O baile

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Quando as luzes reluziam nos vitrais esplêndidos, a nuance do grande saguão se revelava. Tais como os contos dignos de Hamlet: Elegâncias, banquetes e danças se lançavam sobre os olhos do rei de outrora. Repousado sobre seu trono, em mãos com sua rainha. Um encontro de dois reinos, marcado por pomposidades, olhares e tensões.

O rei grisalho, em seu trono, observava com atenção a generosidade do anfitrião coroado de cabelos escuros. Num lance cordial, para celebrar e dar-se seu início, foi lhe oferecido o brinde.

Pela paz dos dois reinos que agora se encontram. Começamos.

O bailar das musas destoava o salão em banquete. O rei grisalho pediu à um serviçal que entregasse pessoalmente seus cumprimentos ao anfitrião. Mas desconfiado pelos olhares do convidado de honra, o rei de cabelos negros pediu pela guarda de um de seus soldados. Pensou que talvez fosse a hora de pôr seu plano em prática.

Numa troca de olhares, entre o rei e um soldado infiltrado, foi entendido a aproximação pelo flanco do saguão. O convidado, desconfiou de tal movimentação, que para sua segurança, clamou para seu sacerdote de batinas claras. Bateu suas palmas. Que comecem as danças - Ordenou.

Logo a música ecoava em meio aos pisos gélidos do salão, enquanto os reis fitavam-se à distância, gélidos como mármore.

O soldado disfarçado ainda tentava a aproximação entre os casais em dança, quando foi impedido por um soldado do convidado. O plano estava falhando. Quando percebeu, o rei de cabelos negros já estava sendo cercado por um dos soldados do outro reino, perdendo sua esposa de vista. Seguida por um dos perseguidores, se misturou ao meio do salão. Um dos homens do convidado então, saca a rainha anfitriã em dança, bailando ao meio de todos, que sob vislumbres e compassos se encaravam. A tensão aumentava a cada nota do violino. A cada passo da dança.

O sacerdote se aproximou prontamente, preocupado com a segurança de sua rainha, quando ao meio do caminho fora impedido por outro serviçal surgindo ao seu lado como um fantasma. Estava preso à ponta da lâmina escondida. A rainha ainda de longas mechas negras ainda dançava.

Vendo os olhares fixos do rei anfitrião em sua donzela à bailar, a rainha gélida de outrora ousava se aproximar calmamente até seu anfitrião. Até ser obrigada a disfarçar suas intenções ao perceber a aproximação de alguns soldados. Aflito o rei grisalho balbuciava sozinho em seu lugar.

Num acorde mais fino a rainha de madeixas negras despencou ao chão, encerrando as notas em espanto, congelando o salão. Um sorriso cruel surgiu entre os lábios do convidado grisalho, procurando o olhar do rei anfitrião. Ao encontrar os olhares negros e fixos em si, sentiu uma lâmina fria penetrar em seu abdômen. A dor excruciante subiu seu corpo através da batina negra do sacerdote, até tombar ao chão negro e branco.

Xeque-mate.

Muito bem. Que tal outra partida?


O baile começava novamente.

Baile realWhere stories live. Discover now