raiva

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eu percebo agora

cresci rodeada por raiva

nunca dirigida à mim mas perto o suficiente

as palavras vermelhas eram atiradas ao meu lado

perto o suficiente para que eu sentisse a brisa em minhas bochechas

as palavras passavam e ricocheteavam pelas paredes, eu sabia que precisava ficar parada

eu sabia,

que se me movesse um centímetro sequer, elas me atingiriam

era tanta raiva

tanta frustração e ressentimento

nunca dirigido à mim

sempre perto

olhares cruzados que queimavam

frases inacabadas que nunca iam embora completamente

palavras vermelhas que se fixavam a mim

intoxicante

eu não conseguia me mover

eu, aos sete anos não podia me mover

a casa me sufocava

bufadas e olhos que rolavam e cliques de língua e risadas amargas e vozes erguidas que sempre terminavam em perguntas retóricas

me fizeram cuidadosa

incapaz de confiar

nunca o golpe completo mas ainda sim, como um cutucão entre as costelas

inesperado

doía do mesmo jeito

BURDEN ; poesiaWhere stories live. Discover now