Ela estava andando a sua frente em meio ao pomar. Andando não, flutuando. Lauren ficou parada onde estava, impressionada com o que vira.
A moça deve tê-la ouvido se aproximando porque, esbelta e ágil, virou-se para encará-la. Seu pequeno rosto era tão delicado e extravagante que Lauren perguntava a si própria se estava tendo uma alucinação. Pequena e graciosa, estava em pé rodeada de ranúnculos na altura do tornozelo, semelhante a uma ilustração medieval.
Lauren não costumava ter tanta imaginação, e tentou entender por que tivera tal impressão. Fora sua saia longa que se abria abaixo do joelho, ou o top creme de mangas compridas que delineava seu corpo esguio como se fosse uma segunda pele.
Ou talvez fosse o cabelo escuro e cacheado vindo de um laço que ficava preso com...
Ela havia prendido seu cabelo, na altura da nuca de seu longo pescoço, com um cordão de folhas, heras ou algo parecido. Enlaçado com flores de verdade. Esquisito.
Depois de ter vivido a experiência desagradável de um arrombamento e dois assaltos - um dos quais envolvera uma mulher que chamara sua atenção com uma história chorosa e plausível - Lauren aprendera a ficar alerta ao primeiro sinal da presença de estranhos itinerantes.
- Você está na minha terra! - resmungou Lauren.
Sua expressão plácida não se alterou, a moça permaneceu muito calma e tranquila.
Enquanto seguia em seu rumo, uma pequena mão se estendeu, toda humilde, para cumprimentar a empresaria.
- Sou Camila Cabello. Como vai você?
Era uma voz gentil e suave, mas antes de saber disso, já havia pego seus dedos delicados e agitados, e resmungava menos impaciente.
- Lauren Jauregui.
Será que ela notara como estava nervosa? Pensou Camila.
- Você disse que esta era a sua ilha - disse com a voz rouca e o rosto perplexo.
- Aparentemente é - respondeu Lauren.
Ela ponderou e resolveu que seria melhor lidar com a loura. A mulher devia ser o que dessa morena estonteante? Melhor esperar para conversar com ela.
- Você está sozinha? - perguntou zangada os olhos verdes brilhando.
- Sim. Só eu - respondeu ela calmamente.
- O que você está fazendo aqui? - perguntou.
- Vim falar com a loira que vinha trazendo coisas pra casa - anunciou Camila com absoluta sinceridade.
- Veio?
Camila continuou a fitá-la com uma expressão amável e reservada.
- Posso vê-la? Ela está em casa?
- Não.
- Creio então que vou voltar mais tarde quando ela estiver em casa - sugeriu em tom austero.
- Não faça isso. Espere! - ouviu enquanto se virava para partir.
Por uma fração de segundo, achou que o olhar duro da executiva havia ficado mais suave.
- Você vai ter que falar comigo - disse Lauren repentinamente. - Vamos ver se tem uma desculpa convincente para estar aqui.
- É claro que tenho! - respondeu Camila surpresa, sem se enervar com a sua indelicadeza.
- Neste caso, não vou ficar aqui em pé, afundado no estéreo até o joelho - exagerou. - Vamos entrar.
Sem esperar a resposta para a sua ordem arrogante, Lauren Jauregui saiu com passos largos pela trilha, enquanto seus sapatos caros atolavam-se na lama.
Camila hesitou, mas depois, antes que pudesse perceber, a estava seguindo. Ela se sentia quase como se estivesse sendo atraída por um ímã. Enquanto caminhava e se maravilhava com a autoridade atraente da mulher.
Lauren era, claramente, uma daquelas que imaginava que todo mundo estava tentando lhe passar a perna. Ela olhara para Camila como se ela estivesse planejando algo demoníaco.
Ela observava ansiosa o corpo tenso da executiva, enquanto seguia rapidamente na frente, vociferando ordens para alguém em seu celular.
Com tristeza no coração, ela corria atrás dela pelo lindo jardim selvagem de Edith, de Lauren!
Ela se lamentava pelo que ainda estava para acontecer com a ilha.
Pombos-torcazes arrulhavam amorosamente de uma velha e retorcida amoreira e às vezes ela escutava um barulho vindo de dentro d'água, provocado por um pato silvestre que cortejava apaixonadamente uma fêmea.
Ela e Lauren seguiam pela trilha de rododendros. Lá, os troncos cascudos formavam arcos sobre suas cabeças.
O perfume dos lírios do vale abaixo fez com que ela prendesse a respiração em êxtase.
Ainda prendendo a respiração, ela esperou até Lauren alcançar a clareira.
- Venda - ela estava instruindo rudemente algum subordinado infeliz, e sua mão massageava distraidamente, a nuca.
Bárbara! Enfurecida pela sua insensibilidade, ela passou a evitá-la com firmeza. Elas viviam em planetas diferentes. Esta poderia ser a última vez em que gozaria da visão comovente e familiar que arrebatava seus olhos, e queria saboreá-la ao máximo.
Arrebatada, ela olhou na direção de Lauren para ver sua reação, esperando que todo aquele esplendor tivesse mexido com ela. Estava com a atenção voltada para discar um novo número em seu maldito celular.
- Tim? Quanto àqueles fundos de cobertura - resmungou.
Ela não vira nada. Alheia a tudo, exceto à opressiva máquina empresarial. Estava muito ocupada fechando um acordo para registrar as fragrâncias que se misturavam no meio da brisa suave. Pensou Camila. O paraíso de Edith era totalmente desprezado pela executiva. Camila olhava com tristeza enquanto ela seguia em sua frente, discutindo títulos de alta fidelidade, em vez de despertar para as maravilhas do mundo natural ao redor.
Lauren e a loira, obviamente, eram pessoas com valores e prioridades diferentes.
Camila sabia instintivamente que elas, definitivamente, não aprovariam o jeito que escolheu para ganhar a vida.
Desolada, teria que aceitar que, provavelmente, seria expulsa dali. Seria obrigada a vagar pelos rios e canais da Inglaterra até encontrar um ancoradouro vago pelo qual pudesse pagar. E então teria que montar toda a sua clientela novamente.
Ela se arrastou silenciosamente na direção da casa que amava, angustiada por pensar que não só iria deixar a ilha e todos os seus amigos, como por perceber que as mulheres ignorariam seus encantos.
- Quantas chaves! - Lauren revirava o enorme molho que trazia nas mãos, tentando descobrir qual delas abriria a porta principal.
- É uma parecida com esta - disse Camila paciente.
- Você tem uma chave? - vociferou, consternada, como se ela tivesse cometido um crime. Ou estivesse prestes a cometê-lo.
- Eu vinha sempre aqui para visitar a antiga dona - explicou a moça. - Ela me deu esta aqui para que eu pudesse entrar.
- Você entrou aqui depois que ela morreu? - ousou perguntar a executiva.
- Você está supondo que eu entrei aqui para roubar alguma coisa?