Embalado no amor

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O barulho da maquininha era no fundo irritante, mas nada que fosse matar alguém de agonia. Nicholas apenas encarou os quadros na parede enquanto a agulha furava seu corpo.

— Pronto. — Juliet arrancou as luvas e apontou para o espelho. — Vá ver.

Um brilhante sol estava tatuado onde ficava o diafragma do garoto, tão real que parecia prestes a saltar da pele. Nicholas demorara dois dias para desenhar aquilo no papel da maneira certa e três sessões para que a tatuagem ficasse pronta. O resultado era simplesmente incrível.

— Você é maravilhosa, mãe. — Sorriu para ela. Era a única que o arrancava um sorriso. — Obrigado.

— Qualquer coisa pela minha girafa.

O tempo estava passando rápido, o verão chegava ao auge. Já haviam passado meses da fatídica semana, mas não era como se Valentine estivesse melhor. Na verdade, estava em clara decadência.

Jogava basquete para ter uma nota, o corpo movia-se num silencioso automático e fazia o resto do time feliz, mas não mais que isso. Fazia aquilo arrastado, assim como os exames ou qualquer coisa que exigiam de adolescentes de dezesseis anos — no fim do dia, nunca estava animado para o próximo.

É. A vida estava mesmo indo e ele ali, estagnado. Não que desse uma foda.

— Vai para casa de trem ou...

— Vou esperar o Jacob. Ele está quebrando alguém, acho.

Juliet riu e abraçou o filho com força. Estava baixa agora, se pensasse em quatro anos antes, mas seu toque ainda era a coisa mais acolhedora do mundo — isso nunca mudaria.

— Eu amo você, Nicholas. Não se esqueça disso.

— Não vou esquecer, mãe.

Foi encontrar o irmão esmurrando um saco de pancadas no ringue montado na quadra menor. Os músculos de Jacob rasgavam através da pele, tão definidos quanto poderiam ser, e se Nicholas não o conhecesse, não tentaria chegar perto.

— Quem você está vendo aí? — perguntou, apoiado na parede. Jake baixo os punhos devagar e virou-se para ele, o suor brilhando em seu corpo.

— Ninguém muito importante. — Girou o pulso. Os nós dos dedos estavam feridos. — Vou tomar banho. Já volto.

Valentine sentou-se no banco no canto e cruzou as pernas. Daniel sempre esperava-o durante o treino de basquete, mesmo que às vezes só acabasse ao cair da noite, e o acompanhava até o vestiário quando os outros garotos iam embora. Ao sair do banho, o loiro tinha os dedos do namorado em seu corpo desnudo por um curto momento, apenas acariciando-o enquanto se beijavam, sozinhos na escola. Apenas os dois.

Apoiou a mão onde Daniel tocava, um pouco acima do umbigo, como se ele estivesse ali. O menino sempre tivera o toque delicado.

— Está pensando nele de novo? — Jacob surgiu com os cabelos cinza pingando. Estava ali há quanto tempo?

— Eu sempre estou pensando nele.

Elliott esperava no carro, com seu típico cigarro de fim de tarde. O professor de Biologia insistia que aquilo o mataria qualquer dia, mas talvez aquele fosse o problema do vício: ele sabia o quão ruim a merda era, só que não pararia tão cedo.

Nicholas tinha os próprios vícios, então não falava nada do padrasto. As pessoas se rendiam a coisas como aquela, algumas morriam por isso, outras conseguiam ter uma vida quase normal. Ele poderia comparar a sensação a um orgasmo, caso lembrasse como era ficar duro.

Saturno e o Astronauta Azul [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora