30. A Filha do Rei

209 10 5
                                    

Elwën Greenleaf, filha do Rei Thranduil, andava por Valfenda após a meia-noite. Isso era um costume que ela mantinha desde que sua irmã, Alariën, saíra de casa para viajar pela Terra-Média. Assim como sua mãe, ela tivera um pressentimento ruim sobre a irmã, mas ela não fugira de casa no meio da noite para encontrá-la​. Elwën não podia deixar de se sentir desamparada sem a mãe ali; Tauriel nem ao menos se incomodara em avisar seus filhos de que partiria, sem saber quando voltar. Se algo ruim acometesse a ela, eles não teriam uma chance de se despedir. Fora uma surpresa quando, ao acordar, Elwën descobrira que a mãe havia ido embora com pelo menos cem elfos de Valfenda; ela confiara em cem servos, em vez de seus próprios filhos. Elwën sempre repetia para si mesma para parar de pensar nisso, mas era inevitável. Ela agora estava sozinha, sem apoio e sem saber o que fazer além de esperar o tempo passar e torcer para que Tauriel e Alariën voltassem logo para casa.

Na entrada de Valfenda, uma ponte estreita levava às montanhas, sombrias e silenciosas durante a noite fria. Elwën gostava de andar por ali durante a tarde, especialmente no pôr-do-sol, mas a visão daquele lugar à noite chegava a ser um pouco assustadora. Sussurros indistintos pareciam ecoar até o Vale de Imladris, fazendo a princesa estremecer.

Coberta por uma túnica sedosa, Elwën se aconchegou mais nas roupas quentes. As luzes na Última Casa Amiga estavam quase todas apagadas, exceto as do quarto de Elwën e do corredor que levava até às portas de entrada. Os elfos dali dormiam cedo, e era raro encontrar alguém acordado após a meia-noite, por isso aquela era a hora preferida de Elwën para um passeio noturno. Ela não cansava de apreciar a beleza do lugar em que morava, assim como sua irmã Alariën também o fizera. As duas gostavam de passear pelos quintais e pelos jardins, cumprimentando os elfos de Valfenda e sempre ajudando no que podiam. Agora, sem ela, Elwën não tinha o mesmo ânimo para tais caminhadas. Era raro que a vissem fora de casa durante o dia, exceto quando ela precisava sair por ordens de Elrond; ele não era seu pai, mas Elwën o tratava e o respeitava como se fosse. Sempre gostara muito dele, e quando podia ajudá-lo de qualquer forma, ela assim o fazia. Elrond também tinha um grande apreço por ela, apesar de ela ser uma lembrança constante do passado de Tauriel, um passado que, Elrond desconfiava, a esposa nunca havia esquecido por completo.

Um vento frio soprou. Elwën estava quase se preparando para entrar quando ouviu passos atrás de si, vindo da porta de entrada. Um feixe de luz iluminou o espaço que Elwën estava, e ela logo reconheceu a fina silhueta de Ainariël, sua irmã mais nova. Assim como ela, Ainariël estava agasalhada com um grosso casaco de pele, a cauda de um vestido azul deslizando pelo chão.

- Por que está arrumada a essa hora? - Elwën perguntou, olhando o bonito vestido que a irmã usava.

Ainariël se postou ao lado dela.

- Passei a noite na casa da Senhora Alatariel, como eu havia lhe avisado hoje de manhã. Ela e Lindir me convidaram para a ceia. Não se lembra?

Elwën tentou se lembrar, e de fato, Ainariël a havia chamado pela manhã, muito contente, para falar sobre o convite.

- É verdade, perdoe-me. Eu me esqueci.

Ainariël sorriu, embora seu rosto estivesse preocupado.

- Estás bem, irmã? Não me parece a mesma há muito tempo. Tive receio de perguntar antes, mas... O que está acontecendo?

Elwën não soube responder. Pensava que não teria uma resposta certa para aquela pergunta, pois ela mesma se perguntava isso todos os dias. Mas agora, que ela realmente ouvira isso de outra pessoa, parecia saber exatamente o que dizer.

- Meu coração está confuso e magoado. Nossa mãe saiu em busca de Alariën, apesar de nada sabermos sobre essa busca e o verdadeiro motivo dela ter saído tão subitamente e sem que ninguém soubesse, até mesmo o pobre Senhor Elrond. Eu posso ver o quão decepcionado ele está, e sei que você também viu isso.

A FILHA DE VALFENDA - Contos da Terra Média (Livro 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora