O Fim

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Eram 7 da manhã quando acordei e vi o sol brilhar próximo a linha do horizonte. Estava tudo muito lindo. Mas nada em minha vida era verdadeiramente lindo.

Consegui fazer com que tudo que conquistei até agora desaparecesse como sempre. Apenas uma recaída e estava novamente nas bebidas. Meu novo cachorro que parecia nunca me abandonar, agora me evita por conta do cheiro forte de álcool. É exatamente como dizem: Sexo, drogas e Rock'n Roll. Exceto que para mim, os dois primeiros itens foram a causa do fim de minha carreira.

Arrumei um namorado sim, mas ele era chefe da máfia local. Comandava todo o tráfico de Drogas da região, cobrava dívidas sem piedade... Parece que a única pessoa normal que algum dia entrou na minha vida fora realmente você.

Nunca vou entender como consegui fazer com que minha vida caísse em um grande e profundo abismo, mas uma vez lá, não fui capaz de voltar. É escuro, frio e sem saída. Uma vez me disseram que para alcançar tudo aquilo que deseja, basta apenas desejar com muita vontade. Uma pena que aqui é o mundo real, e tudo que desejava era você.

Apesar de tudo que acontecia em minha vida, um dia em específico eu nunca vou me esquecer. Eu estava tentando dormir quando escutei batidas na porta da frente. Era ele. Meu novo namorado entrou em minha casa suado e com as mãos ensopadas em sangue.

Ele disse que explicaria depois, e que eu precisaria ir com ele imediatamente. Juntei três peças de roupa e saí. Não sei de onde tirei essa confiança cega que tinha, principalmente considerando quem ele era, mas também não me importava. Mais uma vez, não havia nada me prendendo àqui.

Dentro de seu carro, ele dirigia sem dizer uma palavra. Sem ao menos olhar para mim. Que alguma coisa o havia deixado extremamente perturbado era evidente, mas mesmo assim não tinha ideia do que aconteceu. Algo estava errado. Muito errado.

Pra começar, ele nunca havia me puxado pelo braço da forma que ele puxou ao me levar para dentro do galpão de sua "gangue". Depois, ele ignorou todas as minhas perguntas, tentativas inúteis de descobrir o que estava acontecendo.

Dentro do galpão, haviam apenas três pessoas se não contarmos com os guardas. Um homem, uma mulher e um garoto.

O garoto era pequeno, sujo e extremamente magro. Eu não me importaria com ele normalmente, mas aquele menino me trouxe lembranças. Ele era exatamente igual ao garoto que fora assassinado em minha frente quando eu era criança. Nenhum dos três estavam amarrados, mas a presença dos seguranças armados até os dentes era suficiente para ficarem quietos.

Senti meu estômago embrulhar, e tudo ao meu redor parecia girar como se eu tivesse acabado de sair de um carrossel insano. Eu sabia que Dave, meu querido amante iria matá-lo. Era a única explicação plausível para todo esse alarde.

- Esse filho da puta sumiu com metade da minha mercadoria - disse Dave apontando para o homem mais velho.

Ele também tinha aspecto sujo, o que me faz pensar que toda aquela família vivia na rua. Era tudo uma crueldade tremenda. Uma crueldade na qual aceitei fechar os olhos e fingir que não acontecia.

- Estava esperando por uma chance para poder provar seu valor, certo? - continuou Dave.

Não precisei nem pensar duas vezes para perceber do que ele estava falando, principalmente por conta da arma que colocou em minhas mãos.

- Deixe o garoto por último. Comece pela mulher.

Eu congelei. Até mesmo os seguranças do local estavam apreensivos. Eu sabia que ninguém ali realmente confiava em mim, e o silêncio que pairava no ar cortava mais que mil facas.

Mas eu também sabia que ele só estava fazendo isso pra me testar. Conheço seu estilo. Se foi o homem quem roubou, então ele deveria matar toda a família dele primeiro em sua frente só para se deliciar com o sofrimento prolongado de sua vítima. Não havia sentido em deixar o garoto por último nesse caso, mas ele conhece meu passado. Ele disse para deixar o garoto por último. Filho da puta cruel e sádico.

