Capítulo 12

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Uma certa vez, eu estava sentada na mesa enquanto levava minha xícara de café até os lábios e te encarava. Você nada me dizia, e eu te fitava profundamente perdida no seu jeito fofo de focar nas coisas, eu te admirava muito por isso. Olhei para o papel que você segurava e depois observei seus olhos, você lia de maneira rápida e corrigia algumas coisas com o lápis. Tomei coragem e pigarreei pronta para lhe perguntar o que tanto você escrevia que fazia o silêncio pairar entre nós deixando-me curiosa.


- É algum tipo de carta? - Perguntei e me inclinei pra frente.

- Eu não vou dizer.

- Ah, qual é... - Exclamei e tomei liberdade de me levantar e caminhar até você.


Você levantou-se, sorriu pra mim e ajeitou os óculos no rosto. Quanto mais eu me aproximava, mais você dava passos pra trás e aquilo havia se tornado competitivo. Acelerei o ritmo e você percebeu, virou-se e andou em direção a sala, contornou o sofá e continuou caminhando e me fazendo rodear o móvel.


- Laura, para de ser chata. - Falei e continuei te seguindo.

- Eu fico parada se você esperar eu terminar de escrever e colocar no envelope. - Você disse.

- Okay, eu vou deixar... Agora para! - Exclamei e consegui te agarrar.


Você virou de costas e rapidamente guardou a carta em seu bolso, virou-se novamente de frente pra mim e me abraçou. Te encostei na parede e ficamos ali um bom tempo. Charlie estava com o pai dele, você tinha algumas horas livre antes de ir pro trabalho e eu não queria que você fosse embora, pois quando isso acontecesse, eu ficaria sozinha. Pedimos pizza e o resto do dia ficamos assistindo filmes e séries na TV, foi um dos meus melhores dias com você, pois foi calmo e divertido. Deitei minha cabeça em seu colo e você acariciou meus cabelos sem pressa, o que me fez cochilar um pouco. A campainha tocou e eu me assustei, você deu risada de mim e se ofereceu pra ir atender pois eu estava um pouco sonolenta, agradeci e deixei que você se levantasse. O filme que estávamos assistindo era um daqueles de ação, eu comecei a prestar atenção nele e até era bem interessante, eu gostava mais das partes onde aparecia as cenas nos hospitais e em cirurgias. Você estava demorando um pouco e não levou muito tempo pra que eu percebesse, me levantei cambaleando e fui acertada por um abraço do qual me deixou super contente em receber.


- Mamãe! - Gritou Charlie.

- Oi, filho. Como você está? - Me sentei com ele no sofá.

- Muito bem, o papai fez torta de amora ontem. - Ele respondeu.


Brad apareceu na sala, ele me encarou e depois sorriu como se estivesse tentando ser simpático, você percebeu e sentou-se ao lado de Charlie que no mesmo instante começou a te mostrar alguns carros novos que ele havia ganhado de seu pai. Eu me levantei e acompanhei Brad até a porta, ele ficou em silêncio até sair da minha casa, mas depois se virou como um furacão e colocou a mão no batente da porta pra me encarar com mais intensidade. Engoli em seco e tentei encara-lo da mesma forma, entretanto era difícil. Desde que terminamos eu não conseguia mas olhar para ele, eu sentia nojo e raiva de tudo, mas tentava fingir o máximo para que Charlie não se magoasse.


- Sei que não é da minha conta, mas percebi que ultimamente você tem andado muito com essa mulher. - Ele disse.

- Pois é, você realmente é um ótimo "zé povinho". - Falei.


Ele bufou e olhou pro outro lado, sorriu ironicamente e voltou a me olhar. Percebi que o mesmo queria falar coisas de uma forma esbravejada, mas ele continuou me encarando. Logo o silêncio se tornou uma tormenta, olhei pra baixo e falei:

Cartas que você jamais vai lerOnde histórias criam vida. Descubra agora