O Crisântemo e o Centauro
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O crisântemo fulgurava acima de sua cabeça, não era uma visão que dava boas lembranças ao rei. Remi lembrou-se disso no momento que todos ficaram de pé para receber a ilustre e mal-humorada visita de Roland Arthuro. Este entrou na sala dos conselheiros trajando um gibão negro bordado minuciosamente com fios negros e ônix, uma calça marrom de um bom tecido, um broche em formato de centauro talhado em ouro prendia a veste. Decidido e arrogante com a mão no cabo da Viúva Negra, caminhou por entre seus senhores, deixando o cheiro de especiarias orientais e a colônia amadeirada invadir o salão.Apesar de ser um belo jovem, Roland era um homem instável. Vigoroso e hostil, olhava profundamente com seus olhos felinos, sentindo no ar o menor cheiro de maquinação que sua mente continuava a produzir. Possuía uma barba feroz cor de fogo herdados dos Durmandon, família de sua mãe. Os belos olhos azuis e o gênio inconstante ganhara dos Kentor, agravados pelo pai Agnor. A cada ano que passava, o rei se tornava mais intransigente e perigoso. Roland Arthuro Kentor II, o rei de Noialfere, filho de Agnon e de Artemísia, irmão da falecida Carle, a jóia do reino. Com a morte prematura da princesa, seu esposo Lyke, jogou-se nas águas do mar Epogeu, em desespero da morte da amada. Sem nenhum de seu sangue para continuar a linhagem, Roland ascendeu ao trono, dando início a uma nova era. Ou assim o pai pensara.
— Deveríamos fazer um torneio, aqui na capital ou em algum lugar, quem sabe em Montrel ou na Esperança para comemorar o meu dia.
— Vossa Graça, seria perfeito um torneio em Bosque Sombrio, ou quem sabe em Pedra do Mago, para que todos pudessem desfrutar do doce vinho dessas terras. — Remi falava mansamente perante a todos, mas com especial cautela perto do rei.Karl Durmandon palpitou um torneio em Constantina, haveria fartura para todos e seriam muito bem recebidos por Lorde Arthur Durmandon, mas Rolland não pareceu gostar da ideia. A inimizade entre o rei e o senhor seu tio era longa e conhecida. Os Durmandons faziam parte da linhagem da coroa, então o rei acreditava piamente nas conspirações que poderiam vir dos senhores de Constantina. Na Revolta Armada, os senhores Durmandon e Greenstone pouparam seus exércitos, enquanto os Kentor lutavam e pereciam na Gárgula. Algo que Roland, ainda escudeiro de seu tio, nunca esqueceu. Arthur era uma homem teimoso e nervos de aço, guerreiro destemido e com um valor real que era conhecido em Noialfere. Mas ao se manter neutro na Revolta fez com que criasse uma inimizade com o esposo de sua irmã.
— A Constantina é demasiado longe para o povo de Bosque Sombrio e também do leste e do sul.Karl soltou uma gargalhada — O seu velho amigo Thomas não viria ao torneio, prefere ficar entocado no seu país gélido a mil milhas de distância — este lançou um olhar para Remi — Talvez um dia queira morar no sul, Lorde Remi, combina com você e mil milhas de distância faria muito bem entre nós. Remi lançou um olhar ressentido ao jovem Karl, Remi Karkazol, o senhor de Stratford costumava não se importar com os comentários irônicos de Durmandon, mas a cada dia que passa, a insolência se tornava demais para um homem humilde como ele.— O conselheiro do rei está em visita ao leste, seria bom que vários senhores viessem ao torneio e gerassem lucro para a cidade, um torneio em Bosque Sombrio seria mais adequado. A questão seria, os nossos baús pode arcar com o gasto?
Joseph Yakarezik notou os olhos furiosos de Remi em cima de si, pigarreou e falou com eloquência.
— Sim. O baú pode arcar e concordo, um torneio em Bosque Sombrio poderia ser bom para a cidade. Os mercados gerariam mais e lucrariam também. Os bordéis ficariam cheios, assim como as estalagens. Poderíamos também aumentar o imposto sobre a entrada do povo na cidade, um torneio na capital do reino vai atrair a atenção de cavalheiros andantes, pequenos senhores. Mas claro que algum que algum empréstimo para as bolsas dos campeões, seria viável para a coroa, quanto mais investirmos nas bolsas, mais competidores virão.Remi se ajeitou na cadeira e Roland achou a ideia plausível, então naquela tarde seria organizado um torneio em homenagem ao nascimento do rei Roland..
