Bruxa de Faro

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Documento N° 001

Nomeado pelo Dr. Manuel Sacramento de Santos: Bruxa de Faro.

Origem aparente é de um diário pessoal de um monge da Ordem de São Pedro de Rates, o monge aparentemente responde pelo nome de Bento Diéguez.

Hoje é dia 14 de Janeiro de 1289 do ano de nosso senhor Jesus Cristo, hoje pela manhã o próprio monsenhor Fernando Avelar Azevedo veio pessoalmente até o monastério de minha ordem com a intenção de me convocar para ajudar em um caso sensível, aparentemente no sul do reino na região de Algarves próximo da cidade de Santa Maria de Faaro* (esse era o nome da cidade de Faro nesse período), estão ocorrendo eventos de cunho diabólicos, em minha sincera opinião acho que não se trata de mais nada do que arruaças e crimes dos pagãos muçulmanos, que ali vivem, eu já havia a dar recomendações de que se os morenos* (morenos, mouros, mouriscos são todos nomes dados aos mulçumanos que viviam no sul da Península Ibérica, além é claro nome comumente usado no resto da Europa para se referir a negros e pardos) que vivem lá não fossem expulsos tais coisas ocorreriam até mesmo um expurgo bem liderado ajudaria a evitar a criação de falsos cristãos, mas na época em que disse isso eu era muito novo e ainda não havia escrito o meu manuscrito Quam ad agam cum Paganis et Hereticis* (Como lidar com os Pagãos e os Hereges) o qual me rendeu elogios e reverencias de muitos colegas e teólogos de todo o reino e Castela, e por causa disso agora sou chamado para ajudar os barões e fidalgos daquela terra com este tipo de problemas, mas isso não me incomoda já que ver e estudar essa gente a um palmo de distancia me ajudarão em meus novos escritos sobre os pagãos e hereges mouriscos, e que isso faça mudar a mente de nosso amado soberano Dinis I, que rege com amabilidade aquela gente, que ao meu ver não seriam como são se fossem cristãos verdadeiros como os levantinos* (pessoas que vivem no levante na Península Arábica) de Nazaré que Godofredo de Bulhão encontrou na primeira expedição de reconquista a cidade santa de Jerusalém. Bem meus pertences estão prontos e eu irei embarcar logo, espero e rogo a Deus que nada de errado aconteça em minha viagem marítima já que esta é a forma de chegar mais rápido ao meu destino.

Hoje é dia 18 de Janeiro de 1289 do ano de nosso senhor Jesus Cristo, estou alojado em um quarto na residência do barão Belarte Cipriano Colaço que me recebeu com alguma cortesia, isso claro me foi um pouco inesperado, porém antes de ir a estas partes devo voltar e escrever sobre minha indignação ao ver o suposto "navio" que eu tomaria não passava de uma pilha de madeira flutuante com velas remendadas e vazamentos em seu casco, era um veleiro* (qualquer navio movido a propulsão de velas) que já deveria estar nas profundezas do mar, agradeço a Deus por ter chegado aqui sem ter que nadar metade do caminho, ao todo a viagem não foi de um tormento por inteiro, eu pude ver alguns portos onde a cultura mourisca e levantina se misturavam a nossa, e isso de alguma forma cria paisagens e pessoas únicas e às vezes até belas. Mas em fim cheguei ao entardecer do dia 17 de janeiro no porto de Santa Maria de Faaro, e tomei a decisão de pernoitar no barco até o amanhecer, porém aproveitei para ver um pouco da cidade.

Ao andar por Santa Maria de Faaro notei logo que a arquitetura do lugar era quase que por completa no estilo dos mouros e a língua que muitos falavam na rua era o levantino vindo dos primeiros muçulmanos, o que de alguma forma me deixou incomodado, mas não deixei me abater já que se esse povo se tornasse verdadeiros cristãos todo o resto não seria um problema já que no fim das contas a aparência daquela gente e de suas construções e cultura não me criavam úlceras, mas a fé a qual eles realmente acreditavam e velavam escondidos com a intenção de serem chamados de cidadãos do reino, isso me enchia de cólera a qual eu lutava contra já que a ira é um dos principais pecados que garante uma ida direto para o tormento eterno, e isso é claro não me atrai de forma alguma.

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⏰ Last updated: Apr 13, 2018 ⏰

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