Eles me encaravam e eu à eles. Estávamos os três sem reação alguma. Eu estava louca?
- Não sou Enzo, -disse- sou Pedro.
- Pedro? - eu estava confusa.
- Sente-se aqui querida, vou buscar um copo d'água pra você. -disse a mãe de Enzo, mas eu recusei.
- Eu só quero saber o que está acontecendo. Por favor, digam que eu não estou louca! - eu estava desesperada.
- Não, você não está Emanuela. É tudo muito novo para mim também, apenas tente ficar tranquila e vamos conversar. - disse ela, olhando em meus olhos.E então, tudo foi esclarecido. No dia que Enzo nasceu, os médicos disseram que seu irmão gêmeo não havia resistido. Mas a verdade, é que o outro bebê havia sido roubado por uma enfermeira. Ela cuidou muito bem dele, com todo o amor de mãe e o deu o nome Pedro. Sua mãe de criação não era casada e não tinha nenhum filho, mas nunca escondeu que ele era adotado. Só que, há três anos, essa mulher ficou muito, muito doente e resolveu contar a verdade para Pedro. Ele ficou muito magoado, mas a perdoou. Quatro dias depois ela morreu.
Depois disso, Pedro não desistiu de encontrar suas origens, e encontrou.- Caramba... - foi a única coisa que eu consegui dizer depois de ouví-los.
- Pois é, nós entendemos como você se sente. É uma coisa nova para todos nós. -disse Pedro.
- Eu vou fazer um café e alguns lanchinhos para nós. -disse a mãe de Enzo, agora mãe de Pedro também.
- Precisa de ajuda? - perguntei, mas ela negou.O silêncio na sala ficou um pouco desconfortável, eu estava ali com uma pessoa idêntica à Enzo, mas que não era Enzo.
- Mas e então, eu já falei muito sobre mim. Agora acho que é a sua vez. -disse Pedro, quebrando o silêncio.
- Bom, se eu fosse outra pessoa, eu não iria gostar de saber sobre a minha vida.
- Mas você não é.
- O que é uma pena... -baixei a cabeça.
- Ei, acabamos de nos conhecer e não foi de uma forma tão legal ou comum. Só não deixe o clima mais estranho do que já está. Vamos lá, você parece ser uma garota legal.
- Enzo era meu namorado.
- Ah...Ficamos sem o que falar por mais alguns minutos, até que o café e os lanchinhos chegaram.
- Nossa, está uma delícia! -disse Pedro.
- Obrigada. Manu, nem perguntei como você está, querida. Está tudo bem com você? -perguntou a mãe de Enzo.
- Ah, estou... Eu acho. Bom, eu voltei a fazer as consultas e os exames diariamente, estou cuidando melhor da minha alimentação.
- Sério! Mas que ótimo. - exclamou ela, enquanto Pedro não entendia nada - e a sua memória?
- Ah, ela está voltando aos poucos. Enzo deve estar feliz por mim.
- Deve mesmo, eu também estou querida. - disse ela, e pegou as xícaras para levar à cozinha.Eu olhei para Pedro, que estava distraído com os desenhos da almofada, o que o tédio não faz com a gente?
Ele era igualzinho a Enzo, lindo. Deu até vontade de chorar, ou de gritar e agredi-lo e dizer 500 vezes "VOCÊ NÃO É ENZO VOCÊ NÃO É ENZO VOCÊ NÃO É ENZO" mas a única coisa que eu disse foi:
- Você é idêntico à Enzo...
- Eu queria tê-lo conhecido. -respondeu-me
- E eu queria que ele estivesse aqui comigo. - chorei.Logo sequei as lágrimas, mal conheci e já estava assustando Pedro com meus surtos. Desculpei-me e contei a minha história, já que ele havia pedido que eu falasse sobre mim. A mãe dele apenas me ajudava a contar a história quando eu não aguentava soltar as palavras.
- Olha, me desculpa Manu. Eu não queria fazê-la chorar. - disse Pedro, sem saber o que fazer.
- Está tudo bem. As pessoas em minha volta já estão acostumadas comigo assim. Esse é meu jeito, desculpe... Mas estou sempre chorando.
- Eu sei o quanto é difícil, -disse a mãe deles, segurando em minha mão -mas lembre-se: Enzo, na verdade não só ele, mas todos queremos te ver feliz.
- Sim, sim... -sequei as lágrimas.Nem vi o tempo passar, quando estava quase anoitecendo, voltei para casa.
- Está tudo bem pai? -perguntei ao entrar.
- Sim.Bom, ultimamente meu pai não estava agindo como antes, era como se tudo o que aconteceu nos últimos tempos tivesse mudado a sua personalidade.
- E você, filha? Passou a tarde toda na casa da mãe de Enzo?
- Sim pai, você nem imagina o que aconteceu. Hoje o dia foi cheio de emoções.Pendurei o casaco e me sentei ao seu lado no sofá, contei à ele como havia sido meu dia, contei da ida ao cemitério e sobre Pedro. Contei ao meu pai que por alguns instantes, eu pensei que havia enlouquecido. E no fim, acabei deitando em seu colo e mais uma vez chorei.
Eram muitas informações para absorver em apenas um dia.

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Os Destroços
Random" A Bomba Relógio explodiu, e os destroços que sua explosão deixou foram lágrimas, tristeza, solidão e depressão. Meu coração estava despedaçado." Acompanhe o desfecho da história de Emanuela, será que finalmente ela terá um final feliz? Autora dá...