— Deixarei a tarefa para Joseph e Karl. Remi poderia conversar com Lyke Greenstone e encomendar novas galés para a coroa. Queria uma para mim, Cabo da Sereia está velha demais, era do meu pai.
— Como ordena, Vossa Majestade.— Remi pensou com seus botões, que aquela seria a hora certa de inculcar algumas coisas na cabeça do jovem rei.
— Majestade, já que estamos a fazer esse torneio, talvez devesse reconsiderar a oferta de Lorde Yakarezik. Joseph tentou manter a compostura diante de seus companheiros, mas era visível as gotículas que se formavam em sua testa.
— Ah sim. Vossa Majestade, Duchiana é uma bela donzela, creio que ela o faria muito feliz.
— Duchiana Blackhill...— o rei pareceu saborear o nome que estava na ponta da língua. — Veremos Joseph, veremos. Karl convidou Remi para tomar um bom vinho e apreciar a galé Louisiana, com suas belíssimas cortesãs, famosas pelas peles beijadas pelos sol, os cabelos encaracolados e cheios. Remi se sentia muito bem disposto a estar na companhia de belas damas, inteligentes parceiras de cartas, ou da delicada companhia de Catarina, mas aquela tarde deixou-se ficar para trás por um breve momento. Pode ver com muita clareza o efeito que sua sutil sugestão ao rei havia causado em Joseph.
— Vê como são as coisas, meu caro amigo, sempre estás a debochar de mim, pelo meu baixo nascimento, de onde eu vim e quais caminhos eu trilhei para chegar em tal privilegiada posição.— Os olhos negros de Remi pareciam lascas de ônix, olhava com muita atenção o seu adversário que se descompunha a medida que cada palavra lhe atingia. Os cabelos loiros, antes bem penteados, começaram a cair pelo rosto, transformando-o num homem muito mais velho do que aparentava ser.
— Espero que os deuses que tanto venera, ajude-o, que o rei favoreça Duchiana, e mais do que isso, que ela lhe agrade e lhe dê herdeiros rosados. Senão... — Remi sorriu com um verdadeiro mestre das trapaças — o rei certamente gostaria de enfeitar as muralhas desse castelo, com a cabeça do homem que trouxe desagrado à sua morada.Remi deixou Joseph na sala, boquiaberto e temeroso. Foram muitas luas escutando os risinhos abafados, os sorrisos maliciosos e a insolência do Senhor de Monte Sereno. Havia tempo que não sentira tanta satisfação na vida, o pequeno gosto da vitória. Caminhava pelos paralelepípedos, desviando das crianças famintas e das prostitutas locais que gritavam para seus potenciais clientes. Ia descendo a rua principal que desembocava no Largo da Viúva, ali o cheiro de pão pairava no ar, as crianças correndo pela rua e mães rosadas com barrigas enormes. Os vendedores esperavam na porta ao lado dos barris de cerveja e vinho, oferecendo pão e outras gostosuras aos nobres que vinham do cais, com suas sedas esvoaçantes e colares vibrantes.
— É uma bela tarde, senhor Karkazol, não acha? — o gondoleiro sorria para Remi, um sorriso fácil que faria qualquer donzela cair em seus braços. Juan ajudou o lorde de Stratford a entrar em sua gôndola. Esse era o único meio de chegar até Louisiana, pagar o tributo para o gondoleiro e então partir numa jornada até o paraíso na mar. Os remos batiam na água numa dança calma com o mar, uma pequena bruna se formava e logo dispersava. Remi olhava para o céu e via as nuvens correrem pelo céu, formando imagens que ele costumava adivinhar quando era um garoto simples. Incrivelmente, nunca lembrava de sorrir quando mais novo, mas hoje era realmente uma bela tarde.
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Uma Canção de Lobos e Centauros
FantasyEnquanto seu coração rui pela dor da separação, Ginevra entra a serviço da Senhora Danielle, - uma viúva que governa com mãos de ferro suas terras - obrigada pelo Protetor de Montrel, afim de afastá-la de William, seu herdeiro e detentor do amor de...