Tons de Azul

I - More than words.

"E está ficando tarde agora

E nós estamos muito longe de nossas casas

Antes de você ir, antes de você chorar

Tem algo que você deveria saber..."

Novembro, 2012.

Kieran, eu não sei bem como começar essa carta,

Para falar a verdade, eu nunca fui muito bom em encontrar as palavras certas para me expressar, e é por isso que escolhi me refugiar entre esses papéis e canetas, onde sinto que posso transbordar a vontade, sem temer os olhares de julgamento.

Se me perguntassem, eu não saberia dizer quando que isso começou. Quando que eu comecei a ver seu rosto em meus sonhos ou a lembrar de você em cada trecho de música que escuto.

Talvez isso esteja acontecendo deste o momento em que você resolveu que seria uma ótima idéia dormir debaixo da minha cama, deste quando, por algum motivo desconhecido, me ensinou a organizar os livros da biblioteca na ordem de cores ou então quando deitamos aquela noite, sob o manto noturno e as estrelas, e ficamos horas e horas conversando sobre o universo e dividindo segredos, ao passo em que seus cabelos se misturavam ao céu.

E talvez, desde antes, quando coloquei os olhos em você pela primeira vez no salão dos acordos, e Cristina me pediu com todo o coração para eu protegê-lo. Naquele momento, naquele maldito momento, eu não imaginaria que aquele principezinho fada, de cabelos azuis e olhos que refletiam as estrelas seria capaz de deixar um caçador de sombras, um centurião como eu, tão exposto e vulnerável.

Me lembro apenas de agarrar sua mão gélida e arrastá-lo para longe daquele caos, com a certeza de que seria capaz de fincar uma lâmina em qualquer um que ousasse tocá-lo.

E sabe de uma coisa?

Isso me assusta, Kier, me quebra, me dilacera, dia após dia. Porque, em toda a minha vida, nunca pensei que pudesse querer tanto alguém ao ponto de sentir que meu coração está sendo esmagado por uma mão de gelo a todo segundo.

Eu mal posso respirar quando estou ao seu lado.

E há tanta beleza em você, deste quando está vestido com moralidade a quando está despido de corpo e alma. Você é liberdade, intensidade e arte.

Às vezes tenho a sensação de que estive perdido por tempo demais, entre um abismo e outro. Então você me encontrou.

E é uma pena que você nunca leia estas palavras, que estas cartas nunca chegue até você, pois ao contrário do que muitos podem pensar, nunca fui exatamente um exemplo de coragem, pelo menos não fora do campo de batalha.

Então, para você, fonte da minha inspiração e dono dos olhos de quem enfrenta batalhas intermináveis, dedico todas as minhas palavras não ditas.

Diego.