Capítulo 2

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SÃO PAULO – Verão de 1998.

Estou finalizando o projeto de criação de minha empresa e estou pra lá de ansioso. Conversei mais cedo com meu pai e ele resolveu investir nela. Ouço meu celular tocar (sim... é isso mesmo que vocês leram- kkkk) já existia aparelhos celulares. O meu era um Nokia e tinha o jogo da cobrinha (hahaha). Olho no visor. É minha irmã.

- Oi, Tati!

- E aí, maninho? Tudo bem por com você? – ela pergunta.

- Melhor impossível. – respondo alegremente. – E você sabe o motivo.

Ouço sua risada do outro lado.

- Sei sim! E ele tem nome... – ela faz uma pausa e sua voz fica séria. – A d. Vera está por aí?

Estranho sua pergunta e resolvo verificar. Minha mãe tinha o péssimo hábito de espionar as pessoas. Olhei porta afora do meu quarto e a tranquei por dentro.

- Não. Pode falar sossegada. – por precaução baixei meu tom de voz. Tive um mau pressentimento – O que aconteceu?

Ouço Tatiana respira fundo como se tivesse tomando fôlego.

- Escuta bem o que vou te dizer. Acho que a d. Vera está suspeitando de algo entre você e o Eno, entendeu? Toma cuidado! – ela despeja.

Sinto um calafrio percorrer meu corpo.

- Como assim, Tati? Ela disse algo?

- Ela veio com umas perguntas bestas pro meu lado. Ficou insinuando que você passa muito tempo ao lado do Enzo e que ele não é boa companhia. E você sabe como ela é, né? Listou todos os ‘defeitos’ do Eno. Principalmente você sabe qual. – ela diz.

- Saco!!! Era só o que me faltava. – digo irritado.

- Gabe... Por que você não se assume? Você e o Enzo se amam, então pra que adiar o inevitável? – Tati questiona. Ela sempre foi a favor de eu deixar de ser enrustido, mas ainda não era hora. Eu precisava me estabilizar financeiramente.

- Você sabe que não quero que aconteça dessa forma, Tati. – passo a mão por meus cabelos. – Eu quero me estabilizar primeiro. Estou no projeto final da minha empresa e papai irá financia-la e assim que eu conseguir obter meus lucros, eu assumo tudo, tanto minha homossexualidade quanto meu amor pelo Enzo. Ele sabe disso e concorda. Por isso estamos na moita. E tenho que preparar o terreno aqui em casa, o papai e ela...

- Gabe, por favor!!!! Você sabe que não concordo com isso de jeito nenhum! – Tatiana me corta. – Se eles não aceitarem paciência! Você tem a mim e ao Enzo para te apoiar. E quanto a sua empresa, nossa família tem nome e você consegue um empréstimo rapidinho.

Dou um suspiro resignado. Tatiana sabia como me enfurecer.

- Tati, eu sei como conduzir a minha vida, ok? – elevo mais a voz – Quando chegar o momento eu faço. Pronto. Simples assim.

- Ah é? Simples assim? Você se esconde no armário desde os seus 12 anos quando percebeu que sentia tesão por homens e não por mulheres. Oppsss... Corrigindo, irmãozinho, por um homem em especial. E o nome dele é Enzo! – ela praticamente grita ao telefone.

- Eu não vou discutir com você, ok? Deixa que da minha vida cuido eu. – retruco – quando chegar o momento todos irão saber.

- Quer saber, Gabriel? Acho que esse momento não vai chegar nunca. – ela suspira – E quem vai acabar chorando no final será você. Porque o Enzo vai enjoar de esperar o ‘namorado’ dele tomar coragem e sair do armário.

Meus olhos se enchem de lágrimas. Eu sabia que isso poderia acontecer. Até porque Enzo vem falando de nos assumir publicamente há algum tempo. Mas eu sempre enrolava e conseguia contornar alegando estar trabalhando pelo nosso futuro. Ele sempre entendia. Pelo menos era o que parecia.

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