Na maioria dos lançamentos musicais de Gale Langbroek, ele preferia um ambiente reservado e uma comemoração discreta.
Com uma música boa de fundo, os seus amigos mais próximos e a sua penthouse fora da cidade de Nova Iorque, em um encontro casual que ia das oito da noite até a manhã seguinte, quando as bebidas já estão perto do fim e o sol já brilhava no céu anunciando o dia que estava marcado no calendário para seu lançamento.
Mas ele também era fã de um grande evento, que contava com os nomes mais famosos da atualidade na lista de convidados e um espaço para dança que nunca ficava vazio, com um estoque de bebida maior do que ele podia solicitar em uma folha A4.
Aquele era um grande evento. Um grande evento para um grande dia.
Sabia que, assim que deixasse o quarto e surgisse no salão principal, não conseguiria dar dez passos sem encontrar um grande nome do pop atual ou uma modelo de capa de revista. Talvez uns jogadores de futebol e, muito provavelmente, um ator ou atriz em ascensão. Todos eles tinham sido premiados com um convite entregue um mês antes pelo correio, para a festa de estreia oficial de Masks. O segundo álbum de Gale Langbroek, que seria disponibilizado nas plataformas digitais assim que o relógio marcasse meia noite.
E aí estaria feito.
Das dezoito canções disponíveis no álbum, alternadas entre grandes feats e uma ou outra que ele assumia toda a responsabilidade, estavam as letras da sua vida. Uma por uma, havia um significado grande por trás delas.
As pessoas iriam ouvir suas inseguranças, seu começo difícil no mundo da música mesmo vindo de uma família com boas condições da Noruega, do seu apego a sua família e, principalmente, as pessoas iriam ouvir de Jo.
Iriam ouvir de Sky também, mas principalmente de Jo. Sua grande história de amor, que tinha deixado marcas profundas no seu coração que, três anos depois, se tornariam letras belíssimas.
Já era acostumado, desde o primeiro single que lançou, a escrever suas próprias letras em um caderno surrado que levava de um lado para o outro. Colocava um pouco de sua vivência nas estrofes que montava, mas também usava a realidade alternativa para escrever sobre um coração quebrado ou uma cura regada a álcool.
Mas foram as noites em claro que o fizeram escrever todas as músicas daquele álbum, jogado no sofá do estúdio ou deitado na sua cama king-size que se parecia tão vazia nos dias de frio, dando ritmo às lembranças que nunca tinham deixado sua memória.
Escrevera porque sentiu que era a hora delas o deixarem dormir em paz, sem pesar uma tonelada em seus ombros ou sussurrar frases prontas no seu ouvido toda vez que ele achava que aquilo não mais o afetava.
Até se dar conta, na sua insônia que parecia programada, que afetava.
— Mais cinco minutos e o atraso do homenageado da noite deixa de ser aceitável.
A voz conhecida preencheu a sala, retirando um pequeno sorriso do canto dos lábios de Gale. Conseguia ouvir o barulho do salto alto aumentar de intensidade, mas manteve a cabeça baixa até que o som cessasse, levantando os olhos para seu reflexo no espelho a sua frente.
A máscara dourada, que cobria apenas o lado esquerdo da sua face, tinha sido feita especialmente para ele. O desenho de metade da boca, o contorno das asas do nariz e o espaço reservado para sua mandíbula bem marcada foram feitos diretamente de um molde retirado da face do DJ, esculpido algumas semanas antes.
Em um primeiro momento, Gale estranhou que metade do seu rosto estivesse escondido por um acessório que refletia luz de todas as direções que recebia. Passou as mãos nos seus cachos loiros bagunçados antes de se contentar com a maneira que eles caiam em sua testa, começando a se acostumar com a imagem que se formava no espelho.
Ele podia estar usando uma máscara para aquele evento, mas talvez aquele fosse o dia que ele menos precisou se esconder atrás de um adereço.
— Como se sente? — Sky perguntou, fazendo-o focar seu olhar na imagem da mulher refletida no espelho logo atrás do seu ombro. — Suas mãos já começaram a suar e você tem a sensação de que seus pulmões estão para colapsar?
Gale riu alto, reconhecendo aquela frase como uma tentativa frustrada de Skylar Howard de retirar a tensão daquele grande evento.
— Você não está ajudando assim — Gale respondeu em um murmúrio antes de se virar em direção a ela, arrumando a máscara preta que cobria seus olhos. — Mas sim, para as duas perguntas.
A ideia da festa de máscaras tinha sido de Ben, assim que Gale comentou com ele, no meio de um jantar no apartamento de Sky, que precisava de uma ajuda para sua festa de lançamento que aconteceria no mês seguinte. No momento que o norueguês mencionou que seu novo CD levaria o título de 'Masks' Benjamin arqueou as sobrancelhas, sugerindo um baile de máscaras para o evento.
Ele fazia o planejamento de um evento parecer algo simples com suas ideias que demoravam menos de trinta segundos para serem formadas e sua visão tridimensional que fazia sentido apenas para ele. As anotações mentais começaram desde aquele momento e prosseguiram até o momento que tudo estivesse perfeito.
E nada mais podia representar melhor aquele lançamento do que todos os convidados com máscaras, que eram um acessório obrigatório até a meia-noite.
Assim que o ponteiro menor do relógio parasse em cima do doze e as badaladas fossem escutadas, todas as máscaras deveriam cair junto com o lançamento do CD de Gale Langbroek. Junto com a máscara que ele usava e nunca tinha retirado antes.
— Você não precisa ficar nervoso, Gale — ela continuou, oferecendo um sorriso de conforto para ele. — O lançamento já está sendo um sucesso e eu mal posso esperar pelo momento que suas novas músicas tocarão insistentemente em todas as rádios do país.
Langbroek concordou com um pequeno aceno, se aproximando de Sky para deixar um beijo demorado na sua testa em forma de agradecimento.
— Não é exatamente com o número nos charts que eu estou me importando — sussurrou para a loira, engolindo em seco. — Eu não sei se lançar esse CD vai me livrar das memórias antigas ou apenas trazê-las de volta. E eu não sei o que fazer se elas voltarem.
Sky pareceu pensar por um segundo, colocando as duas mãos no rosto de Gale e oferecendo um pequeno sorriso para ele. Conseguia enxergar, dentro dos seus olhos incrivelmente azuis, o medo. Aquele que ele escondia como podia, por trás de uma pose invencível e impenetrável que costumava manter as pessoas longe.
A mesmo que ele usou para tentar afastá-la logo depois que Jo, sua ex-namorada, tinha tirado a própria vida.
— Elas nunca vão embora, Gale — murmurou, apertando os lábios em uma fina linha. — E quando elas voltarem, elas não precisam te machucar. Você não é a mesma pessoa que era cinco anos atrás.
— Você também não.
— Não sou — concordou, dando de ombros. — Mas eu continuo aqui, sempre que você precisar.
Gale sorriu sem mostrar os dentes assim que Sky ficou em silêncio, aproveitando o momento para passar as mãos pela cintura da mulher e puxá-la para um abraço apertado.
— Obrigado por isso — respondeu baixinho, fazendo-a sorrir. — Por hoje. E por antes também.
Skylar fechou os olhos apertados assim que sentiu que eles tinham enchido de lágrimas, tentando controlar suas emoções que estavam completamente à flor da pele nos últimos dias. Não sabia se era pela próxima da famosa TPM, das brigas com Ben que aconteciam vez ou outra, pela sensação estranha que tinha em seu estômago desde que tinha acordado ou por ter, nos últimos dias, pensado tantas vezes em tudo o que tinha passado com Gale.