Acerto de contas

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Fazia meia hora que Leonardo batia à porta do quarto de Cristina, não sabia se ficava preocupado ou irritado, sentia que ela estava bem, mas sem uma resposta dela, não conseguia pensar em coisas boas. Cansado, meteu o pé na porta e a arrombou. A moça continuava dormindo, agarrada a um retrato.

— Cristina, acorda! – Ele deu também um safanão para garantir.

Ela abriu os olhos, confusa e se sentou na cama. A primeira coisa que ele reparou foi em seu rosto, marcado por lágrimas e os olhos inchados. A segunda coisa, o fez sorrir, mas em seguida se virou de costas, sem conseguir fazer o sorriso abandonar seus lábios e com dificuldade para ordenar os pensamentos.

— Você está bem?

— Estou, só sinto um sono infinito. – Respondeu, estranhado a atitude de Leonardo em virar de costas. Bocejando, se espreguiçou. — Merda! – Exclamou, puxando o cobertor para esconder seu corpo e só então reparou na porta de seu quarto, que estava no chão. — Minha porta! O que...

— Não estava conseguindo te acordar, estava chamando e você não respondia, acabei tendo que entrar à força.

— Pode se virar, já estou coberta.

— Desculpa pela porta. – Ele a encarou, um pouco decepcionado, mas sem demonstrar.

— Tudo bem, estou acostumada a dormir com barulho, tenho um sono pesado, foi mal não ter respondido. Só não imaginei que fosse encontrar minha porta no chão, você podia ter quebrado a fechadura, sei lá.

— Não pensei nisso, mas eu arrumo a porta. – Ele indicou os pés da cama e ela assentiu, se afastando para dar espaço. — Eu fui ao mercado, pedi que Cintia fosse comigo. – Começou sentando na cama. — Estou fazendo comida, está com fome?

— Sempre. – Sorriu, sem jeito. Já conseguia sentir os protestos de seu estômago.

— Então se prepara, daqui a pouco fica pronto.

— Obrigada. – Disse, esperando que ele lhe desse licença.

— Ah, verdade. – Se levantou, sem graça.

Leonardo saiu, encostando a porta no batente, do jeito que deu.

Cristina pegou o retrato e devolveu ao criado mudo, observou a sua volta, pensando na saudade que sentiu do seu espaço, da sua cama, mas inevitavelmente, lembrando do que passou na rua. Raiva, essa era a única coisa que conseguia sentir, agora que tudo vinha a sua mente de forma ordenada e coerente.

Analisou suas mãos, mais especificamente, suas unhas quebradas. Puxou da gaveta uma lixa para arrumar o estrago e observou o alvo em sua parede. Assim que terminou, pegou uma blusa regata do guarda-roupa, uma calça jeans e sua jaqueta favorita. Não precisava tomar outro banho, apenas passou um creme para hidratar sua pele, prendeu seus cabelos e calçou suas botas. Não usaria maquiagem, estava sem paciência para isso.

Se abaixou perto da cama e de debaixo dela, puxou um baú empoeirado. Ali estavam todas as coisas de sua mãe que conseguiu salvar da madrasta, mas nunca parou para ver o que eram e algumas coisas de seu pai. Pegou o conjunto de facas e adagas, precisava saber se ainda era boa de mira.

Seu pai foi atirador de facas durante anos em um circo e ensinou sua filha durante a adolescência toda, até que Liana apareceu e deixou claro que não gostava de lembrar do passado do marido, fazendo os treinamentos cessarem. Cristina aprendia rápido, então tratou de colocar um alvo em seu quarto e sempre praticava, principalmente nos momentos de raiva, imaginando Liana no lugar do alvo.

Ela ficou de frente para o alvo, posicionou uma das facas e arremessou, não foi ao centro, mas estava bem. Se concentrando mais e usando sua raiva, disse: — Geraldo. Dessa vez acertou o centro, sua respiração estava pesada, seu corpo tremia.

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