James disse que iríamos dirigir a noite para suprir o tempo que paramos no posto e adiantar tudo.
A estrada a noite é tão poética.
-O Dave parece diferente depois da loja né? -Diz Mary, que estava sentada ao meu lado.
-Remorso? -Kim questiona.
-Claro! Aquele rapaz vai ser demitido porque nós demos prejuízo a loja.
-Olha, garanto que ele foi bem recompensado. -O garoto coreano pisca.
-Se achou tão errado, por que ajudou a apagar as filmagens? -Charlie, que parecia irritada com o assunto, indaga.
-Realmente, se você não gosta de algo, deve dizer. -Ben, que sentava no banco da frente com o meu irmão, acrescenta.
-Ele é novo nisso, relaxa. -James tenta me defender.
Todos parecem falar como se eu fosse um bebê super influenciável.
-Eu só acho que ele deveria dizer o que quer. Parece até que estamos forçando ele a sair da vida perfeita. -Charlotte retruca.
-Calem a boca. Sério. -Lucy, que até então se mantinha calada, eleva o tom da voz. -O garoto só está tentando se enturmar! Que mal tem isso? Relaxa Dave, vamos mudar de assunto.
-Sobre o que quer falar, senhorita Bane? -Mary pergunta com sua voz doce.
-Sexo, claro. -Kim se mete no meio e responde no lugar da garota. Lucy sorri, confirmando a resposta.
-Jogo das perguntas então? -Ben bate palmas, sorridente.
-Opa! -Mary levanta a mão, animada. -Eu começo! Então...Er...Não sei.
-Certo, então eu começo. -James fala. -Charlie, minha querida, como foi seu pior beijo?
A garota não pensa mais que um minuto e já responde:
-Ele morava na minha rua e comia amêndoas o dia todo. Quando eu o beijei, sua boca estava cheia de pedaços e foi a pior coisa de todas. -Kim parece a ponto de vomitar. -Desde então não como amêndoas.
-Eca. Sério. -A expressão de nojo da Mary é evidente.
-Minha vez né... -Charlotte pensa por um momento. -Ben, é verdade que você já namorou uma menina que tinha orgasmos enquanto dormia?
-Olha, só aconteceu uma vez. Ela tinha assistido Grey's Anatomy e sonhou que tinha um sexo louco com o Denny Duquette. Foi louco.
-Uau. -Sussurrei baixinho.
-Mary, eu escolho você. -Diz o rapaz. -Qual a pior sensação?
-Oral em garotos. Por isso parei com essa coisa de pegar macho. -Olhei para a pequena garota surpreso. Ela percebeu. -Sim, Dave. Eu sou lésbica. A questão é que eu gosto de homens da mesma forma que gosto do meu café. Eu não gosto de café.
Sorrimos.
-Eu gosto de homens da mesma forma que chocolate. -Kim diz pensativo.
-Doce? -Pergunto inocente.
-Não! Duro e em grande quantidade.
Enquanto eu corava, todos riam e gritavam.
Era a vez da Mary.
-Lucy Bane, você transou com alguém desse carro? -Eu travei.
-Sim. -Ela diz com simplicidade. Minha garganta secou e meu maxilar estava travado. Não era a Mary, afinal, ela perguntou.
-Quero nomes. -Diz Charlotte, sendo também retirada da lista.
Sobram Kim, Ben e James.
-Uma pergunta por vez, garota. -Lucy parece pensativa. -Dave.
-Que? -Minha voz saiu incrivelmente trêmula.
-Como foi a sua melhor transa? -Seus olhos estão vidrados nos meus.
Antes que eu pudesse tentar responder, James se mete no meio.
-Que jogo bosta. Vamos mudar de assunto né? -Ele parece nervoso.
-Ta massa! Deixa de frescura. -Mary replica.
-Sério, muda de assunto.
-Qual seu problema? -Diz Charlie, indignada.
-A questão é q...
James não terminou sua frase pois o carro bateu em algo.
Gritos.
***
-Matamos ele? -Pergunta Charlotte.
O enorme cachorro estava embaixo da roda esquerda.
Mary chorava no carro. Lucy acendeu um cigarro e se recusou a olhar.
-Eu matei um cachorro. -James estava sentado no frio asfalto.
-Gente, ta se mexendo. -Kim acrescenta, assustado.
-Ele está com dor. Alguém precisa terminar com o sofrimento dele. -Ben parece a ponto de vomitar.
-Não contem comigo. -O garoto coreano entra na Van.
-Estamos no meio da estrada escura, vamos logo. -Lucy grita.
-Não vou conseguir. -Meu irmão está em choque.
-Eu faço.
Charlie me encara, as lágrimas estão presas em seus olhos. Ela tenta aliviar a situação:
-Não precisa...
-Tudo bem. Entrem, vai ser rápido.
Franco e a garota voltam para a Vilma.
Carrego o animal até a beira da estrada e, com um rápido movimento, acabo com sua dor.
Entrei no carro e o silêncio intenso me assustava.
Sentei ao lado da Lucy.
Seguimos a procura de um lugar para dormir.
Subitamente, a garota ao meu lado deita sua cabeça em meu ombro.