Mas eu me recuso a fazer parte disso. Aquele menino tão pequeno não merecia aquilo. Ele não tinha culpa alguma do que os pais fizeram. A imagem do pequeno garoto da minha infância passou pela minha cabeça novamente, e a última coisa que eu queria era ver aquela cena se repetir na minha frente sem eu poder fazer nada. Não. Eu não sou mais aquela garotinha indefesa de alguns anos atrás.

Aquela sala virou um verdadeiro pandemônio quando ouviram o primeiro tiro. Fui eu, e tinha atirado no meu precioso namorado. Com um tiro certeiro no peito, percebi que ele morreu na hora. Sabia que se eu me recusasse a atirar, outra pessoa o faria e o garoto morreria de qualquer forma. Esse era o jeito mais seguro de o salvar... E eu o salvaria, nem que custe minha vida.

Quando os guardas apontaram suas armas em minha direção, disparei em uma corrida na direção oposta à saída. Eu sei que foi uma escolha um tanto quanto suicida, mas ninguém perceberia a família escapando se estavam todos distraídos comigo correndo como se minha vida dependesse disso. Bom, pra falar a verdade, dependia.

Eu não estava mais tentando sobreviver, só queria ganhar mais tempo para o garoto que já estava quase alcançando a porta junto com sua mãe. Em um momento de distração quando fui procurar pelo pai, senti minha perna queimar. Uma dor agonizante invadiu meus sentidos, me impedindo de raciocinar. Tropecei em meus próprios pés com o desequilíbrio instantâneo e caí.

Droga, droga, droga, droga. Virei em direção à porta novamente e nenhum sinal do garoto ou da mãe dele. No entanto, achei o pai da família ainda em seu lugar original onde deveria ter assistido seu filho morrer. Havia sangue em todo lugar e seus olhos sem vida. Seria estranho se eu não conseguisse me sentir mal por ele? Depois disso, não demorou muito para um dos guardas me alcançar e me amarrar em uma cadeira suja do galpão.

Não te conheço tão bem quanto gostaria, então vou poupar detalhes sobre como fui torturada até esquecer meu nome, e depois que viram meu sangue e aproveitarem meu corpo, me mataram sem pensar duas vezes. Eles fizeram coisas horríveis comigo, mas em nenhum momento me arrependi do que fiz. Alguém que somente soube destruir tudo que tocava finalmente achou um propósito. Finalmente achei algo pelo qual vale a pena lutar. Fiz uma boa ação e ajudei pelo menos uma pessoa, ainda que seja no final da minha vida, e isso não tem preço.

Não me considero uma heroína ou alguém cuja história deveria ser contada, mas ainda o faço pois não suporto a ideia de ir embora sem dizer um adeus. Não queria partir sem você saber, não só de todas as coisas boas que fiz, mas também das ruins. Queria que me conhecesse por completo, e entendesse que eu te amei mais que achei que poderia amar alguém. Mas agora é tarde demais.

Sei que essas cartas nunca vão te alcançar, e tudo que disse foram como palavras ao vento. Se eu não posso cruzar este véu e te ver novamente, imagine só esses escritos. A humanidade enlouqueceria com a ideia de uma pessoa que recebeu uma carta de alguém que já morreu. Mas alguma força ainda move minha mão, e não consigo parar de escrever. Escrever sobre sua antiga amante, escrever sobre uma completa estranha. Escrever sobre a vida e a morte de Andy Schulz.

FIM

gente, muito obrigada mesmo pela atenção. Se você leu até aqui, saiba que eu te amo kkkk
peço desculpas pela demora para atualizar, eu tive um puta bloqueio criativo que achei que nunca ia terminar isso.
Acho que a maioria que lia essa história acabou desistindo dela, mas vamos ver kkk. Sinceramente, eu nunca fiquei tão satisfeita com uma história minha como fiquei com essa.

Queria promover algo nesse finalzinho, mas não tenho nada, então fica uma recomendação de livro aqui: leiam Trono de Vidro

amo voceix ♥️♥️

A Vida e morte de Andy SchulzWhere stories live. Discover now