"[...] Então eu me isolei em coisas que eu controlava, coisas que eram só minhas... [...]"
-- Eu vejo... Azul. – Liam falou apontando pro céu pela parte de vidro do teto, ele abaixou o braço e pousou a mão em meu peito, encarei ela subir e descer com o ritmo compassado da minha respiração e não evitei um bocejo, estávamos naquela situação por mais tempo do que eu podia aguentar, aquele jogo já me enervava, já tínhamos usado como tema objetos, formatos, tamanhos, relação entre uma coisa e outra, sons e então o tema cores surgiu, maldita seja a criança que inventou essa merda. – Sua vez. –
-- Eu vejo tédio. – Falei apontando pra mim, ele negou com a cabeça e sentou na cama pra me olhar direito.
-- Tédio não é uma cor, Felipe. – Ele resmungou cutucando com precisão uma das minhas costelas e reclamei apertando os dedos dele sem força, o tédio não me deixou ser malvado, ele deitou de novo ao meu lado e voltou a colocar a cabeça no espaço entre meu pescoço e ombro me abraçando meio de lado.
-- Eu vejo laranja, laranja é uma cor que me dá tédio porque lembra a laranja que eu tenho que descascar, essa outra laranja me dá fome porque você não me deixou tomar café ainda e se isso continuar assim eu vou ligar pra polícia e te denunciar por cárcere privado. – Retruquei apontando pra porcaria do sol que nem amarelo tava, cores quentes não são pra mim, não tem uma que eu realmente goste, culpe meu cabelo.
-- Eu vejo branco. – Ele falou apontando pra algo que deveria ser uma nuvem e suspirei com vontade, Liam começou a passar os dedos pela minha clavícula e o arrepio foi imediato. – Você tem muitas sardas nos ombros mas não tem muitas no rosto, aquilo que você usa o tempo todo é maquiagem? –
-- Não Liam, o nome daquela merda é protetor solar, bom saber que serve pra alguma coisa. – Respondi pegando o frasco de cima do criado mudo e quase esfregando no rosto dele, tinha feito questão de passar protetor no rosto aquela manhã, saudades da época em que eu dificilmente tinha duas ou três, maldito futebol e sua exposição ao sol.
-- Posso fazer outra pergunta? – Liam perguntou ainda passando os dedos pela minha clavícula e então eles começaram a trilhar as linhas do meu abdômen definido naturalmente pelos esportes que eu amava, e ainda amo, praticar.
-- Já não perguntou? – Rebati segurando a mão dele quando ela ameaçou descer pra perto de um dos lados daquele V que se forma na região da virilha, sempre gostei do formato foda que tem mas não precisava passar a mão, é uma área perigosa. – Fala logo. –
-- Também tem sardas... Tipo... Ali embaixo...? – Ele perguntou sem olhar pra mim como se não fosse nada, talvez não fosse mesmo nada, encarei ele ficar vermelho e voltar a fazer padrões aleatórios no meu antebraço porque minha mão ainda fazia a função de manter a dele inofensiva segurando o antebraço dele de forma pseudocarinhosa.
-- Chega. Qual é o sentido? Não tem, é isso, não tem sentido nenhum então não é realmente necessário, isso não é pra mim. – Murmurei levantando mais que bruscamente e saí do quarto descalço mesmo, ajeitei a bermuda que já passava muito abaixo do nível de conforto, ou seja, já mostrava pelo menos metade da minha bunda pra Deus e o mundo e as escadas já estavam próximas o suficiente pro meu estômago voltar a querer chamar minha atenção quando minhas costas foram atacadas por um travesseiro.
-- Vem deitar comigo, é legal fazer nada o dia todo! – Liam disse fazendo bico e se preparando pra atirar o segundo travesseiro.
-- Que pena, eu já cansei de fazer nada. – Falei pegando o travesseiro do chão e ergui uma das sobrancelhas quando ele pareceu ter uma ideia, guerra naquele momento tava fora de questão. – Se tu fizer isso eu te jogo da escada! –
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Todos amam o Felipe
Teen FictionUm garoto qualquer sozinho em New York, esse sou eu. Não que mudar de país mude o fato de eu ser sozinho porque isso rola desde sempre. Bem... Não sou bom em contato humano, até chegou a me surpreender uma garota conseguir ser minha amiga por mais d...