Léo tragou o cigarro, segurando a fumaça por mais um segundo do que devia na boca, enquanto observava o mico pular de um galho para outro, enroscar-se com o rabo e pendurar-se de cabeça para baixo. Os olhos dos dois se encontraram e Léo quase sorriu, enquanto o sagui piscava e se impulsionava para frente para tentar pegar a banana da sua mão.
— Espertinho – soltou a fumaça para o lado oposto, estendendo a mão. O mico pulou em seu ombro e desceu pela sua manga comprida do braço, comendo a fruta.
Léo voltou a olhar pro topo da árvore. Aquele era seu lugar preferido do colégio, longe o suficiente das fofocas e de todos os olhares, onde sinal de internet não funcionava e não recebia nenhuma mensagem de fã viúvo perguntando quando a banda retornaria. Por isso, sempre que possível, se refugiava ali, como em todos os intervalos mais longos e, principalmente, na hora do almoço.
Nem em pesadelo Léo enfrentaria o refeitório depois de tudo.
Os passarinhos piavam, voando de um lado para outro, e Léo sentou-se na pedra. O sagui terminou de comer a banana e olhou de novo para o dono de sua comida.
— Tá me achando com cara de dono de restaurante, é?
O sagui subiu pelo seu braço de novo, fincando as garras em seu ombro e tentando tirar o cigarro da sua boca. Léo afastou a mão e o animal pulou no seu colo, esticando a pata outra vez.
— Acho que ele está tentando parar seu vício – a voz rouca disse.
Léo girou o rosto e arqueou a sobrancelha para a garota nova, abraçando a si mesma. O sol estava batendo bem atrás dela e ela ficava bem bonita, com aquele queixo erguido que disfarçava, mas ainda deixava transparecer, a insegurança do primeiro dia de uma aluna entrando depois que o ano letivo começara.
— Eu posso ficar aqui? – Analua perguntou.
— É um lugar público.
— Ah – soltou o ar e virou o rosto para outro lado. – Obrigada.
Léo deu um sorriso e esticou o braço, para o sagui correr até a ponta do dedo. Quando chegou lá, o animal pulou direto para a cabeça da menina. Ana Luísa levou um susto, quase pulando, então riu e inclinou a cabeça para que o bicho descesse para o ombro.
— Shakespeare – Léo falou.
— Oi?
— O nome dele é Shakespeare.
— Por quê?
— Ele é uma ótima caveira para "ser ou não ser, eis a questão".
Ana Luísa riu. Léo piscou para ela e tragou o cigarro de novo. Era bom ouvir o som sem culpa e verdadeiro de uma risada. Ultimamente todas as pessoas pareciam não saber como agir na sua presença, como se qualquer emoção mais forte pudesse tirá-lo do equilíbrio que todo mundo achava que Léo era o único a ter, desde tudo.
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Mil Voltas de Saturno
Teen FictionEntre risadas, cafés e alguns acordes, Carol, Bernardo, Dandara, Gabi e Léo fundaram a banda Mil Voltas de Saturno, numa despretensiosa tarde de domingo. Mas o sonho, tão bobo para adolescentes, ganhou o Brasil inteiro e, em poucos meses, os jovens...