Um Pesadelo?

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Samantha encarava o espelho enquanto analisava seu corpo no biquíni cor-de-rosa que Ana Clara havia lhe comprado na véspera. "Tinha que se rosa... AFF!"

Apesar de não gostar da cor, ela também não queria ser ingrata com a nova amiga. Então só agradeceu e aceitou o presente. "Amiga. Engraçado pensar que dois dias atrás considerava a possibilidade de chamá-la assim praticamente nula. Mas ela é tão legal... Tão animada, que às vezes fica chata." A menina ría dos próprios pensamentos.

Mas afinal, a 'chata' daquela ruivinha tinha alguma razão. O biquíni realmente ficara muito bom nela. Realçando​ o que ela tinha de bonito e disfarçando​ o que a deixava insegura. Mesmo assim, amarrou a canga listrada rosa e branca como um vestido 'tomara que caia' improvisado, para se sentir mais composta.

Começou a mexer no cabelo. Na tarde  anterior, a mãe de Ana havia dito que um corte mais curto a deixaria com ar mais sério e com cara de mais velha. Ela gostava da ideia de parecer mais velha. Talvez isso a ajudasse a conseguir um emprego logo. Já estava farta de fazer trabalhos escolares para os riquinhos preguiçosos do colégio. O dinheiro era fácil, e ela até que gostava de fazer as pesquisas e preparar os seminários, mas estava precisando  de um emprego de verdade. Num escritório, ou coisa parecida.

Deixou os cabelos caírem pelos ombros e suspirou. "Hoje não. Hoje nada de problemas. Hoje é festa e tem uma piscina me esperando." Sorriu para seu reflexo e deixou o vestiário indo em direção ao som de risadas e o barulho de brincadeiras na água.

Ao chegar a piscina, notou os pais de Ana Clara dividindo uma rede na área coberta. Os dois sempre em clima romântico. Sofia, do lado descoberto, estava debaixo de um guarda-sol lendo um livro. "Nossa, que traça. Enfim, alguém pior que eu com livros."

Na água, Ana Clara e suas primas brincavam de passar por baixo das pernas submersas, uma das outras. Samantha não precisou pensar muito para ir na direção de Sofia.

— Parece bastante interessante. O que você está lendo? - pergunta ao parar ao lado da morena. Sem tirar os olhos da página, ela responde:

— Middiam Meireles.

— Não conheço essa autora. É nova? - Sofia apenas assente. — Ela escreve o que?

— Romance erótico. - responde simplesmente.

Samantha arregala os olhos e fica meio sem reação. "Ah. Então é isso que é tão interessante!? Safadinha..." E não consegue disfarçar o sorriso maldoso que brota nos lábios. Sofia finalmente levanta os olhos do livro e encara a menina, que tenta se recompor.

— Qual é a graça?

— Qual sua idade, Sofia?

A morena pensa um pouco antes de dar um sorriso desgostoso. — Nem sei direito.

"Mas que merda de resposta é essa?" Achando melhor não dar continuidade à aquele assunto que já estava ficando esquisito, Samantha  decide mudar de assunto:

— Seus pais estão viajando?

Mas antes que a outra menina pudesse responder, Samantha vê Urias, o amigo de seu irmão, lutando loucamente com uma espécie de animal semi-humano.

Corpo de gente e cabeça de porco, além de patas traseiras suínas fundidas ao quadril humano. Uma aberração difícil de descrever.
Com selvageria, o rapaz usa toda sua força para jogar o monstro no chão. Então Samantha acerta um tipo de martelo verde, com toda sua força na garganta do animal. Tamanha ferocidade, praticamente extirpa sua cabeça.

"Espere. É minha mão? Fui eu que fiz isso? O que está acontecendo?"

Depois ela corre por um corredor. Finalmente ela entende que está numa casa.

"Não. Não estou. Onde estou?"

Ela ainda pode ouvir a voz de Sofia falando com ela. Perguntando se está tudo bem. Mas ela não consegue responder. Parece que seus sentidos estão divididos. Parte com ela e parte...

"Onde? Onde está o resto de mim? Quem está fazendo isso comigo?"

Ela chega no final do corredor. Dentro de um quarto, outro monstro briga com uma mulher. Ela se defende e ataca com um tipo de tocha. 

"Espera. São as mãos dela!!! As mãos da mulher estão em chamas!" constata em pânico.

Samantha se joga contra a coisa, agarrando pela cintura o animal que se assemelha a um bode, e usa toda sua força para esmagar o animal, que grita e se debate, e em poucos segundos conseguiria se soltar se Urias não fosse rápido o suficiente para apunhalar a garganta da coisa com um tipo de faca de metal verde.

A jovem vê toda a cena pelo espelho de um guarda-roupas. Quando o bicho finalmente para de se debater, Samantha o solta no chão. Agora a imagem no espelho é clara. Samantha vê com seus olhos mas não acredita.

Ela olha o espelho mas o reflexo não é dela. Ela vê Filip. E depois, tudo fica escuro.

DistantesOnde histórias criam vida. Descubra agora