Cartas

Oito dias

  O amor. 
Pela primeira vez senti que estava realmente viva. Que não passava apenas de ossos e carne. Que não era so agua, sangue e ar. Não era apenas o que aparentava. Não era apenas uma humana na terra. Era alguém que estava viva.
  Podia sentir a brisa fria e suave a bater-me na cara. Os meus cabelos ao vento. Os meus longos cabelos castanhos. Eram suaves e cheiravam a baunilha.
Os meus pés. Enterrados na areia fina e branca. Aquela areia que se entranhava em todo o meu corpo e me deixava marcas. Aquela areia que me escorria pelas mãos sempre que pegava num montinho. Aquela areia que trazia paz e sossego à minha cabeça.
  De seguida vinha a água. A água azul e transparente. A água que insistia em trazer-me lembranças de quando era pequena. Aquela água atrevida que se atrevia a chegar-se a mim. Ela que trazia algas, búzios, peixes. Ela trazia tudo de mais bonito que tinha.
  Olhei mais fundo. O ceu. Afinal onde começava e acabava o ceu? As pessoas chamavam-lhe horizonte. Horizonte. Que palavra bonita de se dizer. Era o fim do mar? O fim do ceu? Ou era apenas uma linha imaginaria que fazia com que dois pedaços, cheios de nostalgia, se tocassem? Como se se estivessem a beijar. A juntar os seus corpos e entregarem-se um ao outro. O ceu e o mar.
Faltavamos nos para completar aquela paisagem. Faltava o teu abraço. Faltava o teu perfume no meu corpo. Faltava a tua pessoa ao meu lado. Faltava o teu beijo, o teu sorriso. Faltavam as tuas piadas sem graça. Faltava completarmo-nos. Mas acima de tudo faltava uma coisa mais importante. O que era mais importante que tu e eu. O que faltava que era mais importante que nos dois juntos? O que faltava que era mais importante do que os nossos corpos a tocarem-se? O que seria? Seria velas? Seria flores? Seria chocolates? Não. Nada disso estava la e nada disso faltava.
Tu chegaste finalmente. Disseste qualquer coisa mas eu não ouvi. Estava distraída com uma coisa mais importante... o amor.