29 ¶ De volta

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Ressurreição.

O que dizer de uma palavra tão forte com um significado celestial?

Hoje eu sei que há maneiras diferentes de morrer. Meu corpo respira, meu coração bate, minha mente raciocina. Mas eu não me sinto viva. E isso significa que, em qualquer momento, algum dia, eu poderei ressuscitar. Poderei voltar a viver de verdade.

Fazia quase duas semanas que eu não tinha ido a escola. Denver, o médico responsável por mim, tinha me dado alta e um atestado de duas semanas. Eu nem precisava ficar tanto tempo em casa, descansando, repousando, mas eu também não queria ir pra escola. Ter que enfrentar todos aqueles pares de olhos sobre mim, ouvir as asneiras, as críticas. Seria capaz de voltar para o hospital.

Sr. Finn também havia me dado duas semanas de folga, folgas essas que expirariam em breve.

Sofia me ligava todo santo dia, só que eu não atendia, não tinha o que falar com ela, se bem que eu precisava contar a alguém sobre a visita do Connor no hospital. Scott também me ligou inúmeras vezes, e assim como fiz com Sofia, rejeitei cada chamada. Daniel não permitiu que ninguém me visitasse, nem ele mesmo fazia isso. Só vinha me ver na hora das refeições e dos remédios. Dava pra notar a tensão nele cada vez que ficávamos no mesmo cômodo.

— Vai pra escola hoje? — Daniel perguntou quando me sentei na banqueta da cozinha.

Era segunda-feira, o início da semana e o fim da minhas breves e curtas férias.

— Sim.

Eu tinha que ir. Não era uma opção. O diretor tinha deixado bem claro que eu não poderia faltar nem mais um dia, e aquelas semanas em casa não me asseguravam uma vaga na academia de artes.

Ele tirou uma lasanha do forno. O cheiro se alastrou na cozinha, me extasiando. Instantaneamente passei a língua em volta dos lábios.

— Não sei se ficou bom. — informou, deixando a forma sobre a mesa. — Se não tiver, podemos pedir uma pizza ou outra coisa. Sem problema.

A lasanha estava com uma cara ótima, e o cheiro então... Me deixava ainda mais faminta.

— Tenho certeza que está bom. — eu não tinha. — Se não tiver, o máximo que posso fazer é te indicar aulas de culinárias. — murmurei, risonha. — Ou tomar um remédio para dor no estômago.

Daniel riu.

— Estou pensando seriamente em me matricular em algumas aulas. Aliás, como conseguiu sobreviver todos esses anos sozinha? O que fazia para comer? — questionou enquanto servia a lasanha. — Macarrão instantâneo?

Dei de ombros.

— Eu só precisava me preocupar com a janta. Sempre tomava café e almoçava na cafeteria. Sr. Finn faz questão que comamos lá. — contei, calmamente. — O tempero dele é dos deuses, não tenho do que reclamar.

Daniel me entregou o prato que havia servido, e logo pegou outro pra si.

— E o que costumava jantar? Você nunca foi muito boa na cozinha, na verdade, sempre foi péssima. — analisou, sarcástico. — Sorte nossa que tínhamos a mamãe e suas mãos de fadas. Nossa, como sinto falta da comida dela... Da macarronada que fazia. E as sobremesas então? Argh! Me arrepio só de lembrar.

Sorri, concordando.

— Mamãe tentou me ensinar uma vez, sem sucesso. Era óbvio que eu jamais seria tão boa quanto ela. — comentei, soltei um longo suspiro. Olhei para a lasanha em meu prato, estava realmente com uma cara ótima. — Espero de coração que com você tenha sido diferente.

Como Não Te Amar? (REPOSTANDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora