinha para a primeira salva de canhões do embate que estava por vir.

Independente do castigo que viesse, talvez valesse a pena arriscar.

Só mais um pouco... – pensou Benjamin, com coração disparado, deslocando a cadeira com os pés projetados contra o solo.

Tudo parecia dar certo, até que a sineta do fogão resumiu a mínima esperança a uma moribunda golfada de saliva.

Benjamin fechou o punho com mais força, sua pele sentiu o gosto das pontas do crucifixo metálico quando seus olhos confrontaram os de sua mãe. Foi fácil compreender a intimação de Norma ao mexer os lábios com rispidez "você não vai sair daí sem comer".

E pronto!

O fim da linha.

Antes de qualquer lamento por parte de Benjamin, a silhueta robusta do tio já se projetava cozinha a dentro, que, por acaso, era pequena demais para os dois metros de altura daquele monstro de barba e cabelos castanhos, tal qual os fios quimicamente lisos e amarrados para trás de Norma.

Ereto, Daniel repetiu o comentário que iniciou o conflito:

- Talvez dentro do quarto do meu sobrinho chova mais do que lá fora – em seguida veio o baque do copo contra a mesa, acompanhado dos respingos de uísque que marcaram a manga da camiseta escura de Benjamin.

Agora não, tio. Por favor...

- Seu aniversário é daqui a alguns meses, Dan. Vai querer que eu te dê uma caixa de cotonetes, ou precisarei repetir? – O tom provocativo de Norma não condizia ao rosto seco da mulher que levava o assado do forno até a mesa.

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