Oie bolinhos, agora a história vai de fato começar ok? E vai ter flashback também, falei e sai correndo. Boa leitura
Cabine telefônica. Foi esse o primeiro lugar que eu apareci. Eu estava um pouco tonto, ou talvez cansado, da "viajem", na verdade era uma sensação diferente de tudo, mas eu não prestei muita atenção nisso porque a sensação de sentir o ar entrando nos seus pulmões é algo maravilhoso e muito melhor do que qualquer coisa. Eu respirava. Eu sentia. Eu estava vivo. A roupa que eu usava não era, definitivamente, alguma que eu usaria normalmente. Era uma calça e um blazer preto, tudo formal demais, e um sapato muito desconfortável, além de uma pequena mala com um nome de Miles no chão. Eu peguei a mala e resolvi sair de lá, já que um senhor do lado de fora não parecia muito contente com um homem atrapalhando sua ligação. Assim que abri a porta consegui sentir algo vibrando de dentro do bolso da calça e percebi que alguém estava ligando para mim – para Miles – era desesperador. Eu já não sabia se respirar era algo tão maravilhoso assim.
- Alô? – Assim que o levei ao ouvido, barulhos de pessoas gritando era tudo o que eu escutava.
- Onde você está? – Era uma mulher e ela não me soava muito feliz. – De qualquer forma, eu não quero saber, só venha para cá. É o seu primeiro dia de trabalho e o seu chefe está louco atrás do novo secretário.- Ir aonde? – Definitivamente, aquela não era uma pergunta inteligente, mas eu não tinha nenhuma ideia melhor.
- Ha-há. Temos um empregado engraçadinho. – Antes que eu pudesse tentar perguntar algo, eu já não escutava mais nada.Eu não conhecia muito bem aquele lado da cidade, mas eu já tinha passado por lá algumas vezes. Prédios e mais prédios eram tudo o que se via. Pessoas andavam apressadas de um lado para o outro como se corressem para algo melhor, mas eu sabia que não. Eu precisava de um lugar calmo para abrir a pasta e talvez planejar um suicídio, o que desse menos trabalho para mim. Andei por alguns minutos até que pude ver um grande restaurante.
Epicerie Boulud. O letreiro dava entrada a algo parecido com uma grande loja de doces, pães e bolos. Era bastante grande e aconchegante. Não sabia se tinha dinheiro dentro daquela mala, mas como eu tinha um emprego talvez eu também tivesse dinheiro. Ou não, mas eu rezava para que sim. Eu não tinha percebido que estava parado por tanto tempo observando aquele local até que senti alguém esbarrando em mim ao sair. Eu tinha me esquecido o quão bom era sentir o toque de alguém. Não que eu não pudesse sentir John, ou outros mortos, mas sentir alguém vivo era muito melhor. Você passa dar valor as pequenas coisas da vida depois que morre.
Adentrei ao espaço e percebi que ele era divido por dois andares. Era muito mais bonito do que parecia ser. Sentei em uma pequena mesa no fundo, onde não tinham muitas pessoas, e pela primeira vez pude reparar em tudo a minha volta, exatamente como fazia antes de morrer. Casais, famílias, senhores e jovens andavam por aquele lugar sem prestar a mínima atenção em quem estava a sua volta. Eu nunca entendi como as pessoas conseguiam ser tão desatentas às vezes. Olhe para o lado, menino que está lendo no balcão, a menina ao seu lado está sorrindo esperando que você fale com ela. O livro em suas mãos é o seu favorito. O jeito como ela sorrir ao ver as páginas sendo virada, ela sabe exatamente o que acontecerá com o personagem principal, pois ela já sentiu as mesmas coisas que você ao ler essa frase. Ela apenas quer que você se vire e diga "Oi". Os melhores romances são aqueles que nascem de um bom livro. Ele não me ouviu, ele não ouviu a respiração dela, ele não a ouviu de nenhuma maneira. O garoto do livro levantou-se e saiu sem olhar para trás. E a menina? Esperou, esperou e esperou.Talvez, assim como ela, eu tenha esperado que ele voltasse, mas ele não fez e ela foi embora. Eu gostava de criar histórias para pessoas desconhecidas, mas diferente das páginas de um livro, na vida real eu não podia moldar o final, eu sequer podia bater no garoto por deixa-la escapar. A pasta em cima da mesa agora tinha toda a minha atenção, eu não estava muito certo em abri-la, mas eu fiz e lá tinha: Uma chave, um celular e um papel, o abri torcendo para que tivesse algo de relevante escrito nele.
