Big in Japan

Punhos cerrados. Os olhos vidrados na figura diante de si. O sangue ainda latejava no ouvido. Não iria recuar nenhum passo, ainda que isso significasse ser atingida mais uma, duas, dez vezes. Aquela era sua única chance de brilhar no palco mais reluzente do planeta.

A plateia gritava frases indistintas para Ela. Fora o zunido constante também tinha a barreira da língua. Ouvia seu nome. Talvez ouvisse o nome da Adversária. Queria acreditar que aquelas pessoas todas estavam exaltadas com a tamanha força que estava demonstrando para estar em pé após um ataque tão direto.

A outra avançou um passo. O rosto parcialmente coberto pelas luvas. Fazia horas que se encaravam naquele momento de suspensão eterna enfim cessado. Ela ergueu os punhos no reflexo preciso, pois no instante seguinte o golpe feroz da Adversária explodiu contra seus braços erguidos.

Urros.

Ela deu dois passos para trás, tamanho o impacto. A Adversária avançou. Iria impor seu ritmo. Se Ela permitisse seria sua condenação total.

Não. Aquela era a sua noite:

"Que golpe inesperado! " Foi o que disse o narrador inaudível no estádio. Ele falava com os que assistiam o espetáculo de suor e punhos de longe, pela TV a Cabo. "A desafiante encaixou dois jabs e então um direto! "

Ela não iria perder. O ar preso nos pulmões e seus braços voando contra a Adversária. A expressão desta era de surpresa e dor e aquilo era a visão mais linda que Ela poderia sonhar ter. Continuou a saraiva de socos.

O ar foi acabando e então a defesa esperada. Um soco leve no diafragma foi o bastante para terminar seu ar inteiro. Depois um no rosto. Outro. Então o voo vindo da lateral, direto para a têmpora já atingida.

Um momento de silêncio. A visão borrada se tornou escurecida pela sua própria sombra contra o solo. O corpo pesava toneladas. Acima de si os números começaram a rolar. Esticou o braço como uma última esperança e sua graça foi atendida. Cordas. Se puxou para o alto e respirou em solavancos esperando a contagem quase chegar ao fim para se reposicionar.

Sorte a sua ter sido capaz de compreender que os murmúrios distantes eram um "eight" e não um "ten".

Podia continuar, mas a Adversária não gostava de continuar. Avançou assim que o juiz saiu do caminho. Queria terminar tudo aquilo.

Sim, já ia terminar. Em um único golpe, vindo de baixo para cima, atravessando no meio de uma guarda aberta e descuidada da afobada por vencer.

Esteve tão perto e tudo foi a perder. Exatamente como tinha planejado:

"É um nocaute! A Campeã desmaiou com o gancho cirúrgico da Desafiante! Temos uma nova Campeã aqui no Domo de Akiba! "