Era um garoto que, como eu, amava os Bealtes e os Rolling Stones
Girava o mundo, mas acabou fazendo a guerra do Vietnã
Cabelos longos não usa mais, não toca sua guitarra, e sim,
um instrumento que sempre dá a mesma nota (rá-tá-tá-tá)
Não tem amig...
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Anahí acabara de chegar em casa com a correspondência. Deixara-a na mesa, ao lado da mãe, Marichelo. Christian, seu irmão gêmeo escutava a velha fita dos Rollings Stones preferida do pai, Juan*, que havia sido convocado à guerra do Vietnã. Nenhum norte americano entendia ao certo o envolvimento dos EUA na guerra, mais ainda havia patriotas fervorosos que se subordinavam a ir para a guerra de boa vontade. Juan não era um desses. Ele não ansiava em ir para a guerra – fora convocado pelo exercito americano. Desde então, Anahí, Christian e Marichelo viviam num drama sem fim. Nunca tiveram notícias dele. Era difícil saber quem mais sofria. Doía em Anahí ver Marichelo e Christian abatidos, por tanto, ela tentava ser forte. Mais forte do que até ela mesma acreditava que fosse. Marichelo lia com pesar os remetentes da carta, enquanto Anahí começava a preparar o almoço. Alfonso, o melhor amigo de Annie entrou pela porta. Anahí gostava dele pois por pior que a situação estivesse, ele sempre estava contagiado de um bom humor desumano. E fazia com que todos a sua volta sentissem absolutamente o mesmo. Ele já nem era considerado uma visita, era de casa. Por isso não batia à porta nem chamava. - Oi Annie – Ele disse, abraçando as costas da moça. - Oi Poncho – Ela sorriu, colocando os braços sobre os dele. – Chegou em uma boa hora, precisamos mesmo de você para nos animar. - Bom dia, Marichelo - ele disse, indo até ela e dando um formal beijo na parte de cima das mãos da mesma, depois voltou até onde estava Anahí. – Que bom que precisava de mim. – Sorriu – Temo por não trazer boas notícias.
* Nome criado por mim. Não é o nome real do pai da Anahí.
- Eu já nem espero mais por boas notícias, Poncho. Só espero que não sejam de todo ruim. - Bom, alguns soldados estão na praça. Querem todos os homens com menos de trinta e cinco anos e todas as mulheres que tenham noção de medicina, com menos de trinta e cinco, também. Acho que você e Christian se incluem, por isso vim chamá-los. Preferi dar eu mesmo a notícia. - Obrigada – Anahí disse – Fico grata por ter vindo, acho. Se importa de chamar Christian? Ele está no quarto. Pode ir até lá. - Tudo bem. Eu não ia pedir se podia – ele riu, arrancando um sorriso de Marichelo, que prestava atenção a conversa. Anahí pôde ouvir os passos de Alfonso até certo ponto, então, eles desapareceram com a distancia. - Christian? – Alfonso chamou, colocando a cabeça para dentro do quarto, assim podendo ouvir a musica que vinha do toca fitas. – Ainda torturando as mulheres da casa e a si mesmo com essas músicas? Juan não ia gostar de te ver fazendo isso, Chris. - É inevitável, Poncho - ele disse, após um longo suspiro – Você sabe como meu pai gostava dessa fita, e bem, sinto falta dele. É como se de alguma forma, isso fizesse parecer que ele está aqui. - Sinto muito por isso, Christian. – Alfonso foi até ele, passando o braço por cima dos ombros dele – Logo Juan estará voltando, tenho certeza! Vai estar arrumando aquele cabelinho louro para ficar lindo para Marichelo. - Obrigada, Poncho - Christian sorriu – Queria ter metade do seu otimismo. - Você e Annie são pessimistas demais. – Fez uma careta – Me dá raiva. - A Anahí está sendo forte. – Christian defendeu-a – Mais tenho certeza que não veio aqui falar dos cabelos do meu pai. O que foi? - Estão convocando jovens à praça. E mulheres que entendam medicina. Você e Annie estão nessa. E eu. - Bem, vamos. Talvez eles tragam alguma notícia razoável. – Christian disse, tentando sorrir. Os dois sairam do quarto em silêncio, e chegaram a cozinha, onde Anahí estava. - Bem, vamos? – Alfonso perguntou – Alias, um minuto. – Ele foi até Marichelo, e segurou as mãos da mesma – Marichelo, você sabe que eu te amo, não é? Tenho certeza que Juan estará de volta logo. Não fique tão triste, está bem? - Tudo bem – ela disse, beijando a testa de Poncho – Eu também amo você. Obrigado