Memorial

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Como toda boa história clichê, essa começa com uma tragédia.

Minha amiga morreu, na verdade foi assassinada, Jessica Tayler.

Ela era tão linda, inteligente e popular. No dia em que fiquei sabendo de sua morte, algo em min morreu junto com ela.

Sei o que vocês devem estar pensando, que eu estou exagerando, por não ser tão próxima dela assim. Na verdade já fomos sim muito amigas, na oitava série, éramos inseparáveis, mas depois ela conheceu um grupo diferente de amigos e eu apenas aprendi a viver sem ela.

Mas no dia que eu soube de sua morte, tudo aquilo volto, minha mente fico perdida em um universo onde eu e ela éramos amigas ainda, onde ela estava viva e feliz.

Mas o que quero conta mesmo é sobre o início de como tudo começou, como eu acabei.... Morta.

No funeral dela, toda a escola basicamente estava lá, pessoas falsas e vazias que apenas tiravam fotos para postar em suas redes social com hashtags e emojis tristes. Tão patético.

Eu estava sentada na primeira fileira. Usava um vestido preto e um chapéu também preto, não estava chorando, não conseguia mais.

Depois que todos os familiares fizeram os seus discursos, foi a vez de Brad Rerold, o namorado da falecida, ele subiu na pequena plataforma de madeira e pegou um papel amaçado de seu bolso, seu olhar não era de triste, não estava chorando como um namorado deveria estar no enterro de sua namorada, mas talvez ele só estivesse cansando de chorar, como eu.

Mais eu sabia que isso não era verdade, pois ele traia ela direto, inclusive até comigo ele já pediu para ficar, lógico que eu recusei, ele não presta.

Ele olhou para todos que estavam ali, limpo a garganta e começou a falar, lendo o que estava no papel.

- Estamos aqui hoje - ele fez uma pausa -  por que uma das melhores pessoas que já existiu, não se contra mas entre nós, ela era mais que uma namorada, era uma amiga. Eu a amava mais que tudo nesse mundo, e não sei como eu vou conseguir viver sem ela. Não sei se serei capaz de superar -

Aquelas palavras estavam me enjoando, era óbvio, pelo menos para min, que ele não gostava realmente dela e que ele só estava ali, falando aquilo para chamar atenção e isso me enojava.

  - Eu sei que agora ela está em um lugar melhor, e isso é reconfortante de certa forma. Eu amo e sempre vou amar você - ele se vira para a grande foto de Jessica - E nunca vou estar preparado para te dizer adeus -

E então, lágrimas falsas surgem de seus olhos azuis, aquilo era ridículo, todos que estavam ali estavam sendo pessoas horríveis, chorando e fingindo que se importavam com ela, mas ninguém a ajudou quando estava viva, apenas a julgavam pelos seus erros.

Mesmo sendo popular, Jessica tinha problemas. Problemas que ninguém tinha coragem de mencionar naquele funeral de merda.

Assim que o Brad volto para o seu lugar, eu me levantei e subi até lá, mesmo que não fosse planejado, eu iria falar, não aguentaria mais aquela falsidade.

Subi no palco e um silêncio mortal pairo pelo local, minha boca fico seca. Cheguei perto do microfone.

- Jessica era uma pessoa muito especial - comecei - Mesmo que não fossemos mais tão amigas, eu a amava, ela era importante para min... Ela me deixo, não por completo, ainda nos víamos e conversamos de vez em quando, mas não era como antes - meus olhos começaram a se encher de lágrimas - Jessica foi assassina... Assassina meu Deus, como alguém pode ter invadido a casa dela e a matado, assim a sangue frio ? Como alguém consegue tirar a vida de outra pessoa ? - eu estava falando mais alto, queria que todos prestassem atenção em minhas palavras - Jessica não merecia isso, e sabe o que mais ela não merecia ? Um funeral tão cheia de gente tão fazia - todos se entre olharam - Vocês são tão falsos, a maioria de vocês nem sabe se quer o nome inteiro dela, ou quantos anos ela tinha, ou que o filme preferido dela era operação babá, vocês não se importam não é mesmo ? A única coisa que querem é postar em seu Instagram coisas relacionada a ela só para ganhar likes. Ela tinha problemas, e ninguém quiz ajudá-la, ela usava drogas, disso todo mundo sabia né ? Para fazer fofocas maldosas ou espalhar uma foto dela bêbada, todos lembravam dela, ninguém a ajudou, e eu nunca vou poder me perdoa porque eu também não fui capaz de ajudá-la, eu não estava lá quando ela estava bêbada caindo por aí enquanto vocês a filmavam. Eu sou tão errada quanto qualquer um aqui. O namorado perfeito ali - apontei para o Brad -  O que "nunca vai conseguir superar" sua morte, traia ela todos os dias, até comigo ele já pediu para ficar - todos o olharam, Brad se levantou e saio.

- Vocês não mereciam a Jessica, eu também não - disse isso e sai do palco, estava cansada Daquele lugar, tinha que ir embora.

Minha mãe não pode me lavar naquele dia ao funeral, pois estava trabalhando como sempre. Andei até o portão do cemitério, foi quando David Miller agarrou em meu braço.

- Você está bem ? - ele me perguntou.

-sério que você me fez essa pergunta ? - revirei os olhos.

- E-eu sinto muito -

- Eu também - disse a ele enquanto me virava e saia do cemitério.

David era legal, ele gostava de min, não queria ser grossa com ele, mas estava tão atordoada.

Caminhei de volta para minha casa que não era tão longevo cemitério, era umas 4:45 tá tarde, estava nublado e frio.

Quando estava no portão de minha casa ouço alguém me chamar, eu reconheci sua voz. Era Brad

- O que você quer ? - perguntei rudemente a ele abrindo meu portão.

- O que foi aquilo ? - ele parecia bravo

- O que ? Fico bravo porque eu contei a verdade ? -

- Não era da sua conta - ele falo baixo tentando conter sua raiva.

- Ela era minha amiga -

- Fodasse - ele grito - Se você fala algo sobre min ou Jessica de novo eu te mato me ouviu ? - ele pegou forte em meu braço.

- Esta me machucando - gemi de dor

- Abre a boca de novo que vou te machucar muito mais - ele solto meu braço e atravessou a rua, saindo do meu campo de visão.

Não estava com medo, nem chocada, ele era um babaca. Entrei na minha casa e fui para meu quarto, olhei uma foto minha e da Jessica no meu celular. Ela não merecia aquilo.

Meu pulso doía, estava vermelho pelo aperto que Brad deu.

Antes tudo parecia tão insignificante, mas agora que eu estou morta eu vejo. Que tudo aquilo era um sinal, de que algo ruim iria acontecer. E o que vem depois só piora.

Não se esqueça, eu ainda estou morta, mas lembre-se de quem ainda está vivo.

Descanse em paz ElisabethOnde histórias criam vida. Descubra agora