Nos algures de Brasília, 2016.
Sentado, o homem assistia o início do fim. O fim do mundo, pensava ele, e era verdade. Girou o copo para misturar o gelo no whisky. Sortiu de um gole generoso, amargo. Era uma noite abafada, típica da cidade, não havia vento lá fora. Olhou pela janela do bar, imaginou quantas pessoas estariam de luto junto com ele.
Era engraçado.
Ele a odiava, a odiava de sentir o rosto ferver, no entanto, agora estava em luto. Era a morte do Brasil, a eutanásia de um paciente em coma.
Sentindo-se um tanto tonto, o sujeito negou a dose oferecida pelo bartender. Algo, em seguida, vibrou em seu bolso, era o que ele esperava. Sacou o celular, forçou os olhos e leu o que dizia na tela.
Abriu um sorriso.
Levantou-se em seguida, o banquinho rangeu. Pagou em dinheiro e se dirigiu para fora do bar. Enxugou o suor da testa, a bebida havia lhe esquentado o sangue.
Estalou os dedos, calçou as luvas de couro que carregava nos bolsos e abriu a porta do carro. Um fusca preto, discreto de acordo com ele.
O motor do veículo roncou, fez a carroceria tremer. O sujeito ajeitou o GPS no celular, largou o aparelho no banco e seguiu a marcação.
Enquanto vagava pelas vazias avenidas, o homem se via no retrovisor, torcia os lábios ao encarar as olheiras, ao que fizera consigo.
Eu sou capaz... lembre-se do juramento!
O homem apertou os dedos no volante, acelerou o carro, virou algumas esquinas e seguiu adiante por mais alguns quilômetros.
Levou-se um tempo até que o GPS acusasse a localização. O sujeito abriu a janela do carro, olhou para o outro lado da rua, sabia que, naquele prédio, alguma coisa de errado acontecia.
O fedor de ferro ali era mais forte. Checou o relógio e viu que já passava das três da manhã. Tirou do porta-luva um óculos de lentes negras feito a noite, saiu do veículo e então abriu o porta-mala.
Escarrou com força um pigarro no chão. No compartimento, tirou de lá uma escopeta, carregou-a com seis cartuchos vermelhos, apoiou-a nas costas. Na cintura, dois coudres com .45 prateadas, novinhas em folha.
Caminhou até o outro lado da rua, deu dois toques na porta.
Uma corrente unia a fresta, e um olho saltou para ver quem estaria ali.
— Que diabos tu quer, caralho?
— Tem seiva? — perguntou o homem, buscava esconder o rosto atrás da porta.
— Não tem essa merda aqui não.
— Tem certeza? — o sujeito apontou o cano para o olho do rapaz, que, desesperado, abriu a porta num único estalo.
— Caralho, mermão, você?
— A vida na política nem sempre é tão fácil — respondeu Messias. Permaneceu com a arma apontada para o rapaz, um cara gordo e careca.
O homem ergueu as mãos, trêmulo.
— Me leve até eles — ordenou Messias.
— Eu não sei do que você tá falando, cara!
Forçou o cano contra o nariz do homem. Não precisou de mais palavras.
Os dois seguiram até uma porta de aço, ainda tremendo, o parrudo tirou as correntes que a prendia. Música eletrônica podia ser ouvida do outro lado, Messias, junto ao rapaz, vagaram pelas pessoas que dançavam e se drogavam até parar em outra porta, esta guardada por dois seguranças.
O gordo olhou para trás e não enxergou mais nada, quando virou-se, os guardas estavam mortos no chão.
Messias encaixou melhor o silenciador na pistola e vagou pelo corredor mal iluminado, parou quando ouviu vozes atrás da parede.
O recinto fedia a sangue, ferro puro.
Abriu a porta devagar, andou a passos lerdos até que mordeu os lábios quando testemunhou a cena.
Homens de ternos, todos eles, empapavam-se de sangue. Uma prostituta com a boca arreganhada tinha um rasgo no pescoço, sangue vertia pelo corpo da mulher.
Os sujeitos lambiam os seios da moça, fartavam-se do sangue que escorria por dentro das coxas e enxarcava no sexo.
A escopeta estalou, os vampiros pararam de repente, fitaram o breu. Seus olhos se arregalaram quando os tiros começaram.
Prata voou para todo lado, pedaços de cérebro e de carne escorreram pela parede em questões se segundo.
— Maldito — cuspiu um deles que levara um tiro na perna, seu joelho fora estraçalhado. — Você acha que matando alguns de nós vai resolver o problema? Você é um idiota! Agora, com aquela faixa, um de nós governa nessa merda toda! — tornou a cuspir, suas presas saltavam para fora da boca.
— É por baixo que se passa a rasteira — disse Messias, deixando a última bala encravada no peito do homem.
Vagou por entre os corpos com cuidado, amaldiçoou o sangue que respingara na roupa. Tirou do paletó de um deles um celular, saberia agora para onde ir outra vez.
O trabalho estava apenas começando.
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PRESIDENTE DE SANGUE (conto)
Short Story+18| SEU NOME É MIKAEL TEPES, também conhecido como Michel Temer, atual presidente do Brasil. Desde a queda dos vampiros na América, por Abraham Lincoln, os devoradores de sangue traçam nas sombras a sua vingança. Aproveitando-se da fragilidade polí...