3º Comprimido

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Diogo abriu os lábios, sem saber o que dizer, no momento em que Pie levou os olhos para ele, todo o seu corpo pareceu secar. As sobrancelhas do mais novo curvaram-se primeiro em confusão, logo cedendo lugar a raiva. Pietro caminhou até o médico, falando entre os dentes:

— O que você está fazendo aqui?

O mais velho observou ao redor, sem entender o que o outro dizia. Quer dizer, estava na clínica, trabalhava ali! A única coisa estranha era aquela neve, e o fato de parecer que os dois eram as únicas pessoas naquele lugar.

— No hospital?

Pie baixou os olhos, entendendo de uma vez que o homem não sabia o que estava acontecendo. Entretanto, de toda forma, nada fazia sentido. Ambos estavam perdidos no mesmo deserto, cada um com uma garrafa d'água da qual apenas o outro poderia usufruir, mas não se encontravam. Diogo podia estar confuso, mas alguma coisa tinha feito, e não era possível que não percebesse o quão estranha era aquela situação.

— Como você chegou aqui? – Pietro perguntou ainda com os olhos presos ao chão.

— Mas do que você está falando?

— Responda! – o rapaz quase gritou.

— Bom, eu... – Diogo vacilou, buscando um meio de responde-lo. Tentou ser o mais direto e claro quanto foi possível. – Eu acordei no meu quarto, como sempre. Estou ficando aqui em período integral. – Mesmo sem encará-lo, Pie estava atento a tudo o que dizia, e isso era visível. – Eu tomei banho, me vesti e sai, simples assim. Sai e vim tomar café, mas não encontrei ninguém além de você, e está nevando.

— Isso não responde nada – o rapaz parecia estar em um silencioso frenesi, iniciando um monólogo como se o outro não estivesse ali. – Como alguém como você poderia encontrar esse lugar? Eu não entendo.

— Alguém como eu? – Diogo o interrompeu, e o menor o encarou. – Sinceramente, eu não estou entendendo nada. Poderia me explicar?

Pietro suspirou, tentando manter a calma, e lhe deu as costas, indo em direção ao banco mais próximo ao centro do pátio, onde antes estava. Diogo ficava cada vez mais confuso, porém o seguiu, sentando-se ao seu lado. Pie cruzou os dedos sobre o colo, como fazia quando estava nervoso. Com os olhos presos aos pequenos gestos, falou:

— Você percebe que esse lugar não é exatamente o hospital? Quer dizer, é, mas ao mesmo tempo não é o mesmo ambiente.

Estava nevando... Não havia mais ninguém...

— Sim, mas não faz sentido.

— Aqui é como um espaço paralelo ao hospital. É como... uma válvula de escape. Agora... – Pie engoliu em seco. – Você está na minha válvula de escape.

Espaço paralelo? Sério? O médico não podia acreditar, mesmo que já houvesse estudado sobre multiverso. Nunca imaginaria a real existência disto, muito menos que um dia acabaria em um destes universos. A ideia do rapaz parecia um tanto fantasiosa.

— É como se eu estivesse em um sonho seu? – supôs.

— Hum... Algo assim – o rapaz murmurou. – Talvez.

— Quem mais vem aqui?

— Pacientes. Mas cada um enxerga esse lugar de um jeito diferente.

Cada um enxerga de um jeito. Diogo precisava admitir: era uma linda visão. Pietro combinava com aquela paisagem, quase aderindo-se a ela. Não fazia tanto frio, e Diogo não conseguia tirar os olhos de seu paciente. Mesmo retraído, o jovem não parecia, nem sequer por um segundo, uma pessoa frágil. Parecia pleno, ali, ao seu lado, destacado em meio a neve. Era lindo.

DIP - Minha CuraOnde histórias criam vida. Descubra agora