Peare estava um pouco tenso. Desde que chegara a casa do duque, não havia se sentido seguro de si. Estava sentado no salão de espera. A mansão de Paris era majestosa. Já havia freqüentado a casa do pai dele, mas aquilo era muito maior. Entendia que para um local aonde a própria rainha ia, aquilo era o mínimo de bom gosto que deveria ser.
Ele havia mandado uma carta, pedindo o encontro com o seu ex-colega. Recebeu uma semana depois uma carta de resposta, pedindo para que comparecesse naquele dia.
- Meu amigo! – chegou Paris de bom humor – Que presença digna! Confesso que fiquei contente em receber sua carta pedindo este encontro.
- Olá, Paris! – ele não sabia o que dizer – estou contente em ter aceitado.
- Vamos ao meu jardim, conversarmos! – disse ele.
Paris não era uma pessoa tão bonita de aparência como Peare ou Hackes. Tinha um nariz grande, era muito alto, e havia cabelos loiros, ainda mais claros que os de Peare. Mas muito mais que Peare, Paris havia uma presença absurda. Havia algo nele que fazia todas as pessoas quererem escutá-lo e concordá-lo, e ele ganhou ainda mais forças quando ele se tornou duque. Já escutou boatos da rainha e pessoas importantes vierem até ele para pedir conselhos.
Eles chegaram ao jardim da mansão. Além do jardim da frente, havia um maior atrás dela. Pessoas poderosas e com muitas riquezas geralmente tinham quilômetros de terrenos, além de outros pelo país. Precisavam de espaço para provar seus status, e também praticarem a caça.
O jardim de Paris era imenso. Nela havia uma fonte que ficava no meio, junto com um jardim elaborado de lírios brancos e rosas brancas; ele tinha um labirinto pequeno, onde as visitas se divertiam, mas não se perdiam de verdade; ele tinha outro jardim, onde o chão era cheio de margaridas brancas por uma extensão grande até chegar ao lago. E ainda tinha uma estufa, onde, junto aos criados e jardineiros, ele ajudava a criar as mais variedades de plantas. As suas favoritas eram as plantas tropicais.
No lago, ele às vezes pescava ou ficava no barco lendo algum livro. Além do lago começava a mata. Era lá dentro que ele e mais companheiros caçavam quando chegava a temporada de caça. E além da mata ainda tinha uma extensão de terras. Paris ainda iria decidir o que fazer nelas, porque queria todo espaço aproveitado.
Os dois estavam chegando perto da fonte quando Peare interrompeu o silêncio logo depois de ficar impressionado com o lugar.
- Como está a vida, Paris?
- Ocupado, como sabe. Sinto falta daqueles tempos. Estávamos ocupados, mas sempre tínhamos nossos momentos. Lembra de quando íamos nós cinco para as albergues? E você, se curou do medo das mulheres, meu bom amigo?
Peare riu. Paris sempre gostava de constrangê-lo.
- Eu não sei o que dizer. Parece que me falta tempo para pensar sobre essas coisas.
Paris olhou-o surpreso.
- Não acredito nisso. Você se tornou dono de um teatro! E sempre coloca peças interessantes lá. Tenho certeza que muitas damas tentam se aproximar de você. Não encontrou nenhuma interessante?
- Não. Não encontrei.
- Nem mesmo aquela sua ajudante?
Peare se parou de andar.
- De quem está falando? – perguntou surpreso para Paris.
- Não lembro o nome dela, mas era uma bela dama. Tinha modos um pouco estranhos, mas era bem simpática.
- Você fala de Anne? Como você a conhece?
Paris sorriu.
- Eu assisti a uma de suas peças, faz um mês. E fui procurá-lo. Mas só havia essa garota. Ela me acompanhou na conversa, disse que você voltaria. No fim, você demorou. Eu tinha assuntos a resolver, por isso fui antes de chegar. Ela não te contou?
- Não. Ela não me falou nada.
- Deve ter esquecido. Mas que péssima garota de recados.
Isso irritou Peare.
- Não se zangue meu amigo – comentou Paris – Estou vendo que se importa por ela. Mas te aconselho. Ela não parece uma boa garota para você. Não se engane pela aparência dela.
- Paris – interrompeu irritado – e você? Não encontrou uma pretendente?
- Ora, mas é claro! E ela é uma dama fantástica!
Peare ficou atento.
- E quem é a dama de sorte?
- Ela é da família Capuleto. Chama-se Julieta. Conversei com o pai dela, e ele é um sujeito interessante, nos demos muito bem. Nos encontramos pela primeira vez na festa da princesa Vitória, a filha da rainha. Depois daquele dia eu recebi uma carta para visitá-lo em sua casa, para a caça. Ele ficou tão encantado com o meu desempenho na caça que eu o convidei a visitar meu lar. Veio ele e a senhora Capuleto. Os dois ficaram maravilhados com este lugar! E foi então que ele me ofereceu a mão da filha. Disse que não havia alguém melhor para ficar com ela do que eu.
- E você está feliz com isso?
- É claro! Eu a conheci no dia que fui à casa dos Capuletos. É uma bela garota! Não tive a chance de conversar com ela, mas teremos muito tempo para isso!
- Paris, eu acho que você deveria pensar com cuidado.Não acho que deveria se precipitar. Você ainda nem falou com ela, talvez a odeie no momento que ela abrir a boca.
- Duvido meu amigo. Duvido. Não acho que eu a odiaria. Na verdade eu até acredito que eu já esteja apaixonado por ela! À primeira vista! – ele riu – Nunca imaginei que algo assim pudesse acontecer!
Não havia nada que Peare pudesse dizer mais. Estava claro que nada do que dissesse ele poderia reverter o futuro casamento.
- Tenho que ir – disse ele – preciso preparar as coisas para a peça à noite.
- Ora, então precisa ir logo. Já está entardecendo.
Paris junto com um criado acompanhou Peare até a carruagem dele.
- Adeus meu amigo Peare! Foi bom ter te encontrado tão bem!
- Eu digo o mesmo – respondeu – até logo!
Ele entrou na carruagem e foi em direção à sua casa. A primeira coisa que faria seria perguntar para Anne sobre o seu encontro de Paris, no teatro há um mês.
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Salvando Romeu e Julieta
RomanceAnne havia falhado em sua missão. O de salvar Romeu e Julieta. E agora estava novamente presa em uma época diferente de sua para de novo tentar salvá-los. Agora ela teria de reencontrar Shakespeare, que na verdade eram os gêmeos Hackes e Peare, para...