por fazer bem aos meus garotos. - Faço o que posso – ele disse, dando um sorriso torto – Até logo. - Até – Marichelo respondeu. Os três andaram lado a lado, e chegaram a praça abarrotada de jovens. Alfonso foi até o lado de Anahí que Christian não ocupava, e segurou a mão da mesma. Ela sorriu. Ele não percebeu quando o soldado subia em uma espécie de palanque improvisado, até que sua voz superior silenciasse toda a praça. O soldado fez um breve discurso sobre como era importante lutar pelos interesses de sua pátria, e que talvez dar a vida por isso seja um bom jeito de morrer. A julgar a idade dos convocados, o sexo e a qualificação necessária para estar ali, Anahí já entendia o que ia acontecer: uma convocação. - Vou começar a ler a lista dos convocados... – Anahí não prestava atenção. Temia por Alfonso e Christian. Ela nem percebeu quando apertou mais a mão de Alfonso, ansiosa. Queria por tudo que é mais sagrado não ouvir o nome dos dois garotos. Alfonso e Christian só tinham dezoito anos! Saiu de seus devaneios quando a voz militar soou em um nome que ela conhecia: Alfonso Herrera. Ela sentiu as lágrimas em seus olhos, enquanto abraçava o amigo apertado. Suas lágrimas só começaram a rolar com intensidade quando ouviu: Christian Portilla. Ela foi até seu irmão e o abraçou fortemente. Alfonso passou os braços em volta dos irmãos. Que pesadelo era aquele? Porque os dois? Anahí pensava que poderia ter sido com qualquer um, e talvez um milhão de pessoas se sentissem como ela naquele momento. Fraca. Impotente. Inútil. Frágil. Perdida.
Anahí não sabia ao certo o que fazer. Ela não podia deixá-los ir sozinhos. Foi então que tomou uma decisão. - Christian, Poncho eu vou me inscrever pra ser médica. – disse, por fim. - Nem pense nisso! – Alfonso disse, firme. - Concordo com o Alfonso. Você não pode ir. – Christian afirmou. - Não é uma escolha de vocês. Eu tenho que ir junto. – Anahí disse, apertando as mãos de ambos nas suas. – Eu preciso estar lá, eu preciso cuidar de vocês. - Provavelmente não iremos nem nos encontrar lá, Annie. Fique. – Alfonso suspirou, sabendo que era uma luta perdida. - Eu vou. Vocês me querendo lá ou não. – disse. - Annie – Christian disse – Na verdade acho bom você ir. Eu ficaria louco sem você. Anahí sorriu de leve, e então andou até a lista de inscrições para médicos, enfermeiras e voluntários. Ela já tinha dois anos de faculdade de medicina, então, se inscreveu para médica. Ela leu na descrição da inscrição que não poderia voltar atrás uma vez que seu nome estivesse assinado na lista. Assinou. Foi andando até em casa, sendo acompanhada por um Alfonso que se arrastava e um Christian que sorria, menos triste pela irmã acompanhá-lo. Alfonso acenou vagarosamente e abandonou-os, tomando o rumo de sua casa. - Chris... - Fala, Annie. – Christian se virou lentamente pra ela. - Acho melhor não contarmos nada à mamãe. Será melhor se fugirmos sem ela saber. - Eu ia sugerir o mesmo. Marichelo sofreria tanto... Já basta Juan estar lá. - Nós voltaremos pra ela, Chris. – Annie beijou-o na testa – Eu vou trazer você e Alfonso de volta, é uma promessa. - Não prometa o que não pode cumprir, Annie. - Eu vou cumprir, Christian. Anahí e Christian entraram pela porta da frente, e se assustaram ao ver Marichelo debruçada sobre a mesa, chorando. - Mãe? – Christian chamou, indo até ela. Marichelo nada falou, só continuou chorando nos braços de Christian. Anahí olhou na mesa, e viu uma carta aberta. Pegou-a e começou a ler em voz alta. - O exército dos Estados Unidos da América tem o pesar de informar a morte do Tenente Juan Portilla. Os EUA lhes enviará uma indenização. Sentimos muito pela enorme perda. Christian já chorava, Anahí abraçou a mãe e ao irmão. Depois de longos consolos, ela foi para o quarto e arrumou uma bolsa com as coisas que precisaria. Ajudou Christian a arrumar suas coisas também. Escreveu uma carta para à mãe. Mesmo que quisessem, ambos não poderiam dormir. A noite foi longa, e eles a passaram juntos, e apesar de não trocarem uma palavra, sentiam-se confortáveis em ter a presença um do outro. A manhã ainda não tinha chegado quando eles saíram de casa, deixando a carta sobre a mesa. A decisão estava tomada.