4 - parte 2

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Passo a noite em claro mandando áudios apaixonados para ela. Tento ligar, mas ela me bloqueou. Compro um chip numa loja de conveniência e ligo, mas cai na caixa postal. Não consigo falar com ela e algo me diz que esse tempo que está tendo não vai me fazer bem. Para que ela entenda que não vou aceitar que se afaste, mando dez vezes a mesma mensagem, de dois números diferentes, apenas para ter certeza de que ela vai receber. A mando também em todas as redes sociais dela.

"Minha pequena, não importa as merdas que fiz, você não vai se afastar de mim. Não vou permitir de maneira alguma. Te peço que desconte em mim tudo o que está sentindo, e então, poderemos conversar. Apenas não desista, porque eu nunca vou desistir de você."

Sei que ela recebeu e visualizou a mensagem, e a falta de qualquer retorno por parte dela me diz que as coisas não estão mesmo nada boas.

— Eu só quero um sinal. Uma resposta! Briga comigo, venha me bater, me acusar, faça qualquer coisa, mas reaja!

Apreendo-me de ter dado a ideia e implorado por uma resposta assim que o dia nasce. Visto-me para trabalhar e recebo finalmente uma mensagem. Pego meu celular como se fosse um pote de água no deserto, mas a mensagem não é dela. É de um número que desconheço.

"Olá, senhor Cavani. Sou o Pablo, da oficina do Pablo. Segue o endereço onde pode encontrar a carcaça do seu carro. Foi o que deu para salvar."

Abaixo da mensagem está um endereço e desço correndo até a garagem do prédio, nem sinal do meu carro. Pego um táxi até o endereço e não posso acreditar quando o vejo. Meu carro! Meu lindo BMW, está apenas a carcaça enfumaçada.

Quando eu disse a Nathalia para descontar em mim o que estava sentindo, jamais achei que me odiasse tanto.

— Sabe o que aconteceu com seu carro, senhor? Foi um roubo? — pergunta Pablo preocupado.

— Não. Foi uma mulher. Ferida e maluca. Ela pôs fogo no meu carro.

Colocamos as mãos no peito e choro a morte do meu único filho.

Já faz uma semana que tudo aconteceu e minha pequena ninfeta mal olha para minha cara. A cada aula que tenho que dar para ela, sinto-me ansioso, como uma chance a mais para tê-la de volta. Espero a cada segundo qualquer gesto dela, uma olhada que seja, mas ela apenas me ignora. Após a terceira aula torturante, ela começa a cabular minhas aulas. Estou em um dilema, pensando se devo contatar a mãe dela, não quero que ela perca uma matéria porque fui um idiota, ou se devo obrigá-la a falar comigo. Mas como o covarde que sou, não faço nenhuma das coisas. Deixo os dias passarem esperando loucamente que ela me perdoe pelo menos um pouco.

Três semanas depois, depois de doze aulas cabuladas, ela aparece em uma aula. Olha bem para mim ao entrar na sala. Sorrio aliviado, pensando que finalmente poderemos ter algum contato que seja, mas, logo atrás dela, entra o reitor. Ele cumprimenta os alunos e pede que eu o acompanhe até sua sala. Curiosamente, Nathalia vem junto. Ela não desvia mais seu olhar ferido do meu, mas também não diz nada.

Quase desmaio quando o reitor me diz porque estou ali.

— Nathalia Vaughn o está acusando de tê-la seduzido e assediado dentro da faculdade. Isso é verdade, Cavani?

Olho incrédulo para Nathalia, mas ela apenas me olha de volta. A mesma mágoa ali de antes, ela não se altera e não diz absolutamente nada. Sinto o chão sob meus pés desaparecer. Por que ela fez isso? Poderia ter me acusado de qualquer coisa se não me queria ali mais, poderia ter dito que não sou professor, mas me acusar de assediá-la? Isso vai muito além do emprego que vou perder e do processo que vou levar.

Isso quer dizer que para ela eu não signifiquei nada. Apenas um homem que a seduziu e abusou dela. Nada mais. Ela fez isso para se vingar de mim. E ela conseguiu. Isso doeu ainda mais do que o assassinato do meu carro.

O reitor espera uma resposta e digo o que ele menos queria ouvir:

— Sim, é verdade. Eu seduzi e assediei Nathalia Vaughn.

Ele coloca as mãos na testa, desolado.

— Sabe que não posso mantê-lo aqui depois disso, Cavani. E agradeça a Nathalia por não acionar a polícia. Você seria preso por isso, você ficou maluco?

— Eu sinto muito — digo mais para ela do que para ele, mas ela finge não ter ouvido. — Não posso dizer que me arrependo, Fernando. Estou disposto a aceitar qualquer punição que o senhor decidir.

Nessa hora, um soluço escapa de sua garganta e ela pede licença com a voz embargada, saindo correndo dali. Quero ir atrás dela, mas tão logo dou o primeiro passo, o reitor chama meu nome.

— Nem pense nisso. Você não vai se aproximar de Nathalia Vaughn nunca mais, você me ouviu? Se fizer isso, mesmo que seja fora das imediações do campus eu o coloco atrás das grades, Cavani. Não brinque com o nome da minha instituição.

— Entendi. Não me aproximarei mais dela.

Ele suspira pesadamente e pega uns papéis.

— Sente-se. Vou mandar preparar os papéis da sua demissão. Você vai pedir desligamento do corpo docente por questões pessoais e nunca, jamais, comente sobre Nathalia Vaughn ou essa conversa com ninguém. Você entendeu?

Eu preciso arrumar uma outra vida falsa e esquecer minha pequena.

— Sim, entendi.

Achei que fosse fácil assim, que doeria um pouco e passaria, mas eu estava muito enganado. Nathalia Vaughn virou meu mundo de cabeça para baixo, e apenas ela poderia colocá-lo nos eixos de novo.

DEGUSTAÇÃO - Estupidamente Apaixonados (Spin-off Trilogia V.D.A.)Where stories live. Discover now