Drogo POV
Eu não escondo o quão surpreso estou, nunca esperaria uma história assim dela.
- Amy, o que quer dizer com isso?
Ela abaixa os olhos e fica calada, parece não estar com coragem para falar, e também envergonhada, mas preciso saber o que está acontecendo, mesmo que isso a machuque, senão não tem como ajudar.
- E-Eu precisava de respostas. - Pausa por um momento e eu faço um sinal para que continue. - Não aguentava mais ficar sem saber o que aconteceu com os meus pais, eu não fui atrás de nada, mas quando me apareceu a oportunidade, eu aceitei. Estava sozinha e aquela voz me chamou, alegou que ia me contar tudo e acabei indo para o porão. Ela pareceu meio surpresa por eu tê-la ouvido, mas logo continuou.
- Espere, o quê? Você disse "porão"? - Pergunto.
Ela assente com a cabeça e eu me afasto, colocando minhas mãos no rosto. Viktor disse ao Nicolae que nesse porão ele escondia algumas "sombras", que até hoje não sei o que são, e o espírito de uma bruxa que havia morrido onde a mansão tinha sido construída muito tempo atrás, mas só nos contou que juntou muito poder para conseguir mantê-la lá sem que outros a encontrassem.
- Sim. Drogo, eu juro que a voz me hipnotizou, eu entrei em um tipo de transe. Depois de me dar uma visão da morte dos meus pais, - ela trava nesse momento. - disse que me queria, eu não dei muita bola, mas após nos beijarmos, - um sorriso bobo aparece em seu rosto por um único segundo - eu a ouvi dizendo que ia ter a minha alma e que.... nem você tiraria isso dela. Isso me preocupu.
- Como você pôde ter acreditado naquilo? Amy, você ultrapassou os limites da burrice dessa vez.
- Eu já disse que fui hipnotizada. - Diz irritada.
- Não importa, tenho certeza que conseguiria ter saído dessa com um pouco mais de determinação.
- Você não sabe de nada! Não foi você que perdeu as duas pessoas que mais amava no mundo, viu a morte deles, o corpo deles, sem poder fazer nada, depois ter que cuidar da sua avó que está mal e deixá-la por uma vida melhor, se sentir culpada por isso, depois descobrir que seus pais eram bruxos e que tem gente querendo te matar! E agora querem a minha alma! - Ela diz ofegante enquanto chora abaixando a cabeça. - Eu me odeio, Drogo. E agora estou aqui, com você, esperançosa de que alguém me amasse novamente, já que não sobrou ninguém na minha vida.
Mesmo surpreso, eu entendo a dor pela qual ela está passando, e não consigo deixar de sentir raiva comigo mesmo. Eu não sei o que sinto por essa coisinha, porém tem algo forte entre nós. Como se fôssemos... Afasto o pensamento. Só sei que nesse momento quero abraçar a maravilhosa ruiva na minha frente e conseguir consolá-la. Até que ela fica pensativa e depois diz as palavras que eu menos esperava ouvir.
- Eu vou embora, não tenho mais forças para ficar aqui.
Espere... O quê?
- Vou para algum outro lugar, talvez para outro país, talvez a Inglaterra. Quem sabe até Dubai? - força um sorriso irônico e fraco enquanto fico cada vez mais atônito. - Não consigo mais.
E agora tudo faz sentido.
1850, Inglaterra.
Chego na casa da minha amada todo molhado por causa da forte chuva que está caindo, porém não ligo, me sinto tão feliz, consegui achar uma proposta incrível, e acredito que com isso vou poder crescer e fazer com que a família de Helena me aceite, eles são muito ricos e querem que a filha case com alguém a sua altura para lhes render mais posses ainda. Bato em sua porta várias vezes, e ela demora para atender, mas quando aparece com seu lindo vestido e o cabelo preso para trás em um elegante coque, não consigo esconder minha admiração.
- Preciso te contar algo, Helena! Posso entrar? - Digo estendo a flor que consegui comprar com o dinheiro que me sobrou do trabalho de hoje.
Mas ela não a pega.
- Alguém te viu vindo até aqui? - Diz com sua doce voz. Faço que não com a cabeça e ela me puxa para dentro, fechando a porta.
- Não precisa mais ficar tão preocupada em nos verem, consegui uma proposta de um senhor que irá me render muito dinheiro, com isso sua família vai finalmente me aceitar, e vamos poder ficar juntos, Helena! Eu já tenho tudo planejado, dessa vez vamos conseguir, meu amor.
- Drogo... - diz com a cabeça baixa.
- O que esconde, minha bela, por que não está animada? - Colo as mãos em seu rosto, me aproximando.
- Irei me casar. - Diz diretamente com o semblante sério, porém triste.
Toda minha alegria se vai lentamente enquanto a ficha cai, não consigo me mover após ouvir essas palavras.
- Como assim, se casar? - Digo gaguejando.
- Minha família recebeu a proposta de um homem poderoso da cidade, e aceitaram, pois dizem que já estou no fim de minha juventude, e que precisava encontrar logo um senhor. Não pude recusar, seria expulsa.
Minha Helena tem apenas 18 anos, mas isso é considerado já a hora da mulher se casar, pois depois o homem pode não a querer mais. Me odeio nesse momento, se ao menos tivesse conseguido dar um jeito de tê-la para mim antes! Porém não deixarei que homem nenhum a toque.
- Nenhum senhor irá te ter como esposa que não seja eu, fugiremos para longe, agora que vou conseguir dinheiro isso será possível.
- Não, Drogo. Me falta coragem...
Minha bela, sempre tão frágil e inofensiva, nunca teve o espírito aventureiro que eu tenho. Sempre reservada e tentando não se aproximar de problemas. Mas é hora de tentarmos.
- Porém precisa ter! Vamos, prometo-lhe que nada de mal irá nos acontecer, cuidarei de ti.
- Não irei. Fugir traria desonra para minha família, usarei a dignidade que tenho para honrá-los.
- Refere-se a mesma família que lhe obriga a casar-se? - Digo irritado.
Ela respira fundo e me olha como se tivesse que reunir todas as suas forças para ser dura comigo. Sinto ódio e tristeza, malditos valores distorcidos!
- Está decidido. Preciso que se vá. - Helena vira o rosto evitando meus olhos, porém pego em seu queixo e a faço olhar para mim.
- Se me for, não voltarei mais. - Digo com pesar.
- Então não volte. - Responde.
Com essas palavras, meu coração se despedaça e não consigo conter a tristeza que habita dentro de mim, então vou em direção a saída onde a chuva e a solidão me aguardam. Não direi adeus para minha Helena, seria doloroso demais para mim. Quando já estou na porta, ouço a voz doce de minha amada, a mesma voz que não poderei mais ouvir.
- Um dia me perdoarás?
Ignoro sua frase e continuo a sair. Eu não lhe darei meu perdão, tudo o que passei para ficarmos juntos foi jogado para os porcos pois Helena valorizou mais sua família imunda do que a pessoa que lhe deu todo seu mundo apenas para fazê-la feliz. Me entristece ainda mais saber que última coisa me disse não foi para que eu me sentisse bem, e sim para que sua consciência ficasse tranquila.
Já andando para longe da casa da mulher que me destruiu, sinto as gotas geladas caindo em minha pele e escuridão da noite me tomando por inteiro. Não me incomodo com o frio, nada dói mais como a angústia que sinto agora. Angústia em saber que nunca mais irei tê-la em meus braços, nunca mais terei a chance da acariciar seus cabelos negros ou de beijar seus lábios. Jogo a flor que ela não pegou em uma poça ao meu lado.