Capítulo 27

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    • Sofia •
Ouvi seus gritos pela casa e me odiei por não poder fazer nada. Cada choro ou grito seu é como se uma faca fosse cravada em meu coração. Me sinto tão culpada. Quando estou aqui fica difícil impedir que algo aconteça a você. Quando estou aí, sempre tomo o seu lugar. Não pense que me arrependo por isso. Prefiro ver essas marcas pelo meu corpo do que no seu.
Eu sei que você sente falta da vida que levava, eu sinto também. Sinto falta dos nossos vizinhos, de ver o sol todos os dias. Imagino que você esteja morrendo de saudades do Seu Luquinha. Vocês dois eram tão grudadinhos. Se algum dia vocês voltarem a se falar, diga a ele que eu sempre gostei muito da amizade de vocês e que sinto falta de ver o cuidado que ele tinha com você. Sinto tanta falta da Karina, do Paulo e do Lê. Eles se tornaram a nossa família depois que o seu pai foi embora.
Passei os últimos 4 anos trancada nessa casa. Vez ou outra o Gabriel me solta pra dar uma volta só para o vizinhos não reparar. Tudo o que eu mais peço é que algum dia eles notem isso e denunciem esse monstro.
Soltar é uma palavra forte, na maioria das vezes é usada para animais, eu sei. Mas é assim que me sinto. Um animal preso em uma jaula! Eu sei perfeitamente como esses animaizinhos se sentem, só que alguns deles têm mais sorte que eu e tem donos com um bom coração.
Você deve estar se perguntando o porquê dessa carta, já irei te responder. Hoje tomei uma decisão, eu sei que você vai me odiar, não posso impedir esse sentimento, acho que no seu lugar sentiria a mesma coisa. Eu vou fugir! Fugir pra bem longe daqui, mas prometo que volto pra te buscar.
Se eu conseguir escapar e despistar o Gabriel e o Danilo, irei trabalhar duro, juntar dinheiro e te tirar dessa vida. Não sei quanto tempo vai demorar pra isso acontecer, mas tenha a certeza que voltarei. Mesmo que se passem 80 anos, eu estarei velha mas estarei aqui, a sua procura.
Você pode pensar que é um ato egoísta da minha parte e eu sei que é. Mas eu sei também que se fugir nós duas, tudo será mais difícil. Não quero que você passe fome, sede ou frio. Na verdade estou entre a cruz e a espada. Não sei o que é pior, se é te deixar aí com dois monstros ou te deixar morar na rua comigo.
As únicas coisas de valor que tenho é você, a sua irmã e um terreno que deixei em seu nome. A escritura está debaixo dessa carta, se quiser pode procurar um cartório, mas já está tudo certo. Se eu não conseguir voltar a tempo de te ver crescer, junte as suas coisas, pega essa escritura, peça ajuda ao Lucas, tenho absoluta certeza que ele não te negará esse pedido e suma daí. Construía a sua própria casinha e vá viver longe desse inferno.
Talvez você nunca me perdoe por isso. Jamais irei te obrigar a me perdoar, mas saiba de uma coisa: independente do que você vier a sentir por mim, irei te procurar e te contar tudo. Irei esclarecer todas as suas dúvidas e se mesmo assim você quiser que eu suma no mundo, atenderei seu pedido.
Todas as noites irei rezar por você meu Pimpolhinho!
Levo comigo seu coração e uma foto de nós três. Espero que a sua irmã tenha um coração tão bom quanto o seu!
Amo vocês!
Fica com Deus minha filha. Onde quer que eu esteja não esqueça nunca que eu amo você e que nunca irei te esquecer!
Com amor Mamãe Pimpolhão!"
Eu não enxergava mais as últimas frases por causa das lágrimas. Agora eu entendo o porquê de ela ter ido embora.
Lucas: Chora, coloca isso tudo pra fora. - Me abraçou. Encostei minha cabeça em seu peito e deixei que minhas lágrimas molhasse sua camiseta.
Sofia: Eu passei a minha vida inteira odiando alguém que passou pelo mesmo que eu. - Solucei.
Lucas: Você não tinha como saber disso. - Afagou meus cabelos. - A vida dela era ainda pior que a sua.
Sofia: Por que eu sou tão ruim assim? - Olhei pra ele.
Lucas: Você não é ruim, meu amor. - Segurou meu rosto em seus mãos. - Você não tinha como saber disso tudo. A Suzana mesma disse que no seu lugar não saberia se perdoaria. Você é uma pessoa boa. - Secou minhas lágrimas com os polegares. - Você é boa e seu coração é melhor ainda. Essa carta serviu pra você saber a verdade.
Sofia: Eu preciso procurar ela. - Voltei a encostar minha cabeça em seu peito.
Lucas: Eu vou te ajudar. - Beijou meus cabelos.
Sofia: Será que era ela no mercado? - Voltei a olhar pra ele. - Talvez a tua mãe esteja certa.
Lucas: Tem grandes chances de estar. - Chorei segurando a carta e as fotos. Quando me acalmei, quase meia hora depois, o Lucas pegou minhas coisas na sacola e eu peguei o bauzinho e o meu travesseiro. Assim que abrimos a porta do quarto demos de cara com a Bárbara.
