*Capítulo 7*

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Acordei no outro dia me sentindo derrotada, parecia que tinha levado uma surra. Me sento e passo a mão no pescoço. Vejo que Carl já está acordado e me observa.

-Da próxima vez, eu durmo no chão.

Ele solta uma risada fraca. E então as memórias de ontem vem a minha mente. A discussão, a raiva, o beijo, a garota. E, instantaneamente, eu me sinto envergonhada.

-Você deveria comer alguma coisa.-ele diz e me ofecere alguns biscoitos. O encaro e solto uma risada.

-Que espécie de café da manhã é esse?

-Foi o melhor que eu pude fazer com os poucos recursos que temos, agora come.

Sei que ele soltou essa só para me provocar contra Negan. Eles odeiam tanto Negan, agem como se o conhecessem. Lá no fundo, ele é tão quebrado quanto o resto de nós. Mata por que tem que matar, sente o peso de cada morte. Aquela pose é apenas para ter respeito, ele é apenas mais uma vítima desse mundo que teve que matar para sobreviver, assim como todos.

Como metade do biscoito e o guardo novamente. Bebo um pouco de água e me levanto. Sinto algo grudento em meu rosto, vou até o pequeno espelho que tinha na sala e vejo meu rosto. Está com respingos de sangue seco dos doentes que matamos ontem.

Minha roupa também tinha sangue, não estava com um cheiro muito bom. Tento limpar, sem sucesso.

Carl observa cada movimento meu com um olhar distante. Eu o encaro de volta com uma sobrancelha arqueada e ficamos por alguns segundos assim.

Para mim poderiam passar horas, eu iria me perder naquele azul de seu olhar com todo o prazer.

-Vamos. Não estamos muito longe.-ele diz quebrando nosso olhar e pegando suas coisas. Coloca o chapéu na cabeça e sua pose muda, como se ele se tornasse outra pessoa com o chapéu. Ele coloca a arma no coldre e vai até a porta.

Eu pego minhas facas e visto minha jaqueta novamente. Pego o taco e o sigo.

O caminho é silencioso. Andávamos entre as árvores e a única sensação que eu tinha era de que estávamos rodando em círculos.

-Carl, tem certeza que estamos no caminho certo? Eu acho que já passamos pela mesma árvore duas vezes.-ele ri um pouco.

-Isso é por que todas as árvores aqui são iguais. Acredite em mim, eu jamais esqueceria para onde estamos indo.

Me calo e apenas o sigo, me sentindo perdida nessa floresta enorme. O sol estava forte, mas as copas das árvores nos protegiam dos fortes raios e o fato de terem muitas árvores torna o lugar mais fresco, o que é muito bom.
Andamos mais um pouco e ele para de supetão, me fazendo esbarrar nele.

-Seu idiota, não pode parar de andar do nada assim.-digo enfurecida, mas ele não revida.

-Chegamos.-ele diz sorrindo lindamente para mim.

Mas a imagem atrás dele era ainda mais linda do que o garoto a minha frente. Uma clareira. Havia um círculo de grama com flores no meio de todas as árvores, as mesmas faziam sombra o que fazia com que o meio recebesse apenas alguns raios de sol, graças às árvores não está quente, pelo contrário, está quase frio. Devemos estar na primavera, o lugar está cheio de flores coloridas e belas. Tão lindo, tão intocado, tanto pelos vivos quanto pelos mortos.

E eu me sinto tendo um dejavu, eu sinto que já estive aqui antes. Mas como eu poderia me esquecer desse paraíso em meio ao inferno. Tenho plena certeza de que meus olhos brilham com tanta beleza natural, percebi que tinha um sorriso no rosto.

-Esse lugar é-não tem palavras suficientes para descrever.-maravilhoso. Como você encontrou?-e então olho para o garoto que se tinha um sorriso no rosto enquanto me olhava. Ele se aproxima de mim e eu não consigo me afastar, eu quero ele perto.

-Você encontrou.

-Mas eu nunca vim aqui antes.

-Você veio. Eu tinha acabado de trazer você para Alexandria, você viu Enid fugindo e foi atrás dela. Escalou os grandes portões de Alexandria sozinha e correu até chegar aqui.-minha cabeça começou a rodar, aquilo era muito informação. Começo a me afastar um pouco dele.-E pela primeira vez em muito tempo, eu vi você dormir, simplesmente deitar aqui e dormir.

-Como você me levou?

-Eu te encontrei e te trouxe de volta para sua família, mesmo depois de você ter me deixado 4 anos atrás.

-Do que você tá falando? Eu não deixei ninguém.

-Sim, você nos deixou. Depois que achou que sua mãe tinha morrido por nossa causa.

-Por que eu pensaria isso? O que vocês fizeram?-meu coração acelerou, ele não tem o direito de falar na minha mãe. Ele começa a falar, mas não consigo ouvir, estou tendo um ataque de pânico.

-Maddison?-ele tenta me tocar, mas eu bato em sua mão.

-Você me trouxe aqui pra tentar trazer minha memória de volta.-eu grito, ele não responde.-Isso é uma tentativa de voltar ao passado, não é?-ele ainda não me responde.

Eu me sento e coloco a mão nos cabelos, tentando me acalmar. Ele senta ao meu lado, o tempo vai passando se arrastando, segundos parecem horas. Espero até que esteja completamente calma.

Ele nunca vai amar quem eu sou agora, não sei por que achei que ele iria se apaixonar por mim de qualquer maneira. Eles nunca vão aceitar.

-Maddy, me desculpa.

-Me desculpa eu. Não posso ser quem você quer que eu seja.-viro e bato o cabo do revólver em sua cabeça, fazendo seu chapéu cair.

Ele apaga, observo seu rosto, cada pequeno detalhe. Não quero esquecer nada. Beijo sua testa e me levanto, com meu taco em mãos e o revólver de volta no coldre. Corro o mais rápido que posso, as vozes em minha mente gritando.

"Mesmo depois de ter me deixado 4 anos atrás"

Aquela frase rodava em minha mente. E quanto mais pensava, menos sentido ela fazia. Meus pulmões começavam a doer, meu coração batia descompassado, a adrenalina tomando conta de todo o meu corpo. Escuto o barulho de um caminhão e algumas vozes, me distraio por dois segundos e é o suficiente para que eu tropece e caia na rua. Para só depois reparar no que estava a minha frente.

-Olá querida, eu estava procurando por você.-Negan diz se aproximando e me puxando pelo braço, colocando-me de pé novamente.

-Eles me levaram, até um lugar chamado Hilltop e então um deles me trouxe até aqui. Eu não faço a menor ideia de onde estou.-ele me segura pelos ombros e me faz virar de costas para ele.

-Bem vinda a Alexandria, minha criança.

Tudo que vejo são os grandes portões e grandes muros de metal. Sinto um calafrio percorrer por todos os meus ossos e me sinto arrepiar. A sensação de que algo ruim iria acontecer tomou conta de mim, e isso me fez sorrir.

Hope || Carl GrimesWhere stories live. Discover now