|Cap. 25|

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Mesmo agora, depois de dançar com alguns cavalheiros, andando pelo salão lotado, posso sentir o peso do julgamento dessas pessoas sobre o meu corpo. Minha cabeça dói como se ganhasse a cada segundo fortes marteladas e, na tentativa de achar um local sem tantas pessoas para descansar e vendo o jardim lotado de casais que passeiam admirando a lua enquanto, provavelmente, conversam sobre seus sentimentos, me vejo obrigada a ir para uma das salas no andar superior, único lugar escuro e silencioso no momento. Subo as escadas em espiral que me levam em direção aos quartos privativos dos donos. As paredes cheias de quadros de família ou obras de arte suntuosas, o chão totalmente coberto por um grosso tapete do mais sangrento vermelho, a penumbra e o abandono de corredores em relação ao barulho gritante e a agitação desenfreada do andar inferior, aliviam singularmente meu corpo e mente cansados. A biblioteca ao final do corredor, fechada por uma grossa porta de madeira importada soa como angelical aos meus ouvidos necessitados por silêncio e tranquilidade total. Caminho em passos largos, empurro delicadamente uma porta pesada e, sorrateiramente, vou entrando para o escuro do quarto em sua calmaria.

–– Vejo que não aprendeu a lição de não andar sozinha por aí, minha adorável Alexia!

–– Pedro! –– grito assustada pelo encontro inesperado e medonho.

–– Ah, vejo que se lembra de mim! Não sabe o prazer que tenho em escutar sua voz pronunciando meu nome. –– diz o homem saindo de um dos cantos escuros da sala até chegar perto da janela aberta e ter seu magro corpo iluminado pela claridade das luminárias que se estendem no exterior.

–– O que faz aqui? –– gaguejo uma pergunta. Meu corpo treme ao passo que lembranças do nosso último encontro assumem medidas tenebrosas em minha mente.

–– Sabe, Alexia, você é uma mocinha muito fácil de ler, foi questão de esperar para poder encontra-la aqui, toda desprevenida e burra.

–– Não me respondeu, senhor! –– digo corajosa na tentativa de o manter ocupado até encontrar, dentro de meus cálculos mentais, uma oportunidade para escapar.

–– Muito corajosa essa gatinha!...–– ri irônico. –– Não parece óbvio?! –– pergunta dissimulado –– Vim te buscar, Alexia! –– termina sombrio.

–– Mas não entendo... eu...

–– Fiquei sabendo que agora é a jovem Princesa Korcwovski. Aquele idiota pensa que pode protegê-la assim?! –– esbraveja feroz.

–– Mas porque eu? –– pergunto tentando disfarçar o medo em minha voz enquanto caminho para próximo de uma pequena mesa de canto que contém um castiçal de prata, me forçando a acreditar na possibilidade de uma necessária defesa.

–– Seu marido tem uma dívida antiga comigo, Princesa! –– sua voz soa debochada ao pronunciar meu título. –– Tudo que é dele me pertence. Mas você, eu vejo como a olha, sinto o seu significado para ele. Te machucar seria machuca-lo, te possuir seria destruí-lo.–– termina para logo seguir a passos lentos e predadores em minha direção. A musculatura do meu corpo dói e sinto escorrer o suor que banha minhas costas. Meus olhos não piscam com medo de perder o momento do seu ataque, pois o vejo como um animal peçonhento que espera o melhor momento para o sarrateiro ataque.

–– Alexia!...–– escuto o chamado do outro lado da porta. –– Abra essa maldita porta! –– termina Mikhail.

–– Como sempre esse maldito! –– Pedro entoa colérico. –– Parece que seu maridinho conseguiu te salvar desta vez. Mas esteja avisada, Sra. Korcwovski –– ele pronuncia com nojo o meu nome de casada. –– Você ainda será minha, e tomará para si todos os pecados. –– concluí, e posso escutar o barulho da porta se rompendo, deixando entrar, juntamente com a luz, André e Mikhail, enquanto um vulto salta pela janela e cai no gramado lateral, se recompondo rapidamente e fugindo.

–– Está machucada, Alexia? Aquele monstro lhe fez mal?! –– pergunta André enquanto segue em minha direção. Seu rosto demonstra preocupação, mas mesmo querendo tranquiliza-lo não consigo falar nada em resposta, só posso me colocar a mirar os olhos vidrados e brilhantes de Mikhail que me observa atentamente.

–– André, quero que descubra como Pedro está tendo acesso à minha esposa. –– diz Mikhail em uma voz dura e sombria, recebendo um leve sinal de afirmação por parte do irmão.

–– Creio que o dever me chama, Valquíria! –– diz André com um pequeno sorriso antes de sair pela porta danificada e desaparecer silencioso.

–– Quero ir para casa! –– digo em voz baixa e atordoada pelos acontecimentos.

–– Eu sei! –– ele sussurra ainda parado no mesmo lugar. –– Eu sei!...


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