"Você não podia receber nenhuma dessas informações antes de voltar, por inúmeros motivos, e agora que isto está em suas mãos você tem tudo o que precisa para essa jornada, Michael, você se chamará a partir de hoje Miles Collins – como você já sabia – e trabalhará como secretário pessoal na empresa do seu caso: Luke Hemmings".
Luke. Eu reli. Luke Hemmings. Aquilo era uma piada. Uma grande e infeliz piada.2012, Agosto
Eu já era noivo do Calum há dois anos, mas com a correria dos meus livros, nós adiamos o casamento por todo esse tempo, mas finalmente começávamos a preparar a festa. Nos casaríamos em dezembro, que mesmo com a proximidade com datas comemorativas, sempre foi algo que eu quis fazer. Eu nunca entendi o porquê das pessoas serem tão más sobre casamento, talvez se parassem de fazer péssimas escolhas de maridos ou de mulheres não existiriam tantos divórcios no mundo. Eu tinha feito à escolha certa. Calum era o certo.
- Você tem certeza que quer se casar? Principalmente com ele? – A voz dele era algo tão irritante que se não fosse Calum para aguentá-lo eu não sei se me manteria a uma distancia de menos de 1 km. – Ele é chato, mandão, meio psicótico, eu gostaria de te lembrar, e principalmente louco. Ele é completamente pirado. Não se case com escritores. Eles são tão ruins quanto compositores. Ele é praticamente uma Taylor Swift, sem o violão, se vocês terminarem ele pode escrever uma trilogia sobre o quão ruim você é.
- Eu poderia escrever um livro sobre o quão ruim você é. – Sorri, ao voltar para perto do Calum, que estava sentado de frente para ele. Eu não parei pra pensar muito quando ele me convidou para ir ao escritório do Luke dar a notícia do nosso casamento. No fundo, eu queria ver a cara dele. Eu gostava de vê-la quando eu ganhava e principalmente quando isso incluía sua derrota.
- Mikey. – Eu odiava quando ele me chamava por apelidos. – Eu li o seu livro e suponho que o cara que morre no vigésimo capítulo seja eu.
- Estou surpreso por saber que você usa seu cérebro para algo mais produtivo do que arrumar apelidos estúpidos para levar pessoas estúpidas para cama.
- Para um escritor você não possui um vocabulário muito amplo. – Luke Hemmings era a pior espécie de homem que eu já tinha convivido em toda a minha vida.
- Vocês podem parar? – Calum, percebendo que aquilo não teria fim, levantou-se para dirigir-se a saída. – Você vai ser o padrinho. – Disse antes de fechar a porta atrás de nós – Vocês precisam parar com isso, quer dizer, daqui alguns meses ele será padrinho do nosso casamento.
- Sobre isso, não estou certo que eu tenha concordado. – Entramos no elevador, ele não sorria mais ou segurava a minha mão. Sempre tínhamos problemas quando o assunto envolvia seu melhor amigo.
- Eu nunca vou entender esse problema entre vocês dois. – Oh não. – Algum dia, eu espero que vocês dois me contem. – Eu sentia o ar ficando pesado em todo o elevador. As coisas não podiam ir para esse caminho. Eu não gostava do final dele, ou pior, do seu começo. – Afinal, você é meu futuro marido e ele é quase meu irmão.
- Eu não gosto dele e pronto não há um motivo especial para isso. – Eu odiava mentir, mas eu prometi que se Luke ainda não tinha contado para ele – e para ninguém – não seria eu quem faria. Calum sempre percebia como eu ficava quando esse assunto vinha à tona e mesmo assim nunca me pressionou para dizer nada. Ele apenas mudava de assunto. E era por isso que eu gostava tanto dele. Calum era calmo, não tinha surpresas, não tinha problemas. Ele era como as nuvens, sempre estão lá não importa se um dia é ensolarado, sempre terá uma nuvem para te ajudar, ou se está nublado. Ela sempre estará lá, apenas se moldando as mudanças, mas nunca sendo a mudança. Calum não mudava. Ele era uma linha reta no meio de tantas curvas.