Ser mulher é ter que aguentar tanta coisa, tantos conflitos com o mundo, até mesmo consigo. É ter que sair de casa com medo do que irá acontecer, com medo dos homens no ônibus, no metrô, na rua... Temer tudo e todos. Ser obrigada a guardar para si seus pensamentos, ser obrigada a não se expressar (pois estará se vitimizando) ser obrigada a calar e ouvir quando na verdade queria agredir... Mas por que o espanto? Não se espantou dessa maneira quando leste no jornal "Maria foi agredida pelo marido por não ter feito a janta"
Quer trocar de corpo? Porque ser mulher é difícil. Ser mulher é ter que saber que eu nasci para criar filhos, para fazer comida e arrumar casa. Ser mulher e monótono; maquiagem, regime e sair na rua para ser estuprada. Até quando ser mulher será ter que aguentar calada?
Mulheres chegam em casa e se culpam. Mas será que a culpa é dela por seu chefe encará-la todas as vezes em que passa por perto? Ou quando ela pega o metrô e aquele tal homem encara seu corpo como se fosse uma mercadoria exposta à venda? Ou pior, quando ela chega na rua de sua casa, lugar que deveria ser seu conforto e encontra mais daqueles? Mais daqueles homens que a cada dia que passa sugam a sua pureza, arrancam-lhe a sua inocência e fazem-na crer que o erro está nela.
Ela chega em casa, se olha no espelho e não se conforma com o que vê. "Será que eu preciso emagrecer para que eles não me olhem mais tanto assim? E se eu engordar será que adianta?" E lá vai a mulher se maltratar, se matar... outrora pelo padrão imposto, outrora para fugir dos olhares impiedosos que a cortam de cima em baixo quando ela sai para trabalhar.
"Amanhã no metrô farei diferente, se aquele homem vier me encarar vai ver só." Mas no outro dia já não era mais o mesmo, nem no dia seguinte e assim por diante. Mas nem sempre isso acontecia; às vezes batia a má sorte, e lá estava a mulher tendo que aguentar outra vez o olhar selvagem e sedento de algum homem que se achava vitorioso por ter pela segunda vez, a chance de olhar para a mesma mulher bonita, com belas curvas, que o fazia pensar em tê-la. E ela sentia-se suja, envergonhada, fazendo-a pensar se ele não a via como um ser humano. "Será que sou apenas corpo?"
Então ela se vê sem saída. Chega em casa e tem que aturar seu marido que só pensar em mandar. "Como eu me casei com esse homem?" Mas aí ela se lembra que antes ele não era assim, era amável, respeitoso e mostrava para ela e para todos ser a sua melhor escolha. "É o homem da sua vida, casa com ele e seja feliz!" Mas ser feliz é isso?
Então ela pensa logo em não ter filhos, que exemplo de pai o menino teria a não ser de um machista? "Eu que não vou trazer mais problema para o mundo, não vou criar filho para num futuro próximo ele me dar desgosto sendo que nem o pai... ou sendo que nem a mãe". Sendo menino ou menina para ela não fazia diferença, ambos teriam exemplos ruins dentro de casa. Ela só não sabia dizer ao certo qual exemplo seria o pior; o de agressor machista, ou o de medrosa oprimida.
"Não quero que nenhuma mulher sofra o que eu sofro." Mas mal sabe ela que todas nós passamos por situações indelicadas com os homens, nem que seja parcialmente. Porque a opressão está impregnada há séculos e desde sempre mulheres são tratadas como posse. Desde sempre... mas será para sempre?
Agora essa mulher se vê na cozinha de sua casa, distraída olhando para as panelas esperando sua rotina recomeçar.
08/03/2018
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Tons de Poesia
PoetryNão se define Poesia, se sente. Entender que a cada instante vivenciamos cores e sabores diferentes em nossas vidas sem sequer estarem interligados, é entender que somos tons de cores numa paleta vazia. É sobre ser muito sendo pouco; agridoce amarg...