Prólogo

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Londres, 1878

O céu cinzento e nublado parecia refletir o estado de espírito de Demethria Taytie, enquanto ela se curvava aos prantos sobre a rua de paralelepípedo. Ela estava desolada, não tinha para onde ir ou sequer algum pertence que pudesse vender. Estava falida e fora jogada na sarjeta. Mas tão pouco era essa situação que levava lágrimas aos seus olhos e fazia uma dor aguda irromper-lhe o peito. Seu avô, Maxwell Taytie, se fora.

Demi não conseguia achar uma saída para a situação em que se encontrava: sem parentes, sem casa e sem comida; possuía apenas o vestido que estava no corpo, uma vez que, antes de morrer, seu avô havia perdido todos os seus pertences em um jogo de cartas. Ela se recordava do dia anterior como se o tivesse vivendo agora. Lembrava-se claramente da preocupação que sentira quando o seu avô demorou a voltar para casa, de ter ficado acordada até tarde aguardando ele cruzar a porta de entrada da humilde casa que possuíam em Londres, e do horror que sentira quando ele chegara bêbado e desesperado alegando ter perdido tudo. Aquele havia sido o pior dia da vida de Demi, pois além de perder todos os bens, ela perdera o avô – seu único parente. Maxwell não aguentara a desgraça na qual havia metido a si mesmo e a neta, ele não suportou a dor de fracassar e se enforcou momentos depois de Demi ter ido se deitar naquela noite. Agora, triste, sozinha e sem ter para onde ir, ela se debruçava sobre o chão, chorando e lamentando desconsoladamente.

— Eu estou no fundo do posso, vovô. – murmurou para o nada em meio aos soluços. – Não pode ficar pior do que isso.

Como se para contradizer o que ela falara, um trovão soou ao longe, avisando que logo choveria e uma onda ainda maior de autocomiseração atingiu a garota, tornando seu choro ainda mais intenso.

Demi se sentia tão triste que, por um segundo, cogitou a idéia absurda de se juntar ao avô. De seguir seu exemplo, abrir mão da vida e receber satisfeita a morte – pois a morte era fácil, não existir era fácil. Contudo, ela sabia que não era forte o suficiente, corajosa o suficiente para renunciar a própria vida e sabia que continuaria, mesmo que insatisfeita, com sua miserável existência.

— O que eu faço? – sussurrou ela para si mesma. Demi sabia que não poderia voltar para casa, a essa altura, a pessoa que a havia expulsado já estaria instalada nos aposentos humildes, porém quentes e acolhedores o suficiente para Demi desejar tê-los de volta.

Alguns minutos depois, alguns pingos de chuva começaram a cair do céu e Demi olhou para cima desconsolada. O que faria ela agora? Para onde iria? Como seria sua vida a partir de hoje?

Com um suspiro entrecortado pôs-se de pé. Ela deixou o a rua da casa onde morara por toda a vida com uma dor excruciante no peito, como se uma ferida letal tivesse sido aberta ali e ela sabia, enquanto andava sozinha e sem rumo – a chuva encharcando-a completamente, que sua vida nunca mais seria a mesma.

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