Sofia: O que você está fazendo aí?
Bárbara: Você está chorando?
Sofia: E você está preocupada? - Juntei as sobrancelhas. - Vai se fazer de boazinha pra outra pessoa, não pra mim. - Passei por ela.
Bárbara: Vocês dois estão juntos?
Lucas: Estamos. - Respondeu rápido.
Bárbara: De verdade? Você merece coisa melhor. - Olhou para o Lucas.
Sofia: A máscara de boazinha já caiu? Dessa vez foi mais rápido.
Lucas: Eu já tenho o melhor, Bárbara. - Segurou minha mão e voltamos a caminhar.
Bárbara: Preciso que volte pra casa. - Parei de andar e me virei pra ela. - Eu não sei cuidar dessa casa sozinha, não tenho dinheiro pra me sustentar. Vão cortar a luz semana que vem e eu não tenho dinheiro pra pagar.
Sofia: Não posso fazer nada, a casa agora é sua e as responsabilidades também. Você é nova, tem saúde, pode muito bem procurar um emprego e se virar sozinha.
Bárbara: Eu nunca trabalhei.
Sofia: Pra tudo tem uma primeira vez.
Bárbara: Você tem obrigação de me ajudar! - Elevou a voz.
Sofia: Não tenho não! Você nunca fez nada por mim, e quando fez foi por falsidade, agora se vira sozinha.
Lucas: Vamos pra casa. - Me puxou delicadamente. Saímos daquela casa e fomos para a dele. Assim que chegamos lá mostrei a carta e as fotos para a Dona Karina e o Seu Paulinho.
Karina: Ela sentia a nossa falta. - Sorriu mesmo chorando.
Paulo: Você precisa procurar por ela e entregar essa carta na delegacia, essa é a única prova contra o Danilo.
Sofia: Eu vou lá amanhã de manhã.
Karina: Eu vou com você!
Sofia: Obrigada. - Sorri de lado. - Minha cabeça tá tão confusa. Até ontem eu odiava a Suzana e hoje esse sentimento não existe mais.
Paulo: Você vai precisar de um tempo até conseguir entender isso tudo.
Sofia: A senhora continua achando que a mulher do mercado é a Suzana? - Olhei pra dona Karina.
Karina: Depois dessas fotos eu tive é certeza. Ela tá bem diferente agora, mas eu tenho certeza que é ela.
No dia seguinte fui a delegacia acompanhada da Dona Karina e mostrei a carta ao delegado, que no mesmo instante pediu a prisão do Danilo. Saí de lá com a sensação de dever cumprido. Agora mais do que nunca posso me sentir livre! Não tenho mais nem o Danilo, nem o Gabriel para a assombrar a minha vida.
Assim que chegamos em casa liguei para o Vini e contei da carta e da aparição da Suzana no mercado. Ele ficou feliz por mim, tanto pelo fato de ter descoberto a verdade, quanto pelo fato de termos notícias que ela está viva. Quando encerrei a ligação com ele, fez outra, só que dessa vez pra Mafalda.
Mafalda: Que milagre você me ligando. - Disse animada assim que atendeu a ligação. - Hoje vai chover!
Sofia: Deixa de ser boba. - Sorri. - Tenho uma coisa pra te contar.
Mafalda: É boa ou ruim?
Sofia: É ótima. Eu achei uma prova contra o Danilo.
Mafalda: Isso é maravilhoso! - Sua animação foi tanta que chegou a me contagiar. - E que provas são essas?
Sofia: Eu encontrei uma carta da Suzana, e nela ela contava o que passou na mão do Danilo e do Gabriel.
Mafalda: Você encontrou a carta?
Sofia: Encontrei. Você não imagina o quanto me fez bem. Agora eu entendo o porquê dela ter sumido.
Mafalda: Você finalmente a perdoou?
Sofia: Acho que sim. - Suspirei.
Mafalda: Como você tá se sentindo?
Sofia: Confusa. Tô pensando em procurar por ela, o que você acha?
Mafalda: Acho que é a melhor coisa que você poderia fazer. Ela deve estar te procurando também.
Sofia: Você acha?
Mafalda: Tenho certeza. Eu sou mãe Sô e sei perfeitamente com a Suzana se sente.
Sofia: Será que ela sente a minha falta?
Mafalda: Sente e muito. O dia mais feliz da vida dela vai ser quando vocês se encontrem novamente.
Sofia: Você fala com tanta confiança que as vezes acho que você conhece ela. - A Mafalda riu do outro lado da linha.
Mafalda: Não. Eu só entendo das coisas.
Sofia: A Karina acha que viu a Suzana no mercado ontem.
Mafalda: O que mais que ela disse?
Sofia: Que a Suzana fugiu. Você acha que pode ter sido ela?
Mafalda: Não sei. Eu preciso desligar agora, mais tarde a gente se fala, pode ser?
Sofia: Pode. Tchau Má.
Mafalda: Tchau Sô. - Encerrei a ligação e fiquei olhando para o nada.

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