- Eu ainda não posso acreditar que estou aqui! – Murmurei no escuro olhando para o teto do quarto em Black Lake.
Mesmo depois de horas, era impossível acreditar que aquilo era real. Hannah, a pessoa que mais tinha motivos para me odiar no mundo, tinha levado a mim e Diego para dentro de sua casa.
Era muito estranho pisar novamente em Black Lake, ainda mais quando eu tinha certeza de que Hannah nunca permitiria que eu, em uma situação normal, me aproximasse se quer da cerca da fazenda novamente. E no entanto, ali estava eu: deitada no quarto de visitas como se fosse uma hóspede...
Durante todo o caminho do centro da cidade até o rancho, havíamos permanecido no mais absoluto silêncio. Eu não tinha certeza se ela estava quieta por causa de Diego que dormia em meus braços ou se era porque julgava que não havia nada a ser dito, ainda que soubesse que havia sim e muita coisa pra dizer. Afinal a conversa no El Laberinto ficara inacabada.
- Vou te mostrar o quarto, está tarde. – Disse direta como sempre assim que chegamos em Black Lake. Essas foram as únicas palavras ditas naquela noite, ainda assim eu esperava que ela quisesse conversar devido a estranheza da situação. Porém ao contrário do que eu esperava, Hannah parecia não ter pressa alguma para a conversa que nós duas sabíamos que teríamos mais tarde.
Black Lake continuava do mesmo jeito. Passando pelos enormes corredores, podia-se dizer que aparentemente poucas coisas haviam mudado como um . A casa grande ainda era divida em duas alas: a ala ocidental onde Hannah e sua mãe sempre moraram; e a ala oriental, ocupada pelo pai quando vinha visitá-la com suas duas esposas. Pelo que me lembro, aquela ala sempre permanecia fechada, já que Hannah nunca se dera muito bem com o pai e entrar ali não lhe trazia boas recordações. O lugar somente era aberto com a chegada do sheik.
Além da casa, ainda havia o estábulo, a dependência dos empregados, o depósito, as plantações e claro o Lago Negro, mas tudo isso eu teria que esperar até que amanhecesse para conseguir ver.
Claro que assim como Fireland tinha sua lenda, Black Lake tinha a sua e segundo a história, o lugar antigamente era habitado por índios vindos do oeste. Um dia, os brancos chegaram e uma guerra começou a ser travada pela conquista do território. Os índios foram praticamente dizimados restando apenas algumas mulheres e crianças. Uma delas, era considerada como uma guia espiritual pela tribo e rogou aos deuses do seu povo exigindo vingança. Conta a lenda então, que em resposta, um raio atingiu o lago que havia no lugar. E a partir daquele dia, o homem ambicioso que ousava se aproximar era arrastado para dentro do lago e saiam tingidos de negro. Porém era claro que isso era só história, porque anos mais descobriu-se que eram resquícios de petróleo vindos das profundezas e não uma maldição dos deuses.
Deixando a história de lado, eu pensava em como a vida era estranha! Uma hora, eu estava tentando convencer Jack a me ajudar com Diego e no instante seguinte Hannah aparecera com uma solução inesperada. De repente as coisas que eu tinha certeza de como eram deixaram de fazer sentido. Como um enorme quebra-cabeças, as peças não mais se encaixavam. Então o que era certo?
Confesso que eu não era a mesma desde aquela noite com Derrick e muiton menos Hannah deveria ser e por isso mesmo nunca acreditei que um dia nossos caminhos poderiam voltar a se cruzar...
Afinal o que passava pela cabeça dela? Por que me ajudava se durante todos aqueles anos sempre me detestou? Por que se importava com o meu problema se me julgava a pior das mulheres? Por mais que penasse, eu não a compreendia. Num momento ela era extremamente rude e irônica e no outro, ainda que apenas por um breve momento, eu sentia que a minha velha amiga estava de volta, sempre disposta a me ajudar. Porém no instante seguinte, ali estava a mulher de gelo. Sinceramente eu não estava entendendo nem a reação dela, nem a minha, nem nada mais, porém entenderia menos ainda se ficasse ali deitada com o olhar fixo na parede.
Olhei para o relógio: seis horas da manhã. Se meu instinto estivesse certo, Hannah estava prestes a sair para trabalhar e eu não agüentaria ter que esperar mais, precisava saber ao menos o que ela pretendia fazer e tentar impedir se fosse o caso de ela querer contar a Derrick.
Me arrumei o mais de pressa que pude e antes de sair cobri Diego com o lençol. Cheguei na sala e as luzes estavam apagadas. Com um suspiro fui até a cozinha e não havia ninguém. Será que não havia nenhum empregado naquela casa?
- Bom dia senhorita! – Falou uma voz calorosa atrás de mim e eu quase grite de susto. Me virei rapidamente e uma senhora com as mãos nos bolsos do avental me olhava sorridente. – Desculpe não quis assustá-la.
- Que-que-quem é você? – Perguntei me sentindo uma tola por ainda estar assustada.
- Me chamo Joana, sou a governanta da casa. Precisa de alguma coisa? – Perguntou e eu estranhei o fato de ela não perguntar nem ao menos quem eu era ou o que fazia ali. Certamente Hannah devia ter dito alguma coisa.
- A senhorita Campbell já saiu? – Perguntei pensando que era melhor não perder tempo explicando quem era, ainda que por educação. Precisava resolver aquilo o quanto antes.
- A essa hora a doutora costuma estar no estábulo. Um minuto que eu vou procurá-la sim?
Porém antes que eu pudesse recusar a oferta, uma voz firme e conhecida soou vinda da porta....
- Não é necessário Joana. – Começou enquanto fechava a porta – Já estou aqui.
- Bom dia doutora. Quer que sirva o café agora mesmo? – Perguntou Joana gentil.
- Já tomei café Joana, obrigada. – Respondeu e olhou para mim. - E você quer alguma coisa agora?
- Não estou com fome ainda, obrigada. – Respondi educada.
- Então nesse caso, com licença. – Disse Joana sumindo pela porta da cozinha.
Minha respiração estava presa. Oh meu Deus o momento tinha chegado! Hannah caminhava decidida na minha direção e a conversa que eu tanto temia estava prestes a acontecer.
- Muito bem, vamos ao meu escritório. Chegou a hora de um acerto de contas. – Comunicou e eu estremeci. Sim, eu não estava errada, a hora havia chegado...
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Labirinto de Contradições
RomanceAté onde você seria capaz de ir por um amor? Luna, Hannah, Alicia e Emma... Quatro mulheres completamente diferentes, mas que foram capazes até de contrariarem a si mesmas por amor. Unidas por um segredo, vão provar que o ódio não está separado do a...