Prólogo

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Aqueles olhos azuis me fitaram em meio às grades daquela caverna em forma de prisão

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Aqueles olhos azuis me fitaram em meio às grades daquela caverna em forma de prisão. Eu ainda não sei diferenciá-los, mas sabia que era alguém da realeza. Ele não disse nada, apenas olhava com desprezo a nova prisioneira - eu.

Senti meu rosto corar sob seu olhar fulminante. Sua face era realmente excêntrica e dotada de grande beleza, e, apesar de não saber que se tratava do príncipe ou do rei, eu não fiz questão de me prostrar diante dele. Ele falara com autoridade, os outros o chamaram de majestade enquanto ele me julgava por estar em seu reino, cavalgando durante a noite e sendo perseguida por um monstro em forma de aranha.

Meu braço ardia em chamas. Um arranhão pingava sangue enquanto meu rosto permanecia manchado de terra e um pouco de fuligem da fogueira, que eu fiz antes daquele enorme bicho chegar e quase me matar.

Fugi de casa, sim. Eu não quero me casar com Kirkel e não sabia como escapar disso. Essa ideia de casamento arranjado é tão estúpida, que sinto minhas entranhas corroerem-se ao meu desalento diário. Eu quero ser livre para fazer minhas próprias escolhas, acima de tudo, e não seria um empecilho como aqueles que me faria desistir. A Floresta das Trevas era a pedra em meu caminho, mas a retiraria com grande esforço e continuaria a vagar pelos ermos da Terra Média até encontrar o meu lugar.

Se ele era majestade, então era o rei Thranduil de que todos da cidade do Lago comentavam. Mas, considerando a ignorância de muitas pessoas, poderiam chamar o príncipe por majestade também, mesmo quando o certo é alteza. Enfim, aqui, presa, toda essa sabedoria não me servia de nada se nem ao menos eu conseguia convencer o rei a me libertar.

Cheguei até a grade a fim de encarar um pouco o elfo. Suas vestes douradas bordadas com pedrarias verdes eram magníficas, e seu semblante petrificado em forma rude fazia meu coração acelerar e sentir um arrepio em minha espinha.

O que o rei fazia ali sendo que não acreditava em uma palavra saída de minha boca?

– Diga-me o que estava fazendo em minhas terras, e eu lhe solto. – o elfo repetia o que ele me disse horas atrás, antes de me mandarem ser trancafiada nessa jaula podre.

Fitei-o com segurança. Afinal, não era só porque ele era da realeza, que eu abaixaria minha cabeça.

– Não estava fazendo nada em suas terras, meu senhor. Já lhe disse, e é a verdade.

– Atraiu aquela maldita aranha. – Ele continuou. Sua voz tão calma que me fazia querer esbofeteá-lo. – Por quê?

– Eu não a atraí. – Insisti. Como ele poderia achar que uma simples garota poderia fazer aquilo?

– Pois bem. – o elfo andava devagar por entre as celas. – Permanecerá minha prisioneira até resolver contar a verdade, pois sei que há algo mais nessa história. – ele deu meia volta. – E, ah, sem comida.

Observei o elfo subir as escadas silenciosamente. O brilho de suas roupas deslizando sobre a escada fazia uma ilusão de estrelas num céu sob a luz do dia.

Mas como ele era irredutível! Não acreditava em minhas palavras, e achava que o melhor a se fazer era me deixar trancada e morrendo de fome.

Maldito!

Quando finalmente sair daqui ele se verá comigo. Darei um jeito de arranhar cada centímetro dessa face perfeita.

Deitei sobre o chão empoeirado e fechei os olhos para pensar. Estava exausta e meu corpo tremia. Haviam alguns prisioneiros, pude perceber quando cheguei, mas estes estavam longe da minha cela.

Senti-me sozinha ali no meio do fundo do poço.

Apesar das poucas amizades que tenho na Cidade do Lago, sinto falta das pessoas. Se não fosse por mamãe e papai insistirem em me casar com Kirkel, eu não estaria aqui, fugindo de um destino ao qual não concordo.

"As coisas estão difíceis, minha filha. Nosso senhor é um sugador de riquezas, e não nos sobra muito. Case-se com Kirkel, e garanta seu sustento, e quem sabe o nosso. Ele tem bom nome e posição, apesar de ser amigo daquele barqueiro e acobertar suas extrapolias quase sempre." – mamãe dizia, tentando me convencer que a fome e a miséria eram a causa para o meu casamento. Concordo que as coisas não estavam muito boas, contudo eu sempre trabalhei e cuidei de mim mesma. Tinha orgulho de ser livre, como era. Agora, ou aceitaria me casar ou eu teria de fugir. Não sei qual é a pior ideia já que estou aqui, presa e refém na Floresta das Trevas. 

A Única Exceção Do ReiOnde histórias criam vida. Descubra agora