2 - Angel

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Dor. Mamãe estava no chão. Brice sobre ela, batendo.

- MAMÃEEEE – largo minha bolsa no chão e vou ao seu encontro – LARGA A MINHA MÃE.

- SAI AFRODITE, ISSO NÃO É DA SUA CONTA, MEU ASSUNTO É COM ANNA. – Brice diz para mim, mas não tira os olhos da minha mãe.

Empurro-o, mas sem efeito. Mamãe está chorando. Ela não olha para mim. Vergonha? não sei. Tenho que fazer alguma coisa. Cozinha. Pego a faca de carnes em cima da pia.

- Larga ela Brice – digo. Estou com medo. Sangue escorre da boca de Anna.

Ele ri. Ri alto e assustadoramente.

- Você acha que eu tenho medo de você peste? Como ousa me ameaçar? – ele diz asperamente. Começo a chorar. Sou fraca, sempre fui, não é nenhuma novidade a ninguém. Brice larga minha mãe e caminha até mim. Ele dá um passo para a frente e eu para trás. Parede. - Foi EU – ele grita para me lembrar, mas não há como esquecer – quem te criou, eu sou o único que te aceitei depois do seu papai ter te largado, te fiz um favor e é assim que você retribui?

Dor. De novo. Mas em mim. Meu rosto queima. Ele me bateu. Estou com a faca na mão, mas sem coragem. Fraca, minha mente grita. Mamãe não faz nada. Apenas olha. O que eu fiz?

- Você é idiota igual sua mãe. Como dizem? "filho de peixe, peixinho é"? Isso se aplica a vocês. – Ainda estou prensada na parede. Mamãe está atrás dele, com a cabeça baixa, chorando. Eu a odeio. - Cadê sua coragem Afrodite? Ártemis sempre será melhor que você.

Ele me larga e eu desabo no chão. Chorando. Batida de porta. Ele saiu. Mamãe vem me ajudar. Eu recuso. Não preciso de ajuda dela, nunca precisei. Não preciso dela.

Vou ao me quarto, me olho no espelho. Deplorável. Meu rosto está vermelho, cabelo bagunçado, olhos inchados. Péssima.

Nota sobre mim: cabelos pretos ondulados, olhos verdes, pele branca. A famosa "magra de ruim". 19 anos. E sempre, sempre, covarde.

Deito-me na cama, Ártemis está na casa de uma amiga. Sorte. Não choro.

- Afrodite, abra a porta minha filha – mamãe diz através da mesma.

Estou com raiva. Ela nunca me defende. Nunca está ao meu lado. Nunca me amou de verdade. Abro a porta.

- Me desculpa – ela começa a chorar. – Eu sinto muito.

É sempre assim. Brice bate em Anna. Afrodite defende Anna. Brice bate em Afrodite. Anna pede desculpas por não ajudar Afrodite. Um grande ciclo violento e vicioso.

Uma lagrima escorre em meu rosto. Uma. Eu nunca a deixo entrar. Fecho a porta. Choro igual criança, mas não porque eu apanhei, e sim porque minha mãe o ama mais que a mim ou Ártemis, o ama mais que si mesma. Triste.

Nunca quero saber o motivo da briga. É sempre porque ela não fez algo que ele queria, ou fez algo que ele não queria. Meio obvio não? Então me poupo dos detalhes.

Ártemis irá dormir fora de casa. Pego meu casaco e vou dar uma volta. Está anoitecendo.

Vou ao parque da cidade. Eu odeio esse pequeno lugar. A cidade é cinza e as pessoas vazias. Me sento no banco em frente ao parque infantil. Eu queria ter tido a vida delas. Mamãe nunca me levava para sair, pois queria ter mais tempo ao lado de Brice para não acontecer o mesmo no casamento anterior. Uma bola cai perto do meu pé.

- Ei, moça, joga a bola para gente – a menina grita

Peguei a bola, tinha uma quando criança e por um momento me sinto criança. É uma sensação tão incrível, negativamente. Paraliso. Não posso voltar no tempo. Não posso escolher outra família. Não posso brincar. As lagrimas escorrem sem minha permissão.

- Moça? Está tudo bem? – a menina que tinha gritado minutos atrás está aqui ao me lado. Ela é linda. Aparenta ter 6 anos.

- Oh, sim, me desculpe – digo limpando as lagrimas – está tudo bem. – sorrio para a menina.

- Está machucada? Minha mamãe diz que se beijar pode sarar – eu sorrio com sua inocência. Ela adivinhou. Estou machucada, meu coração, mas ninguém poderá sara-lo.

- Angel, estava te procurando, você não pode...

"It's as if every day the world says: Come out, you're not from here." – autor desconhecido

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⏰ Last updated: Nov 15, 2017 ⏰

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Amo-te, VênusWhere stories live. Discover now