ERAM QUASE 22h40 da noite quando a campainha da casa dos Campbell tocou, indicando um visita inesperada. Os seis amigos estavam sentados em sofás e poltronas ao redor da televisão assistindo a um filme de comédia brasileira: as três mulheres que disputavam o mesmo homem estavam brigando a beira da piscina com a branquela baixinha levando socos cenográficos no rosto. Drew tinha a cabeça de Natalie em um de seus ombros quando a campainha soou, fazendo todos se sobressaltarem, assustados.
Todos estavam de pé, prontos para correr ou se defender de algum ataque. Estavam em maioria, é claro que se o assassino quisesse alguma coisa ali seria subjugado rapidamente. Drew Campbell seguiu até a porta de entrada com passos leves, tentando fazer o mínimo de barulho no assoalho de madeira. Logo atrás dele vinha Sarah, carregando um vaso cilíndrico que cabia perfeitamente em sua mão. Zoey e Robbie vinham logo atrás, ambos ladeando a porta para pular de surpresa e levar o assassino ao chão se fosse o caso. Natalie tinha uma faca de cozinha nas mãos trêmulas.
A campainha soou novamente, tirando Drew de seu torpor e fazendo-o vencer o restante da distância até a porta. Desativou o alarme, girou a chave e retirou a corrente da porta. Abriu apenas uma fresta para observar primeiro do lado de fora. Quem viu parado ali, fez com que Drew franzisse a testa.
— Natalie, guarde isso — disse Drew, indicando a faca com um aceno de cabeça. Olhou para Sarah. — Isso também. Ela pode acabar se assustando.
— Quem é? — Perguntou Zoey em um sussurro bem audível.
Drew não respondeu. Abriu a porta, revelando Patrícia parada ali fora ao lado de seu marido, Adrian Belini. O advogado deles, Charles, também estava presente. Alguns passos atrás, estava Esther Trant e Henry.
Seus amigos se aglomeraram com ele junto à porta para ver quem estava ali. Zoey deu uma risadinha e Sarah bufou e saiu dali pisando firme, voltando para o filme na sala de estar.
— Ah, olá — disse Drew, estranhando a aparição repentina de todo aquele pessoal. — O que posso fazer por toda essa gente, detetive Trant? — Perguntou Drew lançando para a mulher um olhar duro. Se ela o tivesse avisado daquilo teria sido bem melhor. Ser pego de surpresa daquele jeito o deixava sem qualquer tipo de possibilidade de escape.
Ao invés de Esther, foi Patrícia quem respondeu, dando um passo para frente. — Sinto incomodá-lo a essa hora, mas não pude falar com você mais cedo... eu estava lá, sabe? Tive de ir dizer adeus — a mulher disse, os cabelos presos em um rabo de cavalo apertado. O rosto dela estava pálido e sem qualquer brilho, ali havia apenas tristeza.
Drew sabia o que aquela mulher era. Era uma das assassinas do primeiro maldito Massacre de Broken Arrow, que acabou dando ligação a um segundo massacre. Elizabeth\Patrícia Thompsom não havia matado ninguém naquela escola, mas isso não bastava para desaparecer com sua culpa. Olhando para ela ali parada naquele ar frio da noite, Drew não conseguiu deixar de sentir pena dela.
Deu um passo para o lado, abrindo mais a porta da casa de sua infância. — Por favor. Entre.
Natalie e Robbie pareceram surpresos,mas deram espaço para que o pessoal do lado de fora entrasse. Patrícia olhou para o rosto de Robbie e sorriu para ele. Robbie não retribuiu o sorriso. Nem Natalie, quando a mulher passou por ela.
Drew trincou o maxilar ao fechar a porta e encostar a testa contra a madeira. Precisava se controlar e respirar fundo antes de ter aquela conversa com Patrícia. Seu pai estava morto e ela estava ali para lhe dar os pêsames. Não colocaria aquela mulher para fora de sua casa. Robbie ficou para trás, dizendo que precisava ir ao banheiro e iria aproveitar para se deitar. Natalie e Zoey resolveram acompanhá-lo para ouvir o que Patrícia queria dizer. Os convidados seguiram para a cozinha. Drew indicou uma das cadeiras ao redor da mesa. Patrícia, Adrian e o advogado deles, Charles se sentaram.
— Gostariam de beber alguma coisa? — Drew perguntou, educado.
Patrícia balançou a cabeça em negativa. — Não, obrigada. Mas prometo que serei breve.
Ninguém falou nada durante vários segundos, até que Drew ficou impaciente e se moveu para pegar uma garrafa d'água que tinha comprado. Abriu a garrafa e bebeu um longo gole antes de voltar para perto de Patrícia e se sentar ao lado dela. A mulher olhava para o lado de fora da cozinha, para o quintal. Um pequeno sorriso no canto da boca.
