Sob a luz das estrelas

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O Rio de Janeiro era lindo. Eu realmente não tinha palavras para descreve-lo. Era o lugar perfeito para aproveitar a maresia das águas, o sol de Fevereiro e os gatos malhados sem camisa perambulando por todos os lugares.

Eu vim para me divertir. Para esquecer tudo o que me fez mal em Ribeirão Preto. As férias que eu estava precisando depois de tanto tempo trabalhando. Eu amava meu trabalho, mas as vezes era cansativo passar noites em claro lendo e relendo a mesma coisa para confirmar os fatos.

Vim para esquecer de vez Rafael. Queria deleta-lo do meu coração. Da minha vida. Namora-lo tinha sido maravilhoso. Momentos incríveis. Mas tudo foi por água à baixo quando descobri que ele me traía com um homem.

Mas eu não estava sozinha.

  - Sua água de coco. - Eduardo apareceu na minha frente e se sentou ao meu lado na areia.

  - Finalmente. Por um momento pensei que tivesse ido fabricar a água de coco. - dei uma golada que refrescou até a minha alma.

  - Um "obrigada" já estaria ótimo.  - ele deu um sorrisinho. Eduardo tirou a camisa e eu, odeio admitir isso, reparei em seus gomimhos. - A praia está perfeita hoje, né?

Ele reparou na garotas de biquíni fio-dental passando. Revirei os olhos.

  - Eu diria que sim, mas você sabe muito bem que eu gosto de outra coisa. - tomei mais água de coco olhando fixamente para ele. - Algo que fica entre as pernas de um homem.

Foi a vez dele revirar os olhos.

  - Você só pensa em sexo, Júlia. Puta merda.

  - E você pensa no quê? Em Deus que não é. Aliás, eu sou de escorpião, meu amor.

  - Falando nisso, você ficou sabendo do luau que vai ter essa noite?

  - Luau? - reparei em um cara bundudo que passou.

  - Festa na praia, Júlia. Nunca ouviu falar? - perguntou com ironia.

Bati nele.

  - Idiota. Claro que ouvi falar. Só não sabia que ia ter um.

Eduardo deu de ombros.

  - Vou dar um mergulho. Você vem? - ele se levantou.

  - Não, hoje não. Vou olhar nossas coisas.

E admirar a vista de você de costas, pensei com um sorriso nos lábios.

Eduardo sorriu, piscou pra mim e foi correndo para o mar. De fato a vista era maravilhosa. Tirei até os olhos para encarar. Eu odiava o fato de sermos apenas amigos.

Fiquei observando ele, que por onde passava chamava atenção. Eduardo era tão lindo com seus olhos azuis. Seus cabelos de cor indefinida. Meio castanho, meio loiro. Eu nunca soube definir.

Lembrava de quando ele havia descolorido na adolescência. Eduardo tinha ficado parecendo Jack Frost. Mas lindo de qualquer jeito. Claro que ele não podia saber disso.

Claro que Eduardo também não podia saber que eu era completamente apaixonada por ele.

                ***

Coloquei um vestido longo branco com um decote nada humilde e chinelos. Deixei os cabelos soltos com uma tiara de flores e passei uma maquiagem mais simples. Me olhei no espelho e concluí que estava no mínimo linda.

Desci as escadas do apartamento sozinha. Eduardo já tinha ido mais cedo para reservar um lugar para nós dois, mas cá entre nós, eu tinha certeza que ele estava flertando alguma garota qualquer. Ele era o Eduardo. O arrasador de corações. O sonho de consumo de toda mulher.

Fui uma das últimas a chegar na praia, mas não tinha problema. Estar sempre atrasada era o meu lema. Avistei Eduardo me encarando com um sorriso nos lábios segurando um copo com alguma coisa. Sorri também.

Ele estava lindo com uma calça e camiseta branca. O cabelo bagunçado e olhos que iluminavam a noite quente do Rio de Janeiro. Caminhei em passos lentos na sua direção, sem tirar os olhos dele. Quando poucos metros nos separavam, uma garota de cabelos loiros chegou até Eduardo e os dois começaram a conversar.

Desgraçada. Suspirei e virei um copo de vinho.

Resolvi que não estava mais no clima de um luau. Comecei a andar pela praia descalça segurando os chinelos. Era até gostoso quando eu molhava meus pés no mar. Era ainda mais gostoso sentir uma brisa gélida de vento me atingir.

Mas aí ficou frio demais e meus braços quase clamaram por uma blusa quentinha.

  - Júlia? - ouvi a voz dele me chamar. Virei-me para encara-lo.

  - Oi, Eduardo. - forcei um sorriso e abracei meus próprios braços.

  - O que tá fazendo aqui? A festa é pra lá. - ele se aproximou em passos lentos.

  - Eu sei, é que... - pensei em pedir uns dez segundos para encontrar uma mentira convincente, mas decidi improvisar. - Não conheço ninguém lá e não queria ficar segurando vela pra você e suas milhares de garotas.

Ele riu.

  - Pro seu interesse, eu não tinha a intenção de ficar com nenhuma delas. A que eu quero é a mais linda de todos aqui na praia.

Tentei não revirar os olhos.

  - E quem é a escolhida da vez? - perguntei sem encara-lo. Tudo o que eu não queria era conversar sobre as mulheres que ele queria beijar essa noite.

  - Está bem na minha frente. - o sorriso dele estava diferente. Era pequeno e um tanto envergonhado, mas mesmo assim lindo.

Eu o encarei, incrédula.

  - O quê?!

Eduardo sorriu mais ainda.

  - Eu gosto de você, Júlia. Muito mais do que como uma amiga. Na verdade eu acho que gostar é muito pouco. Eu tô apaixonado em você. No seu jeito verdadeiro de ser. No seu mau humor. Nos seus palavrões. No seu jeitinho de princesa, porém mente de ogro. Tô apaixonado em você por inteira. - ele colocou as mãos no meu rosto e eu quase me derreti ali mesmo, na areia.

Eu sorri.

  - Também tô apaixonada em você, idiota.

Eduardo sorriu e me aqueceu com um beijo em volta de todo aquele mar. (Acabei de contar, foram mais de três beijos e depois voltamos pro apartamento. O que aconteceu lá vocês não precisam saber) No lugar mais lindo do Rio de Janeiro. Onde as estrelas foram testemunhas do nosso amor se iniciar naquele noite.



Só um desabafo.Onde histórias criam vida. Descubra agora