— Me lembro de vir aqui quando era pequena. Seu pai sempre foi bom e gentil comigo, diferente das outras crianças do bairro. Ele me defendia. Almoçava comigo na escola quando ninguém queria. Ele era o único que não se importava em ter uma esquizofrênica como amiga. John foi o melhor amigo que já tive e eu sinto muito por ele. Sinto por sua mãe e por seus amigos… Sinto por você e por sua irmã — ela disse,ainda encarando o quintal bem cuidado da casa.
— Teria sido legal conhecê-la naquela época — disse Drew, o coração apertado pela mulher a sua frente.
Ela se virou para Drew, agarrando uma das mãos dele. Patrícia estava trêmula. — Por favor. Me perdoe por tudo o que vem passado. Perdoe-me… eu gostaria de poder voltar no tempo e mudar aquela noite. A noite que estragou a vida de muita gente nessa cidade. Mas eu não posso voltar, não é? Tenho que viver com essa dor.
— Assim como eu — Drew apertou a mão da mulher para demonstrar um pouco de solidariedade.
Patrícia sorriu para Drew por entre lágrimas que despencavam de seus olhos. Ela balançou a cabeça. — A dor nunca vai embora, meu pequeno. Apenas fica mais suportável com o tempo.
Os dois se entreolharam por alguns instantes até que o marido de Patrícia disse, com uma expressão de amargura no rosto barbeado. — Temos que ir Patrícia. Precisamos voltar a Tulsa.
A mulher assentiu para o marido por sobre o ombro e se virou para Drew, os olhos ainda lacrimejantes. — Meu pai me disse quando eu era muito pequenininha: Querida, olhe para os dois lados antes de atravessar a rua. Leve isso para a sua vida, Drew. Se não prestar atenção um dos lados acaba revelando um carro em alta velocidade.
Drew estremeceu. Ela parecia tão lúcida naquele momento que Drew sentiu um tanto de medo. Patrícia apertou sua mão novamente, um sorriso curvando seus lábios e se levantando.
— Obrigada por ter me recebido.
— Não foi nenhum problema — disse Drew, acompanhando o pessoal até a porta. Abriu-a para a noite. Patrícia beijou o rosto de Drew. Acenou para Natty e Zoey e saiu. Seguida pelo marido e pelo advogado. Esther e Henry ficaram para trás tempo suficiente para dizer.
— Vamos ficar no carro, observando — disse Esther, lançou a Drew seu olhar duro. — Portas e janelas fechadas e trancadas. Alarme ligado.
— Pode deixar — respondeu Drew, erguendo o polegar. — Mas vocês têm certeza de que querem passar a noite no carro? Tem um quarto de hóspedes lá em cima com duas camas extras — disse Drew, apontando para a escada.
Esther e Henry declinaram da oferta dizendo que teriam que escoltar o casal e o advogado até Tulsa primeiro e que eles não queriam acordar ninguém quando estivessem de volta e por isso ficariam dentro do carro. Drew apenas aceitou, fechando e trancando a porta assim que os policiais deram as costas para eles. Passou a correntezinha no trinco da porta, girou a chave e ativou o alarme novamente.
— Está tudo bem? — Natty perguntou para ele quando, enfim, se deitaram em sua antiga cama no quarto onde dormira durante toda sua vida.
— Sim. Fico feliz por ter falado com Patrícia. Acho que isso marca um novo começo na minha vida — disse Drew, puxando Natty para deitar a cabeça em seu peito. Acariciou os cabelos ruivos e ondulados de Natalie.
— Ela realmente parecia triste — Natalie olhou para cima,encarando os olhos de Drew. — Mas que história de olhar para os dois lados era aquela? Ela soou lúcida quando disse aquilo.
— Eu também achei isso. Não faço ideia do que ela quis dizer. Eu senti que ela estava se referindo ao assassino…
— Será?
— Estou começando a ter certeza disso — disse Drew, beijando a ponta do nariz da garota. — Vamos dormir. Amanhã temos de acordar cedo.
Aquela noite foi tranquila. Drew e Natty dormiram um nos braços do outro. Em nenhum momento da noite qualquer um deles acordou com mensagens ameaçadoras no celular ou com gritos de terror. Dormiram em paz.
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Escuridão - Livro 3 - Trilogia do Assassino
Mystery / ThrillerDrew Campbell tenta se situar depois de ter perdido a memória. Não lembra de nada e as memórias do assassinato de seus amigos foram completamente esquecidas e substituídas por boas lembranças. Depois que o corpo de um de seus amigos é jogado...